Contra-Ataque: A diferença entre disputar e frequentar a Série B

Sérgio Monteiro

 

 

A diferença entre disputar e frequentar a Série B

 

O empate diante do Goiás, na última terça-feira, foi o 60º jogo do Cruzeiro pela Série B do Brasileirão. Rebaixado em 2019, o time celeste segue o seu calvário e está na segunda temporada seguida longe da elite do futebol nacional. Os números são absurdamente negativos, assim como a condição do time, mergulhado em uma crise que parece não ter fim, contrastando com a sua história, repleta de títulos.

Somando as duas participações na Série B, a Raposa tem 19 vitórias, 24 empates e 17 derrotas, um aproveitamento de apenas 45%. O ataque fez 65 gols e a defesa levou 62. Números que certamente envergonham o seu torcedor e escancaram a crise que tomou conta do clube nos últimos anos, além de retratarem a dificuldade para se reerguer e voltar a ser protagonista no cenário nacional. Um retrato, diga-se de passagem, bem fiel ao momento atual do clube.

Mas a questão vai além dos números. O que mais preocupa a China Azul é que em dois anos de Série B, a equipe celeste em momento algum esteve de fato na briga pelo acesso. Na temporada passada, o time passou pelas mãos de Adilson Batista, Enderson Moreira, Ney Franco, Célio Lúcio e Felipão e o resultado da “obra” foi um 11º lugar no final, 12 pontos distante do G-4. Um resultado trágico, mas que chegou a ser “comemorado” diante da real possibilidade de rebaixamento para a Série C.

O insucesso da temporada passada, apesar de irritar o torcedor cruzeirense, é até aceitável, já que a Raposa entrou na competição devendo seis pontos, consequência de uma punição da Fifa por causa de uma dívida do clube com o volante Denílson. Mas a fragilidade do time se arrasta até hoje. Na atual competição, o Cruzeiro ocupa a 14º colocação, novamente distante 12 pontos do quarto colocado e apenas três pontos à frente da zona de rebaixamento. Ou seja: nada mudou. Nem mesmo as constantes ameaças de novas punições por causa do mar de dívidas herdado de administrações anteriores.

Esse ano a Raposa já foi comandada na Série B por Felipe Conceição, Mozart e Luxemburgo, que é o treinador que vem conseguindo melhores resultados. Pela primeira vez desde a temporada passada, o Cruzeiro conseguiu emplacar oito jogos de invencibilidade, mas são três vitórias e cinco empates, o que faz com que o sonho do acesso continue bem distante de se tornar realidade.

O técnico continua falando em acesso e ele está certo. Mas é preciso ter muito cuidado para não iludir o torcedor, porque as reações costumam ser proporcionais à expectativa criada. Internamente, a Raposa precisa se livrar do risco de queda para a Série C, o que mancharia ainda mais a sua centenária história. E, de fato, essa é a “briga” atual. Para isso, o time tem dois jogos seguidos em casa – na Arena do Jacaré, com presença de sua torcida –, contra Ponte Preta e Operário.

Vencer os dois jogos é respirar aliviado e começar a descartar o risco de queda. Feito isso, Luxemburgo e seus comandados poderão, quem sabe, pensar em uma nova meta. Mas a tarefa é muito difícil. Quase impossível para quem, há dois anos, apenas frequenta a segunda divisão. Para voltar à Série A, é preciso disputar a Série B, coisa que o Cruzeiro ainda não conseguiu fazer. Seja por vaidade ou pela crise financeira e administrativa que o acompanha desde meados de 2019.

Que essa crise não sirva de desculpa eterna. Afinal de contas, o Botafogo vive momento semelhante e está na briga pelo acesso. Com um time tão limitado quanto o da Raposa e dívidas que não têm fim. CRB, Goiás, Coritiba, Sampaio Correa, Avaí, Guarani e Náutico também não possuem elencos tão superiores ao do time mineiro. Ou o Cruzeiro acorda para a realidade, ou ano que vem estaremos falando sobre as mesmas dificuldades. E o que é pior: sobre a proximidade de um quarto ano na segunda divisão.

 

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Crédito – Bruno Haddad/Cruzeiro

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