Contra-Ataque: Alô, Tiririca! Pode ficar pior sim, hein?

Sérgio Monteiro

 

Contra-Ataque

 

Alô, Tiririca! Pode ficar pior sim, hein?

 

O narrador João Guilherme costuma dizer em suas transmissões, quando depara com algo inimaginável: “Eu só acredito porque estou narrando”. Pois eu só acredito na fase do Cruzeiro porque estou vendo com meus próprios olhos. Em sua segunda temporada na segunda divisão do futebol nacional, a equipe celeste – que até outro dia empilhava taças em sua sede – não consegue sequer ameaçar seus adversários em uma luta pelo retorno à elite. Pelo contrário: quebrando bancas de apostas por todo o país, a Raposa hoje é candidata ao rebaixamento à Série C do Brasileirão, por mais que isso doa em seu torcedor.

Não exatamente por causa de mais alguma punição imposta pela Fifa, mas sim pelos próprios “esforços”. Em 14 rodadas, são apenas duas vitórias e 12 pontos conquistados. Um aproveitamento de 28,57% que reflete bem o que o Cruzeiro tem feito dentro das quatro linhas. Como se não bastasse, a equipe mineira é dona ainda da pior defesa da competição, com 23 gols sofridos. Já são oito jogos sem vitória e três sem marcar um gol sequer. Tolo do torcedor que acreditou que a queda para a Série B era o pior dos cenários.

Nas duas últimas rodadas, a Raposa teve a chance de sair do atoleiro. Diante de adversários diretos na luta contra o rebaixamento, somou um ponto apenas. Derrota para o Remo e empate diante do Vila Nova, de Goiás. Na bagagem, além do mísero ponto, a penúltima colocação na tabela de classificação e nenhuma perspectiva de melhora, além da certeza de que o time cruzeirense é um dos piores da Série B. Na sexta-feira, pela 15ª rodada, a equipe estrelada recebe o Londrina, também ameaçado pelo fantasma do descenso, no Mineirão. Mas diante de tantos números assustadores desde que chegou à segunda divisão, em 2020, não dá pra acreditar em favoritismo da Raposa.

Se somarmos as duas temporadas em que o clube participa da Série B – sempre como coadjuvante – já são mais de 50 jogos e o saldo é negativo: são mais derrotas do que vitórias. A verdade é que ninguém mais respeita o Cruzeiro, mesmo com tantos troféus em sua galeria. Aliás, resta saber até quando haverá essa sala de troféus, porque a crise transcende as quatro linhas e ameaça o patrimônio e até mesmo as taças conquistadas.

No clube, ninguém fala nada. Aliás, espanta mais a inércia dessa diretoria do que a do time em campo. O presidente Sérgio Santos Rodrigues, que tanto falou quando chegou, agora se calou. Só ouvimos a sua voz em áudios vazados, quase todos em tom de ameaça quando o assunto é a sua renúncia. Cheio de vaidade, o cartola não quer largar o osso, mas não apresenta solução alguma para livrar a Raposa do caos.

Enquanto isso, técnicos, diretores de futebol e jogadores vêm e vão com uma frequência que também causa espanto. Quase na mesma velocidade que chegam as punições da Fifa. Já são sete treinadores desde a estreia do time na Série B de 2020 – há menos de um ano. Sem poder contratar novos jogadores por causa do último “transfer ban” determinado pela Fifa, o elenco, que já era ruim, vai ficando cada vez pior. Tá vendo, Tiririca? Só nos últimos dias saíram o volante Matheus Barbosa e o atacante Airton. O técnico Mozart que se vire para encontrar reposições na própria Toca.

Há uma corrente, comandada pelo empresário Pedro Lourenço, que acredita que Luxemburgo pode ser a solução. Mas é preciso combinar primeiro com o atual técnico, que segue falando aos quatro cantos que não pedirá demissão. Ou convencer Felipe Conceição de que ele não foi demitido e sim apenas convidado a se retirar, pois a nova regra da CBF não permite duas demissões de treinadores durante a competição. A bagunça é tão grande que parece que sequer o regulamento da competição os cartolas cruzeirenses conhecem. Como cobrar que encontrem a luz do fim do túnel?

De 2019 pra cá, o Cruzeiro vem colecionando fracassos e vexames, ao mesmo tempo em que vai contrariando velhas máximas do futebol e do folclore nacional. Ao contrário do que apregoou Thiago Neves, é possível sim perder para o CSA. Não uma única vez, como ele duvidava, mas três vezes em quatro confrontos. Isso tudo em menos de dois anos. Ao contrário do que dizia em alto e bom som o seu torcedor, time grande também cai. Aliás, não apenas cai de divisão, como pode acabar caindo no esquecimento ao permanecer longe da elite anos seguidos. E, agora, o Cruzeiro cismou de contrariar o Tiririca, que certa vez nos fez acreditar que pior do que ‘tá’ não fica. Segue o baile que o fundo do poço ainda não chegou.

 

 

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Crédito –Gilson Junio/W9 Press/GazetaPress

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