Contra-Ataque: Muito mais do que três pontos

Sérgio Monteiro

 

Muito mais do que três pontos

 

Vencer o clássico contra o seu maior rival tem um gosto especial. Quando Atlético e Cruzeiro entram em campo, o coração dos mineiros bate mais forte e o que está em jogo não são apenas os três pontos. Vale uma eterna discussão sobre quem é melhor ou maior. Vale a tranquilidade para a sequência do trabalho. Vale o desejo de querer encontrar o amigo que torce para o rival só para tirar um sarro dele. Ou a enorme vontade de fugir dele, de desligar o celular. Há cem anos é assim em Minas Gerais. E sempre será, independente do momento vivido pelos rivais. E vencer esse clássico de domingo, válido pela nona rodada do campeonato estadual, será determinante para ambos os lados.

Para o torcedor atleticano, derrotar o Cruzeiro nesse domingo, além de praticamente garantir o primeiro lugar na fase classificatória e a vantagem nas decisões do Mineiro, é quase uma obrigação. Hoje existe um enorme abismo técnico entre os clubes. Enquanto o Galo convive com um time milionário e é apontado como candidato a títulos maiores, a Raposa vive a pior crise financeira, técnica e institucional de sua história. Um está na Série A. O outro está agonizando na segunda divisão do futebol brasileiro.

O atleticano mais fanático quer uma goleada para devolver a humilhação do inesquecível 6 x 1 na rodada final do Brasileirão de 2012 e os dois 5 x 0 recentes, em decisões de Campeonato Mineiro. A oportunidade é agora, embora a história mostre que não é bem assim. Ano passado, já na série B do Brasileiro e com um time bastante desfigurado, o Cruzeiro vendeu caro a derrota, que só veio nos minutos finais, com um golaço de Otero. Em 2006, quando o Galo é quem estava na segunda divisão nacional, foram três duelos, com dois empates e uma vitória da Raposa. Reza a tradição que no clássico mineiro quem está pior acaba saindo vitorioso, mas nessa hora o torcedor do Atlético prefere esquecer a tradição.

Além disso, vencer o rival no domingo é aumentar a soberania nos clássicos. Embora as contas de Atlético e Cruzeiro em relação aos números do centenário duelo não batam, é fato que os alvinegros têm mais vitórias quando o assunto é o confronto direto. Ao contrário do torcedor, o técnico Cuca e seus comandados deixam a euforia de lado, pois sabem que no clássico as diferenças se minimizam e a vontade de vencer pode tranquilamente se sobressair às questões técnicas. Para derrotar o rival e ficar em uma situação ainda mais confortável no estadual, é preciso resolver dentro de campo. O oba-oba que vem da torcida não ganha jogo. Ao contrário, pode é atrapalhar.

Em condições desfavoráveis e com um time bem modesto, o cruzeirense vê no clássico de domingo a oportunidade de afastar a crise. Uma vitória diante do Atlético confirma o crescimento da equipe, que vem de duas vitórias seguidas e não perde desde a 5ª rodada, quando foi derrotada pelo América. Nos três últimos jogos, o time não sofreu gol, o que lhe dá a condição de melhor defesa do Mineiro 2021 até aqui. É fato que ainda há uma dificuldade em fazer os gols, mas o 1 x 0 magrinho no domingo serve bem para dar essa alegria à China Azul.

O campeonato estadual não é nem de longe a prioridade do Cruzeiro nessa temporada. O objetivo da torcida e do time é um só: voltar à primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Mas uma classificação à semifinal ou até mesmo à final do Mineiro servirá para dar tranquilidade ao técnico Felipe Conceição para seguir o seu trabalho, contestado até aqui. A semana que se inicia com o clássico é decisiva para isso, pois na quarta-feira a Raposa mede forças com o América-RN pela segunda fase da Copa do Brasil.

Sair do clássico sem ser derrotado e classificar para a terceira fase da Copa do Brasil é a senha que Conceição precisa para encontrar a paz em Minas Gerais. Caso contrário, a corda começará a apertar. E muito. Mais do que apresentar um bom futebol, o Cruzeiro precisará nesses dois próximos jogos, de resultados. Em terceiro lugar no Mineiro, o time vê a chance de classificação bem mais real do que se esperava há três, quatro rodadas atrás. E a classificação na Copa do Brasil renderá aos esvaziados cofres do clube algo em torno de R$ 2 milhões.

Façam as suas apostas então. Quando a bola rolar no domingo e o coração bater mais acelerado, é o Atlético que vai confirmar a boa fase e passar por cima do rival ou o Cruzeiro que renascerá das cinzas e mostrará que ainda está vivo? Fato é que o Estado inteiro estará de olho no que acontecerá no Mineirão, até porque esse pode ser o único duelo entre os maiores rivais mineiros em 2021. E lembrem-se: vale muito mais do que os três pontos.

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