Contra-Ataque: Páginas heroicas, mas não tão imortais assim

Sérgio Monteiro

 

 

Páginas heroicas, mas não tão imortais assim

 

Quando entrar no gramado do Mineirão, sábado, para a partida diante do Avaí, pela 12ª rodada da Série B, o Cruzeiro estará escrevendo mais uma página desse triste capítulo de sua história, que teve início em 2019 e parece estar longe do fim. O duelo com os catarinenses será o 50º da Raposa pela Série B do Brasileirão, algo que até bem pouco tempo atrás parecia algo inimaginável de acontecer. E o que é pior: os números não são nada satisfatórios.

Em 49 jogos pela segunda divisão do futebol nacional, o Cruzeiro venceu 16, empatou 18 e perdeu 15. Um pífio aproveitamento de 44,89%, que em momento algum lhe permitiu sonhar com o acesso. Pelo contrário: o time mineiro luta, desde o início da temporada 2020, para alcançar uma vaga na primeira página da classificação, ou seja, aparecer entre os dez primeiros. Na temporada passada, encerrou a sua participação em 11º lugar, 12 pontos atrás do quarto colocado. Este ano, ocupa, no momento, a 14ª posição, já distante oito pontos do G-4. São 55 gols marcados e 51 gols sofridos nessas 49 partidas.

Os números não condizem com a tradição do clube, mas retratam o momento vivido pela Raposa. Em crise política e administrativa desde meados da temporada 2019, quando começaram a aparecer as primeiras denúncias que desencadearam no rebaixamento do time para a segunda divisão, o Cruzeiro vive também a sua pior fase dentro de campo. Já são sete técnicos, contando com o interino Célio Lúcio, desde a estreia na Série B, em 08 de agosto de 2020 – menos de um ano atrás. Um cenário que assusta, entristece e envergonha o seu torcedor, dividido entre a descrença e a esperança em dias melhores.

Não bastassem os números, o que mais chama a atenção é o fato de não haver luz no fim do túnel. A crise chegou, tomou conta e parece permanecer de mãos dadas com a Raposa, que não demonstra a menor capacidade de reação. Empresários como Vittorio Medioli e Pedro Lourenço, que poderiam ser a esperança do torcedor, desistiram diante de uma administração confusa e pouco comprometida com a causa. O presidente Sérgio Santos Rodrigues, que começa a perder força, parece muito mais preocupado com o seu ego do que realmente com o resgate da instituição e do time de futebol. Não à toa, existe um movimento cada dia mais forte em torno de sua renúncia.

Para tristeza dos torcedores, acostumados com grandes conquistas, a atual diretoria – que não tem culpa pelo fundo do poço em que colocaram o Cruzeiro – não apresenta nenhuma solução plausível para que a crise seja minimizada. Enquanto isso, as ações na Justiça não cessam e as punições na Fifa vão se acumulando, em uma ameaça real de rebaixamento para a Série C ou mesmo a Série D do Brasileirão. Um pesadelo para quem, na década passada, erguia taças de campeão nacional, uma atrás da outra.

A aprovação do projeto de lei que permite aos clubes brasileiros se transformarem em empresas, no Senado e na Câmara dos Deputados, pode ser essa luz no fim do túnel. Mas resta saber se haverá tempo, já que é um processo demorado. A Lei, que ainda será sancionada pelo Presidente da República, não mudará o cenário cruzeirense em um piscar de olhos. E é preciso o clube ter fôlego para resistir até lá. Enquanto isso, a sua torcida – patrimônio maior do clube – segue o seu calvário, sem saber como será o dia de amanhã.

Os capítulos recentes vêm manchando a história azul e transformando a vida de seus torcedores em um verdadeiro tormento. A demora na reação traz consequências graves para a Raposa e o tempo é um adversário perigoso. A relação com a torcida vai esfriando e as receitas – que já andam bem reduzidas – vão diminuindo cada vez mais. Nesse jogo, não tem prorrogação. Ou o clube reage de imediato, ou verá as páginas heroicas de sua história cada vez mais distantes. E o que é pior: não tão imortais assim.

 

Imagem

 

Crédito – Igor Sales/Cruzeiro

Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Aceitar Saiba Mais