Dia das Mães era bom antigamente…

A crônica de Leonardo Lisbôa

O   ato   de   escrever   é   mesmo   uma loucura   ou    sua catarse   para   não   perder   o   tino   de  uma  vez.   Na   mercearia   vi   aquelas   violetas   e   gérberas   e   lembrei-me   de   minha   mãe.  Ela  gostava   de   ambas:   violáceas   no   alpendre   da   varanda   e   a    outra   no   jardim.   Vi   e   comecei   mentalmente   a   construir   o   texto   para   depois   produzi-lo   aqui.   Comecei   o   tricô   das   ideias…

Dia   das   Mães   era   bom   antigamente…

Na   escola   infantil  as   meninas   confeccionavam   roupas   de   papel   crepom   e   bordavam   caligrafias   no   quadro-negro,   que   depois   se   tornou   de   giz   e   agora    aquele   que    se   escreve   com   hidrocor    e   é   branco.   Tudo   foi   se   desbotando   como   ele,   o   quadro   de  escrever.   Isto   tudo   era   para   homenagear   a   mãe;    desde  a   que   era   respeitosamente   chamada   de   professora   como   as   demais   ali   representada   pelos   alunos.   Houve   um   ano   que   foi    vendido   um   compacto   de   músicas   naquela   capa   com   imensa   rosa   vermelha    fotografada.

Dia   das   Mães   era   bom   antigamente…

Houve   aquele   ano   em   que   meus   irmãos   já   trabalhando   compraram   presentes   para   ela.   O   irmão   uma   floreira   de   louça   e   a    irmã    uma   jarra    imitando    aquelas    que   eram    usadas   para   regar    vinho    em   taças.   Meu   pai    chorou!    Foi   a   primeira  e   única   vez   que   vi   este   inédito.   Aquele   homem   que   a   vida   embrutecera   e   os   costumes   cobrava   macheza   lembrou-se   de    sua   mãe   que   não   fazia   muito    tempo   morrera.

Dia    das   Mães   era   bom   antigamente…

Os   anos   se   sucederam   e   o    Milagre   Econômico   do    Senhor   Delfim   Neto   respigou   em   nós –  uma   oligarquia   materna   e   burguesia   paterna    falidas   saídas   do   meio   rural   e   que   viera   para   uma   cidade   pequena    onde   o    consumismo   começara   a   nos   seduzir.   As   prestações   a    perder   de   vista    possibilitaram     presentes   para   a   mãe,   presentes   que   na   verdade   era   para   todos   nós.   Eletrodomésticos   que   gelavam,   esquentavam,   faziam    sonhar   e   poltronas   onde   assistíamos   o   mundo   acontecer.

Dia   das   Mães   era   bom    antigamente…

Quando   então    reuníamos   todos   com   os    filhos   que   já    tínhamos    e   sobrinhos   que   se   faziam.   Ela   a   matriarca   usufruía    quitutes   que   a   outra   mãe,   a   da   cozinha   e   dos   serviços,   fazia   e   era   completado   com   o   que   noras   e   filhas   traziam.

Dia   das  Mães   era   bom   antigamente   e   agora   também   que   podemos   relembrar   estes   momentos   familiares  que   os   Deuses   Lares  romanos   nos   permitem   viver   novamente.   Pois   enquanto   houver   filhos   haverá  Dia   das   Mães   para   ser   comemorado   na   presença   delas   ou   em   nossas   memórias   que   as   eternizam    com   a   gente.

Bênção,  D.  Fia!

Bênção,  D.  Congo!

Bênção,  Vó   que   é   mãe   também!

Amém!

Leonardo Lisbôa

Barbacena, maio de 2018.

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Lei do Direito Autoral nº 9.610,

de 19 de Fevereiro de 1998.

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NOTA DA REDAÇÃO: Leonardo Lisbôa  é professor da rede pública de ensino de Minas Gerais. Fez sua especialização em História na UFJF e seu mestrado em psicopedagogia na Universidade de Havana, Cuba. Publica textos também no sítio www.recantodasletras.com.br onde mantém duas escrivaninhas (Perfis): o primeiro utilizando o próprio nome ‘Leonardo Lisbôa’ e o segundo o de ‘Poesia na Adega’.  Registro no CNPq: http://lattes.cnpq.br/0006521238764228