Copa de Futebol e uma Nação à Parte

A crônica de Leonardo Lisbôa

Estava  eu  no   hotel    cursando   minha   especialização   quando   toda   a   cidade   parou   para   assistir   um   dos   jogos   daquela   Copa   de   Futebol   em   1994.   O   Brasil   era   todo   festejo   como   ocorre   em   todas   as   COPAS   que   acontecem.    É   como   o   brasileiro   se   deixa   anestesiar   para   não   pensar   nos   problemas   do   país.   Há   24   anos.

 

Fazendo   um   exercício   de   memória,   outros   24   anos   havia   se   passado   desde   a   copa   de   1970.   Foi   a   primeira   vez   que    eu   tomava   consciência   do   movimento   futebolista   para   o   Brasil.   Tudo   era   uma   festa   Brasileira    metida   à   mexicana.   Algumas   palavras   reverberam   em   meu   consciente:   Guadalajara,   Pelé,   Tequila,   “Brasil,   ame-o   ou   deixe-o”,   “Este   é   um   país   que   vai   pra   frente”…    Outras   se   enterraram   no    inconsciente.   Eu   era   apenas   um   menino.

 

O   certo   é   que   o   brasileiro   era   anestesiado   por    um   ufanismo   tolo   e   sem   medida!

 

Enquanto   o   Imperialismo   Estadunidense   promovia   as   alienações,   a   América   Latina    mergulhava   em   Ditaduras   que   alijavam   seus   processos   democráticos.   O   importante   eram   os   cursos   de    Inglês   para   formar   elites   que    passeavam   nos   USA.

 

Torturas   eram   realizadas   nos   porões.   O   brasileiro   à   margem   ufanava   o   peito   acreditando   em   doces   mentiras:   “O   Brasil   é   um   país   em   desenvolvimento.”   E   obras   faraônicas   eram   realizadas   para    aparentar   desenvolvimento   e   mascarar   a histórica   corrupção   existente   desde   o   “Quinto   do   Ouro”…   Desde   quando   alguém   de   um   navio   gritou:   “Terras   à   Vista”.

 

Outras   copas   viriam…   Só   não   veio   a   alimentação   para   os   necessitados   que   não   têm   nem   o   quê   comer   direito   e   muito    menos   uma   copa   para   servir   refeições   em   seus   lares.   E   até   as   copas   das   árvores   estão   sendo   levadas    com   o   desmatamento   ilegal.

 

O   Brasileiro   assiste   alienado   o   curso   de   sua   História   enquanto   se   ufana   com    as   Copas   de   Futebol   e   com   este   esporte   que   paga   milhões   aos   seus   atletas.   Mas   não   se   preocupa   com   a   dignidade   de    sua    EDUCAÇÃO/PESQUISA,   com   sua   SAÚDE   pública,   com    o   direito   à   Moradia.

 

O   Brasileiro   gosta   mesmo   é   de   festa   e   é   indiferente   ao   que   acontece   no   país   como   relatado   no   filme   Flores   Raras   onde   a   poeta   Bishop   observa…

 

“…Elizabeth  demonstra   todo   o   seu   estranhamento   diante   da   naturalidade   com  a   qual   os   brasileiros   tratavam   o   golpe   militar   de   1964.   Enquanto   o   rádio   anunciava   o   Ato   Institucional   nº   1,   instrumento   que    “legalizava”   todas   as   perseguições,   punições,   cassações   de   mandatos   e   de   direitos   políticos,   ela   via   da   janela   do   apartamento   em   que   se   hospedava,   em   Copacabana,   pessoas   indiferentes   na   praia,   jogando  futebol   ou   tomando   banho   de   sol.”*

 

E   o   que   dizer   da   Copa   de   Futebol  de  2014  quando  as  emoções   futebolistas  se  misturaram  com  o  momento  político  que  o  Brasil   passava   e   tudo  serviu  para   justificar   mais   um   golpe   na   latina  e   antidemocrática  nação  brasileira?!  Políticos,  envolvidos  com   a   corrupção,  gritavam  suas histerias  em  apoio  ao  Golpe:  “Sim!  Sim!  Eu   voto,   sim   pela    minha   família”   contra   o   povão   brasileiro!

 

O   que   esperar   de   um   país   e   seu   povo  que   alienadamente   elegem corruptos   e   aos  poucos  vão   se   anestesiando   com   mais   uma   copa   de   futebol   que   paga   milhões   aos   que   dela   tiram   proveito?

 

Como   diz   os   postais   das   redes   sociais:   “Eu   quero   mais   é   pensar   na   COPA   DAS   ÁRVORES”.   Elas   têm   mais   importância   política   para   o   meio   ambiente   que   a   velha   politicalha   brasileira.

 

 

*Em “Flores Raras” filme de Bruno Barreto segundo Zarcilo Barbosa: https://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=230890

 

Barbacena, 11/06/2018

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NOTA DA REDAÇÃO: Leonardo Lisbôa  é professor da rede pública de ensino de Minas Gerais. Fez sua especialização em História na UFJF e seu mestrado em psicopedagogia na Universidade de Havana, Cuba. Publica textos também no sítio www.recantodasletras.com.br onde mantém duas escrivaninhas (Perfis): o primeiro utilizando o próprio nome ‘Leonardo Lisbôa’ e o segundo o de ‘Poesia na Adega’.  Registro no CNPq: http://lattes.cnpq.br/0006521238764228