Preocupações Pré Copa do Mundo

A opinião de Delton Mendes Francelino

O futebol, inegavelmente, é paixão de grande parte da população brasileira, não à toa, figuramos como a nação que mais é adepta desse esporte no mundo todo. Trata-se de uma forte cultura nacional, construída sob importantes traços identitários, por um longo tempo, e que, de fato, representa social e culturalmente parte de nosso povo e muitas de nossas tradições. Entretanto, há de se olhar criticamente alguns aspectos preocupantes, especialmente a poucas semanas da Copa do Mundo de 2018.

O Brasil passa por graves problemas, sobretudo de ordem política. O futebol, desde que chegou por cá, no começo do século XX, também trouxe consigo a apropriação discursiva de poderes hegemônicos, de grandes empresas, governos e segmentos políticos que utilizam esse esporte, para diversos processos de manipulação e construção de ideais de consumo. Tudo isso ficou claramente demonstrado nos últimos e recentes escândalos envolvendo membros da FIFA e da CBF, e suas ligações com diversas empresas e representantes de governos.

O futebol tem sido usado como mecanismo de alienação de nossa população há décadas. Ele é vítima, tanto quanto todos nós que gostamos do esporte. Nesse ensejo, a grande preocupação é de que, durante os próximos dois meses, os poderes hegemônicos que claramente manipulam e controlam o esporte aproveitem-se do período da Copa do Mundo para articular leis, medidas provisórias, construir processos de corrupção e lavagem de dinheiro, enquanto nossa população “diverte-se” com o futebol. Historicamente isso sempre ocorreu, com governos impetrando projetos sérios sem o enfoque das mídias, longe dos olhares da população.

A questão que fica, portanto, é: como associar o deleite pelo futebol, mas, ao mesmo tempo, não deixar de ter o olhar crítico sobre o mundo à volta? Como atentar-se ao nosso quadro político e econômico, por exemplo, enquanto as emoções desse evento mundial acontecem nos meses de junho e julho? O problema não está no futebol que, alias, é uma das práticas esportivas que mais empodera e encoraja jovens (de todos os gêneros) de classes sociais de baixa renda em periferias. A questão é a maneira como grandes empresas e nossos representantes políticos o utilizam como estratégia de manipulação e alienação. Assim, durante a Copa do Mundo, e sempre, eu peço: fiquemos atentos. Leiamos os jornais (de fontes confiáveis), busquemos informações. Somente assim poderemos associar o futebol, e toda sua singularidade, ao perfil de resistência política que tanto precisamos atualmente em nosso país.

NOTA DA REDAÇÃO: Delton Mendes Francelino é Diretor Internacional do Instituto Curupira (MG, SP e EUA); Professor Col. Graduação em Ciências Biológicas/ IF Sudeste Campus Barbacena/MG; Site: https://deltonmendes.wixsite.com/meioambiente; Coordenador do Centro de Estudos em Ecologia Urbana e Educação Ambiental Crítica do IF Sudeste, Campus Barbacena, MG; Palestrante e professor: Meio Ambiente/ Eco cultura/Permacultura/Ecoeducação; Contato cel/+whatsapp:(32) 9 8451 9914

Articulistas linha 1