Contra-Ataque: Obrigado, Riascos, por partir para a bola…
Sérgio Monteiro
Obrigado, Riascos, por partir para a bola…
O atleticano já sabia que se tratava de um grande goleiro. Mas foi quando Riascos partiu para a bola, aos 48 do segundo tempo, naquele 30 de maio de 2013, que o homem virou santo. Uns fecharam os olhos, outros já não seguravam as lágrimas. Sim, a velha história batia à porta novamente: mais uma eliminação, mais uma frustração. Certo estava aquele dono de bar que ostentava a plaquinha com orgulho: “Fiado só quando o Galo ganhar uma Libertadores”.
Mas milagres existem. Em território alvinegro então, nem se fala. Riascos partiu pra bola e mostrou ao mundo inteiro que a América se vestiria de preto e branco. Ali, diante de olhos incrédulos no Independência e em todo o Brasil, o pé esquerdo de Victor ressuscitou um grito engasgado na garganta. Aliás, um sonho que até então flertava com o impossível. Que defesa de São Victor do Horto. Uma defesa que pode ser chamada de gol, sem problemas. Aliás, foi assim que o Pequetito narrou na Rádio Globo. Foi, sim, um gol de Victor. Um golaço, por sinal.
O script não terminava ali. Afinal, 2013 cismou de caprichar ao lidar com o atleticano. Ainda viriam os pênaltis contra Newell’sOld Boys na semifinal e contra o Olímpia na final. Além, é claro, do milagre maior, o escorregão do atacante paraguaio na decisão. Mais uma vez o atleticano fechou os olhos e sentiu a dor da frustração. Mais uma vez, o milagre aconteceu. A América, enfim, se vestiu com o manto alvinegro. E Victor Leandro Bagy passou a responder por São Victor. Ele não foi responsável sozinho pelo título. Até porque naquele time tinha um tal de Ronaldinho Gaúcho. Além deTardelli, Leonardo Silva, Jô, Réver, Pierre, Bernard. Mas a Libertadores 2013 ensinou ao atleticano idolatrar aquele santo travestido de goleiro.
Assim como não estava preparado para o pênalti de Riascos, o atleticano não se sentiu confortável na tarde do último domingo. Não era apenas a estreia do time no Campeonato Mineiro de 2021. Aliás, o jogo, por incrível que pareça, pouco importava para essa torcida tão fiel ao time. Domingo foi mais um dia de São Victor. O último. E isso dói no coração alvinegro. Nenhuma homenagem foi ou será capaz de retribuir a emoção e a alegria que o goleiro deu à Massa.
Foram quase nove anos de Atlético. E Victor, assim como já profetizara o bom e velho Cuca, sai torcedor. Na verdade ele sai apenas dos gramados. Agora é gerente de futebol do clube. Será melhor assim. Mas mesmo que um dia o destino teime em distanciar São Victor e o Atlético, ele não conseguirá. São dissociáveis. Quase um corpo só, de maneira bem brega, ao melhor estilo Reginaldo Rossi.
Aliás, o atleticano hoje se sente como aquele bebum que chorana mesa de bar o abandono. No mesmo bar de BH daquela placa que duvidava da força alvinegra. Afinal de contas, lá é tudo fiado mesmo, desde 2013… Ao invés da mulher amada, o santo do gol é o responsável por tamanha dor.
Em nome da Massa, obrigado, Riascos, por partir para a bola! Obrigado ao árbitro chileno Patrício Polic, por ter marcado aquele pênalti de Léo Silva! E um eterno obrigado a São Victor do Horto e a seu pé esquerdo! Sua defesa está eternizada na pele de muitos e no coração de todos os atleticanos.
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Crédito – Reuters