Contra-Ataque: Apenas isso, Felipão?
Sérgio Monteiro
A vitória por 2 x 1 sobre o Operário na quarta-feira – a primeira do time no Independência nessa Série B – deu ao Cruzeiro o alívio que Felipão tanto esperava. De acordo com o técnico, a sua missão, ao aceitar o convite da Raposa no meio da temporada, era evitar a queda para a Série C, naquele que seria o capítulo mais tenebroso da história do clube. Agora, com 47 pontos, não há mais risco de rebaixamento. Mas também não existe a possibilidade de retorno à Série A.
O discurso de Felipão, mesmo diante do trágico momento vivido pelo clube, não soa bem. Nem o Cruzeiro, nem o próprio treinador, donos de currículos invejáveis, podem pensar tão pequeno assim. Nem mesmo no pior dos cenários. Todos nós sabemos que alguns dirigentes limparam o clube, deixando uma situação caótica na parte administrativa, o que, inevitavelmente, traz reflexos para dentro de campo. Hoje, o Cruzeiro, para tristeza de seu torcedor, é um clube inviável, à beira do abismo. Mas não pode entrar em uma Série B com o objetivo de não cair para a terceira divisão.
Para a temporada que se inicia no próximo mês, o Cruzeiro precisa rever os seus conceitos. Sabemos que a situação é crítica, mas o clube precisa decidir o que quer: voltar a ser grande ou passar o resto dos anos lamentando o rombo causado por dirigentes irresponsáveis. E a decisão começa pela definição de quem comandará o time em 2021. Felipão tem contrato, mas não parece nada disposto a seguir no barco. Por um lado, tem razão. Não cumpriram o prometido e a continuar como está – isso inclui a diretoria atual – o calvário azul não terá fim.
Mas à beira do gramado Felipão deixou a desejar. A Raposa precisa se impor diante de adversários de menor expressão. Não pode em 2021 repetir a campanha de 2020. Foi o segundo pior mandante da Série B. E tem de mudar o estilo de jogo. O Cruzeiro de Scolari joga para não sofrer gols, de maneira covarde. Vai lá, faz um gol e ganha por 1 x 0. Esse não é o futebol que a torcida quer ver. Mesmo diante de todas as limitações do atual elenco. Se não mudar o espírito, o sofrimento vai durar anos e anos.
Talvez seja melhor para o Cruzeiro essa possível desistência de Felipão. É inegável que ele contribuiu e muito para tirar o time da zona de rebaixamento. Mas é hora de enxergar novos horizontes. Não cair para a Série C não pode ser nem de longe o objetivo para esse ano. A principal meta do clube tem que ser o acesso à Série A – isso tem que virar um mantra mesmo. É uma obrigação. E fazer campanhas decentes na Copa do Brasil e no Campeonato Mineiro. Para isso, é preciso mudar a chave: esquecer 2020, inclusive o discurso adotado.
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Crédito – Reprodução TV Globo