Menino passarinho com vontade de voar – Parte 2

Por Francisco Santana

“Liberdade de voar num horizonte qualquer, liberdade de pousar onde o coração quiser” 

(Cecília Meireles).

– Não! Eu não disse que quero que os passarinhos me ensinem a voar. Coitados, é muito peso para eles carregarem nos bicos e nas asas. Eles não merecem mais sofrimentos, já bastam aqueles que são prisioneiros dentro de gaiolas e na maioria das vezes com maus tratos. Prefiro deixá-los voarem e eu a olhá-los imaginando e sonhando. O vôo da liberdade faz seus cantos mais bonitos. Voar é liberdade, um sonho que tenho quando fecho os olhos. 

– Quando surgiu essa sua idéia de voar e de se sentir livre?

– Eu lhe contei que todas as noites minha mãe lê alguma coisa para eu refletir e depois dormir. Outro dia ela contou a história do Ícaro, que na mitologia grega, tentou deixar Creta voando — sofreu uma queda e morreu nas águas do mar Egeu e, do avião 14 Bis inventado pelo brasileiro Alberto Santos Dumont, que realizou um vôo de 220 metros em Paris. Essas histórias me fizeram apaixonar ainda mais pelos passarinhos.  

– Eu tenho um amigo que se empolgou tanto com a história do Ícaro que pulou do segundo andar de sua casa com um guarda chuva aberto. Ele quase morreu, teve várias fraturas no braço esquerdo e inúmeras escoriações pelo corpo. Ele ficou muito tempo sem comparecer ao colégio. 

– Seu amigo é loucasso (risos). Isso eu não faria (risos). Ainda bem que não morreu. 

– Sua mãe já leu para você contos do livro “As mais belas histórias” de Lúcia Casasanta?

– já sim. Achei as histórias simples demais. Eu prefiro histórias de desenvolvimento do ser humano, que nos transforma em pessoa boa, que me prenda a atenção e que me acrescente valores morais ou virtudes, como diz sempre meu pai. Atualmente recebo lições do ”Evangelho no lar” duas vezes por semana. Meus pais fazem a leitura, explicam e tiram nossas dúvidas. Eles sempre comparam as histórias com fatos que estão acontecendo na atualidade. Isso reforça as lições. O dia que não tem a leitura do Evangelho Espírita a gente reza em intenção às famílias que estão sofrendo com o coronavírus, pedimos a Deus para o ser humano ser mais responsável e eu aproveito para pedir proteção para os animais.  Em casa a gente usa muito o álcool em gel para higienização das mãos e quando vamos à rua sempre usamos máscaras e mantemos distância de dois metros das outras pessoas. A gente tem saído de casa só em caso de necessidade, ficar em casa evita o contato com o coronavírus. Ontem a lição foi interessante. Meu pai falou sobre o “O homem de bem” na visão espírita de Allan Kardec.

– Qual foi o item que você mais gostou? Você acrescentaria mais algum ao texto original?

– É aquele que fala que o homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque vê todos os homens como irmãos. O homem de bem não tem ódio nem rancor, nem desejos de vingança. A exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas, e não se lembra senão dos benefícios. Porque sabe que será perdoado, conforme houver perdoado. Eu acrescentaria mais um item: Homem de bem é aquele que respeita, alimenta e protege os animais. 

– Como é bom conversar com você que é um menino muito inteligente e que se preocupa com os animais e com os seres humanos. Parabéns!

– Obrigado. Se sou assim agradeço aos meus pais que são em nossas vidas Espíritos de Luz que iluminam nossos caminhos. Meu pai costuma dizer que nós devemos ter luz própria para espelhar aos outros. Eu acho que não custa ser bom ou pelo menos, tentar ser bom. A gente fica feliz em ajudar e Deus se orgulha da gente. 

– Você é um menino incrível! Aprendo muito com a sua humildade, bondade e paz que você emite.

– Você notou que colocamos mais vasilhas de alimentos e águas no passeio de nossa casa? Fizemos isso porque aumentou muito a quantidade de cachorros famintos e com sede. A nossa vizinha tem contribuído muito. Toda manhã ela aparece e enche as vasilhas de ração e água. Vários vizinhos estão fazendo o mesmo em suas casas. Eu converso muito com os cachorros que aqui vêm comer. Eles não falam, mas o brilho dos seus olhos e no abanar de suas caudas, percebo que estão felizes e agradecidos. Eles parecem sorrir. 

Felipe me emociona com suas narrativas. Ele é um menino diferenciado, de espírito evoluído de Luz. Pensei que o conquistaria falando sobre os livros, “As mais belas histórias” de Lúcia Casasanta ou “O pequeno príncipe” de Antoine Saint-Exupery. Eu me esqueci que estamos no século XXI, que os tempos são outros. Felipe admira mesmo é a figura do Allan Kardec coma sua Doutrina Espírita. Seus pais estão de parabéns, criam os filhos para serem e não para terem. 

(Fontes: O Evangelho segundo o espiritismo/O Livro dos Espíritos, Allan Kardec).