Como desenvolver a autonomia nas crianças

O que é Autonomia?

O conceito de autonomia se mistura com o conceito de liberdade, consistindo na qualidade de uma pessoa tomar suas as próprias decisões, com base na razão, em prol de si mesmo. Assim, a autonomia é a capacidade de uma pessoa racional/inteligente de tomar uma decisão não forçada, baseada nas informações sobre o que é certo e o que é errado. A autonomia também está relacionada à responsabilidade que temos diante do mundo que nos cerca. Ou seja, se somos autônomos, somos livres e se somos livres, tomamos nossas decisões, e assim devemos arcar com as consequências de nossas ações que aprendemos ao longo de toda a nossa vida.

  • Quando podemos ensinar Autonomia às crianças?

A autonomia deve ser ensinada desde sempre! Mesmo sendo pequena a criança, a família pode ensinar esta criança a ter cuidado sobre si, sem a necessidade de se ter sempre um adulto a tomar decisões e/ou a cuidar dela.

Na vida dos filhos, a autonomia depende da diminuição da dependência dos pais (e outros adultos, como professores por exemplo) e tem como ganho uma maior segurança em relação as próprias capacidades. Para que a criança se torne autônoma ela necessita ser autorizada por seus pais a crescer e se desenvolver, o que nem sempre é fácil.

A família é peça determinante na forma como nossas crianças irão avançar e se relacionar com os desafios de suas vidas e a autonomia é sem dúvida um destes desafios. Ela está diretamente ligada, por exemplo, à autoestima, pois uma criança autônoma se sente capaz, tenta resolver seus problemas e, desta forma aprende, é capaz de se relacionar, se comunicar com as outras pessoas e fazer escolhas.

  • Quais são os riscos e os perigos da superproteção para o desenvolvimento da criança?

No contexto familiar, a mãe (ou a primeira pessoa de referência afetiva da criança) é a primeira pessoa com quem essa criança se relaciona. A criança, inicialmente, não percebe os limites entre ela própria e o adulto; é como se os dois fossem uma coisa só. Desta forma, inicialmente, a criança conhece o mundo através do adulto, que pode ser um mundo cheio de riscos, perigoso, ameaçador, ou pode apresentar um mundo possível de ser explorado, cheio de riquezas e belezas, mas onde a criança deve respeitar algumas regras de convivências, onde ele não encontrará prazeres infinitos e esta apresentação está intimamente ligada com o desenvolvimento da autonomia ao longo do tempo. Algumas famílias temem tanto o contato do filho com o mundo, seja por risco de contaminações quando são bebezinhos, por riscos ligados a segurança ou acidentes quando crescem, ou até mesmo pelo medo de que a criança sofra, e aí criam uma redoma que protege a criança de forma excessiva.

A superproteção impede que a criança desenvolva recursos internos para lidar com a vida e os obstáculos que esta impõe a todos nós. Desta forma, o que pretendia proteger, termina por desproteger, pois torna a criança incapaz de administrar as situações com que inevitavelmente irá se deparar com o passar do tempo. Muitas vezes, pensando fazer o melhor, as famílias colocam as necessidades das crianças acima e a frente de tudo e, assim, as criam dependentes, inseguras, que não sabem o que querem, pois não estão acostumadas a escolher (afinal, seu desejo é uma ordem). E é nesta sequência que aparecem as crianças que não toleram as frustrações, os ‘nãos’, as regras e limites.

  • Como ensinar autonomia às crianças se cada uma tem uma tem uma particularidade e um tempo próprio de desenvolvimento?

Cada criança é única e tem seu próprio tempo de desenvolvimento dentro de uma linha básica do que se é esperado para cada faixa etária. Crianças adequadamente estimuladas se desenvolvem a seu tempo, umas mais rapidamente, outras mais lentamente. Porém, muitas têm seu desenvolvimento atravancado por ficarem reféns das necessidades de outros, pelas mais variadas razões. São histórias que envolvem muitas vezes sofrimentos profundos, como abortos reincidentes, casos de acidentes fatais, doenças graves, quadros depressivos, separações e abandonos, imaturidade dos pais, etc. Enfim, na maioria das vezes, quem está dentro, dificilmente percebe, mas essas situações levam a uma relação de dependência que impede o desenvolvimento da autonomia.

Uma criança submetida à uma vida dependente fica impedida de crescer e tenderá, ao longo de sua vida, inclusive sua vida adulta, a estabelecer relações de dependência; primeira dependência dos pais, que se transformará em dependência nos relacionamentos e no trabalho, o que se configurará na incapacidade de tomar decisões e permanecer sempre recebendo ordens.

Para se desenvolver, as crianças devem ser estimuladas a crescer e a aprender a fazer coisas que antes não conseguiam realizar sozinhos como, por exemplo, arrumar a cama, colocar o sapato, servir o próprio prato, cortar a própria carne. Além destas tarefas, crescer e se tornar autônomo exige que desenvolvamos a capacidade de tomar decisões, fazer escolhas e assumir as consequências destas escolhas.

Apenas uma criança autônoma aprende a fazer escolhas, a avaliar os próprios desejos e sentimentos e a traçar metas para alcançá-los. Junto com a autonomia, outras facetas da personalidade também se desenvolvem, como a moralidade, e com ela os conceitos de certo e errado, pois a autonomia traz consigo responsabilidades.

  • Na prática, quais atividades podem ser feitas para favorecer a autonomia?

A autonomia é um processo gradual que vai se desenvolvendo à medida que o seu filho realiza novas conquistas e adquire condições que contribuem pouco a pouco para que ele se torne independente. É preciso ir ensinando e deixando que ela tente resolver  dificuldades e conflitos do dia a dia.

1 ano:

–> Segurar alguns alimentos com as próprias mãos: mamadeira, biscoitos, frutas

–> Buscar pequenos objetos próximos

–> Dormir no seu próprio quarto

–> Escolher os brinquedos

  • 2 e 3 anos:

–> Guardar os brinquedos

–> Retirar a própria roupa

–> Lavar as mãos

–> Guardar os sapatos

–> Escolher entre opções predefinidas de programas de tv e brincadeiras

–> Colocar a roupa suja no cesto

–> Passar pano de pó em um móvel baixinho

–> Comer com talheres de ponta arredondada e beber no copo

–> Escovar os dentes e tomar banho com a supervisão de um adulto

  • 4 e 5 anos:

–> Regar as plantas

–> Arrumar a cama

–> Guardar as roupas no armário

–> Limpar-se quando vai ao banheiro

–> Aprender a olhar para os dois lados da rua

–> Pentear-se

–> Levar o prato sujo até a pia

–> Amarrar o cadarço do tênis

–> Brincar e dormir na casa de parentes e amigos mais próximos

  • 6 a 8 anos:

–> Ajudar a guardar as compras

–> Escolher a roupa que vai usar

–> Escovar os dentes e tomar banho sozinho

–> Arrumar o quarto

–> Arrumar a mochila da escola

–> Anotar recados

–> Lidar com pequenas quantias de dinheiro

–> Servir-se à mesa e utilizar a faca

–> Viajar para acampamentos ou casa de parentes

–> Fazer a lição de casa sozinho

  • Mais de 8 anos:

–> Trocar a roupa de cama

–> Ajudar a cuidar do irmão mais novo

–> Arrumar a mala para uma viagem

–> Atravessar a rua

–> Ajudar os pais na compra do supermercado

–> Preparar lanches rápidos

–> Cuidar do animal de estimação

–> Descascar frutas e legumes

 

6) Por que é importante favorecer e ensinar a autonomia às crianças?

O desenvolvimento da autonomia na infância permite a construção de uma personalidade saudável e possibilitará o desenvolvimento da capacidade de resolver conflitos ao longo da vida. Sempre, quando falamos da primeira infância, repetimos que é nesta fase que acontece a etapa mais importante do processo de construção da personalidade. É nesta etapa que marcas muito profundas criam o tom das relações que estabeleceremos ao logo da vida.

NOTA DA REDAÇÃO: Valeska Magierek é Psicóloga e Neuropsicóloga, com experiência de 20 anos no atendimento de crianças, como palestrante e professora universitária. É Diretora clínica do Centro AMA de Desenvolvimento em Barbacena e autora do livro “A semente mágica”. www.centroamadesenvolvimento.com.br

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