O amor está aqui, lá, acolá e em todo lugar

A crônica de Francisco Santana

“Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer…”

(Camões)

 

Nesses dias que antecedem as comemorações pelo Dia dos Namorados, percebe-se um clima romântico no ar. O amor está aqui, ali, acolá e em todo lugar. Ele está naquele jardim onde um casal de cachorros se amava escandalosamente diante dos olhares assustados dos transeuntes ou naquele beijo intenso de dois estudantes no ponto do ônibus que em êxtase, não viram ele passar ou naquele carro propaganda que tocava a música: “É o amor/Que mexe com minha cabeça /E me deixa assim /Que faz eu pensar em você /E esquecer de mim/Que faz eu esquecer que a vida /É feita pra viver” . O amor está no ar, na partícula do oxigênio que nos faz respirar. Ele é forte e consegue entrar nos corações humanos endurecidos e estéreis tornando-os sensíveis e recíprocos. Amar é ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros o que queremos para nós.

 

Amor lembra namoro, namorar lembra atração e inspiração. A sensibilidade está na ponta dos dedos, no olhar, nas palavras, no silêncio, nos lábios, na língua, nos braços, nas mãos e nos poros. As emoções são sempre acompanhadas de modificações fisiológicas, às vezes, muito intensas: aceleração do ritmo cardíaco, movimentos respiratórios, sensação de garganta cerrada, boca seca, reflexos desordenados, modificações musculares e expressão facial. Os namorados costumam transferir o sentimento que lhes inspira a pessoa amada pelas cartas, mensagens virtuais e presentes variados. Ao designar amor refiro-me ao sentimento entre seres humanos não importando sexo, identidade, nome, estado civil ou opção religiosa. O importante é amar com intensidade, ter coragem para senti-lo e declará-lo, mesmo não sendo correspondido.

 

O amor não declarado cria expectativas, sufoca e faz sofrer. Nem sempre a emoção se exterioriza. Perturbações e lágrimas afloram A emoção reprimida pode provocar “uma ideia fixa, uma fobia ou pode persistir sob a forma de uma inquietude, de um desejo de agitação ou de uma tendência contínua à distração (Guerreiro). “Amar e ser amado sempre será o equilíbrio a ser alcançado, a harmonia existencial, a alegria de viver” (Frei Jaime). O amor verdadeiro não se desgasta, quando mais se dá mais se tem. Amai bastante para ser amado. O mundo precisa de amor. Amamos aqueles que nos fazem bem. Os que não dissimulam conosco, aqueles a quem não tememos e em quem depositamos confiança, pois ninguém ama aquele a quem teme. O contrário de amor não é a raiva e tampouco ira. O contrário de amor é a indiferença. Como dói se sentir assim!

O amor é um sentimento controlado e a paixão é a forma vil de amar. O amor você domina, a paixão não. Amor não é posse. Perdoar é amar. A paixão instiga o ódio e “a diferença do amor e do ódio, é que pelo ódio a gente mata e pelo amor a gente morre”. (Renato Russo).  “Paixão não é sentimento. A paixão pertence ao mundo da personalidade, enquanto os sentimentos emanam do ego superior. A paixão é egoísta, enquanto os sentimentos são puros e altruístas”.

“O que me faz amar um homem” da escritora Aillin Aleixo.

“Eu acreditava que o que me fazia amar um homem era a inteligência. Elucubrações e digressões me impressionavam. Conhecimentos literários, artísticos, práticos seduziam a eterna adolescente em mim. Mas descobri que não era isso que me fazia amar: de nada adianta um cérebro invejável, citações brilhantes, se ele não rir das próprias besteiras, se não souber aproveitar as delícias do ócio de um sábado quente. Então percebi: bom humor era essencial. É delicioso estar com alguém que vive sem arrastar correntes e faz dos pequenos horrores cotidianos inevitáveis piadas. Então fui invadida pela certeza de que o que me fazia amar alguém era, antes de tudo, a sensibilidade. Telefonemas de bom dia, olhares que vêem, pequenos gestos incontidos – tudo o que eu podia querer. Só sobrevive ao meu lado alguém, que grite comigo quando eu passar dos limites do bom senso, demonstre desagrado quando eu exigir demais e oferecer de menos, quando eu exigir demais e oferecer de menos. Preciso ser cuidada, mas preciso da certeza de estar com um homem de verdade e não com um moleque preso no complexo de Peter Pan. Quero ser domada, tomada.  Nem inteligência, bom humor ou sensibilidade me faziam amar alguém. Talvez fosse a virilidade. Mal abrir a porta da sala e ser consumida por beijos. Ter a roupa arrancada no caminho da cozinha. Ser desejada com urgência é um dos maiores elogios que uma mulher pode receber, mas só ser desejada de nada adianta: quando acaba o suadouro, o que resta? Se o que interessa é a movimentação, tudo bem. Mas se existe a possibilidade de ser esmagada pelo vazio de sentido após orgasmo, de nada vale. Pelo Menos  se não vier acompanhado de cuidado, carinho. Pensei, então, que ele seria a pedra fundamental pra despertar meu amor. Mas carinho é um sentimento abrangente demais: nos invade desde a visão de um cachorro abandonado até a palavra confortadora de um desconhecido. Um dia cansei de tentar adivinhar. E, nesse dia, após tantas enumerações paralisadoras e neuróticas, descobri. Hoje sei exatamente o que me faz amar um homem: o amor existir. Quando é necessário justificá-lo, procurá-lo racionalizá-lo, é sinal de que ele não está ali. Simples assim”. (Aillin Aleixo – Escritora).

“O que tem sido amar para você? Como tem tratado a pessoa que está ao seu lado? O dia dos namorados assim como cada novo dia em sua vida pode ser uma excelente oportunidade para essa reflexão sobre a valorização do amor”.

“Paixão é acertar com a pessoa errada e vê-la ir embora, amar é errar com a pessoa certa e mesmo assim, vê-la ficar.”

Ludwig Plateau.

 

(Fontes: Dia dos Namorados, Amor e Paixão na Filosofia – A.F. Ronnison/O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec/ A Valorização do Amor – Blog Mundo Maior/Cultura e Tendências – Frei Jaime).

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