Contra-Ataque: Doido é quem aceita calado

Por Sérgio Monteiro

Nem Sampaoli, nem Felipão. O técnico que vem encantando em Minas Gerais neste ano é o do América. Extrovertido, irreverente e profundo conhecedor de bola, Lisca caiu (literalmente) nos braços do torcedor americano com as classificações diante de Corinthians e de Internacional na Copa do Brasil. Competição que tem pela primeira vez na história o Coelho como um dos semifinalistas.

Desde que chegou a BH, no início do ano, Liscatem demonstrado uma versão mais amena. Trocou o ‘Lisca Doido’, apelido que o acompanha desde a época em que treinava o Juventude, pelo estilo tiozão engraçado e sincero. Aquele que faz todo mundo rir no churrasco de confraternização da família. Antes da pandemia, é claro.

Fato é que essa imagem, somada aos resultados obtidos em campo, alavancaram a carreira do treinador, que despertou o interesse de alguns clubes da Série A e até mesmo do Cruzeiro. Antes de fechar negócio com Scolari, a Raposa tentou tirar Lisca do rival. Mas o América já sabia, àquela época, que todo esforço pra segurar o seu treinador valeria a pena.

Além de estar na semifinal da Copa do Brasil – enfrenta o Palmeiras nas duas próximas quartas-feiras – o América está praticamente garantido na Série A do ano que vem. É vice-líder, dois pontos atrás da Chapecoense. Desta forma, o Coelho é hoje referência no país quando o assunto é time organizado taticamente.

Diferente de muitos dos badalados elencos do futebol brasileiro, o América tem uma folha salarial modesta. Mas tem também um time que sabe o que fazer dentro de campo, com toque de bola refinado e faro de gol. Fruto do trabalho de seu maestro, um gaúcho vem trabalhando ao melhor estilo mineiro: sem alarde e com muita intensidade.

Mas no domingo, ao ver a possibilidade de seu time assumir a liderança da Série B ser alijada por um erro escandaloso de arbitragem, Lisca perdeu a classe. Chutou o balde da etiqueta na entrevista pós-jogo e entre socos na mesa, esbravejou de forma ríspida. Ou seria louca? “Chega”, gritou o comandante americano, em tom agressivo, direcionando a sua ira ao diretor de arbitragem da CBF, o ex-árbitro LeonardoGaciba.

Os erros de arbitragem contra o América na Série B estão deixando Lisca indignado

Não. Lisca não é doido. Apenas indignou-se e com total razão. Perdendo a partida por 2 x 1, ele colocou em campo cinco atacantes e partiu pra cima da líder Chapecoense. Afinal de contas, só a vitória interessava. Naquele momento, o América já não tinha nenhum interesse em apenas empatar. E funcionou. No final da partida, o zagueiro Anderson fez o segundo gol americano. E coube ao atacante Ademir, destaque do Coelho nessa campanha histórica, fazer o gol da virada.

Mas foi aí que a arbitragem roubou a cena, enlouquecendo o treinador americano. O auxiliar Anderson José de Moraes Coelho (eu disse Coelho? Não pode ser…) assinalou impedimento do ataque mineiro e fez a árbitra Edina Alves Batista invalidar aquele que seria o gol da vitória. Possivelmente do título.

Fim de jogo. Um amargo 2 x 2 no placar. Início de um capítulo que deve orgulhar os mineiros. Indignado, Lisca desiste da entrevista e esbraveja contra o que ele chama de perseguição ao América ou a ele próprio. Enumera seis ou sete partidas em que seu time foi prejudicado pela arbitragem, incluindo o clássico contra o Cruzeiro.

O gesto do treinador americano é em defesa de seu clube, obviamente. Mas não deixa de representar o torcedor mineiro de forma geral. Ou vão me dizer os atleticanos e cruzeirenses que não se recordaram, neste domingo, de Wright, Armando Marques, Simon, Márcio Rezende de Freitas, Sandro Meira Ricci, José de Assis Aragão e tantos outros que nos levaram de forma inescrupulosa vários canecos?

Que a atitude de Lisca sirva de exemplo. Indignar-se não é sinal de loucura. Que o “Chega” de ontem seja para nós, mineiros, o “Independência ou Morte”. Afinal de contas, não fosse a ajuda da arbitragem, a Chapecoense teria caído morta ali mesmo, no nosso bom e velho Independência. Como caíram outros tantos.

 

Imagem

Crédito: Fernando Alves/Agif/Gazeta Press

Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com tal monitoramento. Aceitar Saiba Mais