Barbacena tem poucas áreas verdes dentro da cidade e isso não é bom

Por Delton Mendes Francelino

 

Barbacena é uma cidade interiorana, mas com território relativamente grande, tendo quase 140 mil habitantes.  Seu processo de crescimento (populacional e urbano) mais significativo se deu pós Segunda Guerra Mundial, algo que acompanhou uma certa tendência global, já que a população humana no planeta praticamente triplicou nos últimos 70 anos. A partir da década de 1980, a malha urbana do município cresceu ainda mais, mudando a paisagem: prédios, ruas, asfalto, concreto, cada vez mais automóveis e cada vez mais pessoas. Isso suprimiu e escondeu cursos de água; reduziu significativamente a quantidade de áreas verdes dentro do município.

 

Alguns efeitos do crescimento urbano podem ser positivos, desde que haja organização e práticas de sustentabilidade. Mas, em geral, muitos problemas podem surgir, como a espoliação de populações mais carentes, sobretudo habitantes de periferias, ausência de saneamento básico, falta de acesso à água potável, insegurança alimentar, moradias em risco, doenças infecciosas, dentre tantos outros aspectos. Todavia, um fator pode ser importante indicativo sobre como uma cidade entende esses processos históricos e contemporâneos, e pode ajudar na busca pelo equilíbrio ambiental, econômico e social: a cobertura vegetal. Cidades em todo mundo nas quais seus governantes investem em manter áreas verdes, ou criá-las, são cidades que também apresentam melhores condições de vida, saúde, bem estar para sua população. Barbacena, infelizmente, é um município com baixíssimo índice de cobertura vegetal, o que me causa muita preocupação. São constantes os casos de cortes de árvores dentro do contexto urbano da cidade e, se não bastasse, vemos isso também em regiões periféricas, agravado pelo fato da diminuição de árvores ocorrer (na recentes décadas) em regiões de micro bacias hidrográficas, nascentes, morros, provocando ainda riscos de derramamento de terra, diminuição de biodiversidade e aumento de ilhas de calor (sem árvores, há aumento de temperatura).

 

Nossa cidade precisa repensar a forma como interpreta o verde das árvores. Precisamos investir nisso, caminhando conjuntamente ao que preconiza documentos como a Agenda 2030, da ONU. Em minha pesquisa de doutoramento, tenho me dedicado a pensar sobre isso; e pelo Centro de Estudos em Ecologia Urbana, publicaremos este mês ainda, dois artigos acerca deste tema, que pretendemos utilizar para cobrar de nossos governantes posturas mais ecologicamente corretas e sustentáveis. Manter as árvores, e estimular sua “presença”, favorece felicidade e identidade (a partir da noção de bem comum); evoca também memória e história de nosso povo. Somo seres vivos, e como tais, precisamos nos compreender como parte indissociável da natureza, entendendo que quanto mais nos afastamos dela como um todo, mais nos afastamos de nós mesmos. 

Apoio divulgação científica: Samara Autopeças e Barbacena Online

NOTA DA REDAÇÃO – Delton Mendes Francelino é Professor C. Graduação Ciências Biológicas e Coordenador do Centro de Estudos em Ecologia Urbana, no IF Sudeste MG. Diretor do Instituto Curupira e comunicador científico no Podcast Falando de Ciência e Cultura. Doutorando na UFMG.

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