Barbacena e a primeira vacina do Brasil

Uma disputa histórica que precisou da redescoberta de documentos inéditos para definir  quem de fato introduziu a vacina no Brasil

Por Edson Brandão

A história é longa e complicada, envolve dois personagens do Brasil do Primeiro Reinado (tempos de D. Pedro I), suas famílias, um famoso escritor e um dos maiores historiadores do Brasil, tudo para definir quem primeiro trouxe a vacina da varíola para o país, em 1804.

Foi um jovem médico britânico, Edward Jenner (1749-1823), quem descobriu, quase por acaso, um método de imunização para a Varíola, inoculando o vírus atenuado, retirado de uma vaca em um garoto que teve sintomas leves para depois ficar totalmente imune. Isso ocorreu em 1776 e pouco tempo depois a grande novidade científica corria o mundo, chegando ao Brasil, mais precisamente na Bahia, em 1804, pelas mãos do Marechal Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira Horta (1772-1842), depois Marquês de Barbacena. Vale esclarecer que Caldeira Brant nascido em uma localidade próxima a Mariana, era descendente de pioneiros da mineração em Minas Gerais e foi uma das personalidades mais destacadas no Brasil da primeira metade do século XIX. Apesar de ostentar o título de Marquês de Barbacena, não há qualquer parentesco dele com  Luiz Antônio Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro (1754-1830), o sexto  visconde de Barbacena, de quem herdamos o nome de Barbacena. O ramo português dos “Senhores de Barbacena” se encerrou em 1854, com a morte do Sétimo Visconde que não deixou descendência. Por sua vez, no Brasil, os Caldeira Brant tornaram-se Marqueses de Barbacena por duas gerações. Dentre as várias peripécias de Barbacena como diplomata e homem influente na Corte, está este fato de não só ter trazido a técnica Jenneriana de imunização, como ter sido o primeiro brasileiro a ser imunizado.

Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira Horta, o Marquês de Barbacena

Mas este pioneirismo sempre foi motivo de disputa por dois personagens: o cirurgião-mor Francisco Mendes Ribeiro de Vasconcelos e o Barbacena. A disputa era levada tão a sério,  que a filha de Barbacena, Ana Constança Caldeira Brant, a Viscondessa de Santo Amaro, tentou introduzir o busto de seu pai em uma das salas do Instituto Vacínico do Rio de Janeiro, equivalente à FIOCRUZ de hoje, causando protestos da família de Ribeiro de Vasconcelos, representado por seu filho, Antônio Mendes Ribeiro. Ele alegava que em 1798, seu pai praticara a primeira imunização no Brasil. Sem querer tomar partido na briga, o Imperador D. Pedro II, determinou que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro esclarecesse a dúvida. Coube ao médico e escritor Joaquim José de Macedo, autor do célebre romance, “A Moreninha” e ao grande historiador Joaquim Norberto de Souza realizarem uma pesquisa documental, reunida em 19 páginas,  com o título “Parecer sobre a introdução da vacina no Brasil”. No texto, de 1859, fica provado e indicado pela dupla de pesquisadores que Barbacena trouxe a técnica Jenneriana  para o Brasil e que Vasconcelos fazia, ele próprio, a inoculação mas de forma bastante arriscada.

Ana Constança Caldeira Brant, a Viscondessa de Santo Amaro e filha de Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira Horta, o Marquês de Barbacena.

A pesquisa ficou esquecida por décadas no acervo do IHGB e a documentação só foi resgatada em 2007, pela historiadora Myriam Bahia Lopes, da Universidade Federal de Minas Gerais e Ronald Polito, escritor, que publicaram um artigo esclarecedor do fato,  na revista História, Ciências, Saúde: Manguinhos (abril-junho 2007).

Fonte: Centro de Memória Belisario Pena

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