Mirem-se no exemplo dessas mulheres

Por Francisco Santana

Um passo por vez, um degrau por vez, galgando diariamente seus direitos fundamentados na liberdade, fraternidade, igualdade e respeito. Assim vemos o desenvolvimento das mulheres que lutam pelos seus direitos coletivos, jamais pela individualidade.   “Elas já andaram devagar porque já tiveram pressa, sempre levando sorrisos otimistas que clareavam seus rostos de mulheres guerreiras”. Pelo sofrimento elas se cansaram de chorar e hoje se sentem mais fortes, mais felizes, quem sabe pela certeza das vitorias da classe. As mulheres sempre lutaram nos movimentos de contestações e mobilizações ao longo da nossa história. No período obscuro da ditadura, elas resistiram bravamente se organizando em clubes de mães, associações, comunidades eclesiais, em movimentos contra o custo de vida e por creches. Participaram de movimentos estudantis, partidos políticos e sindicais. Em quantidade menor que os homens, elas empunharam suas armas, na tentativa de derrubar o regime militar onde foram duramente reprimidas. O movimento pela anistia começou com elas que agiam e lutavam por um Brasil digno para elas viverem e criar suas famílias e serem reconhecidas e respeitadas como mulheres. 

 

Antes, “elas miravam no exemplo daquelas mulheres de Atenas que viviam pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas. Que quando amadas, se perfumavam, se banhavam com leite e se arrumam suas melenas. Quando fustigadas não choravam, se ajoelhavam e se imploravam. Quando seus maridos foram para a guerra elas teciam longos bordados e quando eles voltavam sedentos querendo arrancar violentos, carícias plenas e obscenas.” Seus sonhos de liberdade e emancipação eram seus projetos de vida. A tradição patriarcal e machista da sociedade brasileira foi defrontada nessa época com questões referentes às mulheres: o direito ao estudo, ao trabalho, à participação política, ao uso de contraceptivos. Ou seja, a busca por direitos individuais e coletivos que lhes garantissem a condição de cidadania plena. Para os conservadores, as mulheres deveriam cuidar apenas do espaço privado, da educação dos filhos, da ordem doméstica de trabalhos manuais e deveriam cuidar de sua honra vestindo-se adequadamente, sabendo se comportar recatadamente. Na classe operária as mulheres já trabalhavam nas fábricas têxteis ou como empregadas domésticas, entre outras ocupações. Algumas trabalhavam como professoras, enfermeiras, secretárias, ainda que não fosse de forma contínua. A constituição de 1934, por exemplo, promoveu, pela primeira vez, a igualdade entre os sexos. Já ao longo do século, as mulheres conquistaram – através de muitas lutas – outros direitos fundamentais, como a possibilidade de votar e ser votada, assim como a proibição da diferença salarial por motivo de sexo.

Nem tudo foi resolvido. A luta continua. Ainda hoje as mulheres ainda encontram problemas estruturais, dificultado a busca por igualdade social em todos os aspectos. Apesar da popularização dos debates sobre a igualdade de gêneros, o feminismo e o combate ao machismo, ainda é comum ler e ouvir relatos sobre desigualdades salariais, violência sexual, feminicídio, baixa representatividade política, entre outros. Nessa data comemorativa ao Dia Internacional da Mulher, elas ainda enfrentam alguns problemas que devagar e sempre serão solucionados. Elas são munidas de fortes argumentos e tem o respaldo de toda a classe feminina. A desigualdade racial é um deles.  A diferença salarial entre homens e mulheres ainda é um grande abismo. A mulher branca é bem mais remunerada que a mulher negra. No que tange a violência, as mulheres negras são as maiores vítimas de feminicídio no país. Na educação, apenas 5,2% das mulheres negras no Brasil alcançam o ensino superior, contra 18,2% das mulheres brancas. Outro problema sério enfrentado por elas é o assédio no transporte público, local em que as mulheres sentem maior risco de sofrerem algum tipo de assédio. As assediadas clamam por medidas protetoras como: aumentar as penas para quem comete violência contra a mulher, agilizar o andamento da investigação das denúncias e ampliar os serviços de proteção a mulheres em situação de violência em todas as regiões da cidade. Temos ainda a violência sexual e doméstica muito comum entre pais e filhas, irmãos e irmãs, padrasto e enteadas. Essa violência ocorre na maioria das vezes na própria casa da vítima. Temos também desigualdade no mercado de trabalho. As mulheres na sua maioria fazem o mesmo trabalho que os homens e seus salários são bem diferenciados. 

As metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS se baseiam em promover mudanças de hábitos como: acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda parte; eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual e de outros tipos; eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos prematuros, forçados e de crianças e as mutilações genitais femininas; reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não remunerado, por meio da disponibilização de serviços públicos, infraestrutura e políticas de proteção social, bem como a promoção da responsabilidade compartilhada dentro do lar e da família, conforme os contextos nacionais; garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública; assegurar o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos; empreender reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, serviços financeiros, herança e os recursos naturais, de acordo com as leis nacionais; aumentar o uso de tecnologias de base, em particular das Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC, para promover o empoderamento das mulheres; adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação exequível para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas, em todos os níveis

Sintetizando: “A mulher quer ser tratada com educação e respeito, vestir da forma que lhe aprouver, sem indignações e olhares curiosos, malhar numa academia sem ser devorada ou despida pelos olhares maliciosos e de assédios fúteis, ser respeitada como mulher profissional, esposa e mãe, ter direito a defesa contra as opiniões machistas, ser protegida por leis intimidatórias contra os abusos físicos, psicológicos e feminicídio. A mulher quer ir a campos de futebol sem ser vaiada e admoestada por torcedores machistas e mal amados; andar na rua sem incômodos; participar da política nacional para defender suas companheiras; ter sua opinião e expô-la sem o rótulo de feminista, marxista, lulista, bolsonarista, extremista, nazista, comunista e fascista; ter direito a praticar qualquer culto de cunho religioso; ter o direito sagrado ao respeito pela sua opção sexual; ao direito de ir e vir; ser companheira e amiga do esposo ou companheiro. A mulher quer ser ponte e jamais muro, pois, “há muros que só a paciência derruba. Há pontes que só o carinho constrói”. (Cora Coralina). 

A lenda do pelicano

“Conta uma lenda medieval que um pelicano saiu de seu ninho em busca de comida para os seus recém-nascidos filhotes. Não notou que por perto se escondia um predador, só esperando a sua ausência para atacar o ninho. Mal o pelicano desapareceu no horizonte, o danado atacou os coitadinhos, que ainda não tinham aprendido a voar e nem a se defender. O predador devorou a todos, só deixando como sobras as pequeninas ossadas com as penas que mal começavam a despontar. Quando o pelicano voltou ao ninho viu a tragédia que ocorrera. Atirando-se sobre os corpos dos filhos chorou horas e horas, até que suas lágrimas secaram. Sem mais lágrimas para chorar pelos filhos mortos, começou a bicar o próprio peito, fazendo verter sobre o corpo dos pequeninos o sangue que jorrava dos ferimentos que ele mesmo provocara com aquela mutilação. No seu desespero não percebeu que as gotas do seu sangue, pouco a pouco iam reconstituindo a vida dos seus filhos mortos. E assim, com o sangue do seu sacrifício e as provas do seu amor, a sua família ressuscitara”.

Que esse sangue milagroso caia sobre a população sofrida da UCRÂNIA. Assim desejo e assim espero. 

 

(Fonte: Sites, Fala Companheira/Os desafios das Mulheres na Atualidade/ Músicas: Mulheres de Atenas – Chico Buarque/Tocando em frente – Almir Sater/Wikipédia).

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