CONTRA-ATAQUE: Na marca da cal….culadora

Por Sérgio Monteiro

Máscara, álcool em gel e…calculadora. Eis o kit do torcedor mineiro para este final de ano e para o início de 2021. Independente da camisa, a fé na matemática é imprescindível para as retas finais das Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Atleticanos ainda sonhando com o título, americanos apostando na volta à divisão de elite e cruzeirenses sem saber se olham para a parte de cima ou a parte debaixo da tabela. É conta pra todo gosto!

é conta pra tudo quanto é lado

O atleticano, que é aquele que poderia estar mais tranquilo, vê, aos poucos, a possibilidade de conquista do Brasileirão (o que não acontece há quase 50 anos), se dissolver. Na mesma intensidade em que assiste à queda de rendimento de seu time, o torcedor alvinegro acompanha o São Paulo colecionando vitórias e jogando por terra o equilíbrio que se alardeava para este Brasileirão 2020. Pra cada tropeço do Galo, uma vitória dos paulistas e o resultado disso é uma diferença cruel de sete pontos na tabela.

Claro que o final do ano do Galo ainda é bem melhor do que o que se poderia esperar nos primeiros meses de 2020. Depois das eliminações precoces na Copa Sul-Americana e na Copa do Brasil e a consequente demissão de Dudamel, o horizonte parecia complicado. Mas a chegada de Sampaoli fez os ânimos mudarem e o cenário tornou-se outro. A princípio, a ideia era montar um time competitivo e preparar terreno para que em 2021 o alvinegro entrasse como protagonista nos principais torneios, como manda a tradição do clube.

Isso, inclusive, foi dito pelo diretor de futebol Alexandre Mattos, que antes da bola rolar pelo Brasileirão, cravou que a briga seria pelo G-4 e não por título. O Flamengo ainda era o favorito e pelo caminho haviam outras equipes com mais tempo de trabalho do que o Galo. Mas o time mineiro foi encantando, assumiu a liderança, derrotou o próprio Flamengo duas vezes e o resultado disso não poderia ser outro senão a esperança em título esse ano mesmo. Expectativa que faz uma provável vaga na principal competição continental do ano que vem parecer pouco. É preciso, no entanto, acreditar – embora seja quase insano ter que pedir para o atleticano que acredite – no trabalho iniciado pouco antes da pandemia.

De fato, Sampaoli mudou a cara do time e as perspectivas são muito boas para o próximo ano, caso se confirme a permanência do treinador. Não sugiro ao torcedor alvinegro que largue a calculadora de lado, mas sim que saiba que em seu kit cabe ainda algo que está no DNA de qualquer atleticano: a fé no time e em dias melhores. Tudo indica que eles virão, como tão bem nos ensinou a turma do Jota Quest.

Fé que está difícil de pedir ao cruzeirense nesse momento. Acostumado a grandes títulos e a frequentar apenas a prateleira de cima do futebol nacional,o torcedor celeste se vê diante de uma crise que parece não ter fim. Prestes a completar 100 anos de uma rica história, o Cruzeiro carrega a calculadora na mão desde a primeira rodada da Série B. É apetrecho fundamental, que traz esperança, mas que também atordoa a vida da metade azul de Minas.

Afinal de contas, está mais do que provado que times grandes caem e, se não fizerem por onde, permanecem distantes da Série A. Com a punição da FIFA e os seis pontos a menos na tabela, o time agora comandado por Luiz Felipe Scolari passou o campeonato inteiro fazendo contas para evitar um vexame maior: a queda para a Série C em pleno ano do seu centenário.

Porém, a chegada de Felipão e alguns bons resultados fizeram com que o cruzeirense, ainda que de forma bem tímida, passasse a sonhar com uma vaga entre os quatro primeiros da tabela – lembrando que a Série B tem quatro campeões.O time venceu Chapecoense e América, que disputam a liderança da Segundona. Mas a confiança foi quebrada diante do… Confiança! Uma derrota em casa e o torcedor já se viu analisando a situação do Náutico. Uma vitória contra o Brasil de Pelotas, olho no G-4. Um empate com o CRB e olho no Z-4.

A melhora do time é real, mas notadamente se mostra insuficiente para uma mudança de rota, como fez o Guarani de Felipe Conceição. Infelizmente, a briga que se avizinha nessa reta final é pela permanência na Série B mesmo.Mais três ou quatro vitórias e a conversa está encerrada.

Uma conta que parece simples, mas que volta a escancarar o buraco em que dirigentes irresponsáveis jogaram o Cruzeiro. Pra complicar ainda mais, a situação financeira do clube, que já era crítica, tende a se complicar ainda mais na próxima temporada. Isso por causa da negociação feita com o elenco para a redução dos salários – (parte dos vencimentos ficou pra ser quitada em 2021) –epor causa das cotas de TV(menores em caso de permanência na Segundona). Isso sem contar, é claro, com as trágicas consequências trazidas pela pandemia do novo coronavírus. Mas essa não é uma conta apenas do Cruzeiro.

Sereno mesmo só o torcedor americano, que vê o time bem próximo do retorno à Série A. Com uma campanha praticamente irretocável, o Coelho, assim como a Chapecoense, tem a calculadora como aliada nessas rodadas finais. Com mais quatro ou cinco vitórias, o acesso torna-se realidade. Caberá ao clube um novo desafio: encontrar a fórmula para manter-se na divisão de elite do futebol nacional.

Sim, é preciso recorrer ao bom e velho Milton e ter fé. Além de uma calculadora amiga, é claro.

 

NOTA DA REDAÇÃO: Sérgio Gustavo Monteiro Macedo é jornalista, formado pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), em 2001. Uma de suas primeiras experiências no ramo foi como trainee do jornal O Tempo, onde fazia scouts em partidas de futebol dos times mineiros e da Seleção Brasileira, entre 1998 e 2000, quando passou a integrar a equipe do recém-criado portal Pele.Net, onde fez a cobertura diária dos principais times mineiros. Em seguida, teve uma rápida passagem pelo extinto jornal Diário da Tarde, onde atuou em algumas editorias, entre elas a de Esportes. De 2004 para cá, tem atuado como assessor de imprensa, quase sempre na política, com passagens pela Prefeitura de Barbacena, pela Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG) e pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG). Atualmente, é assessor de Gabinete na Superintendência Regional de Ensino de Barbacena, cargo que exerce desde dezembro de 2019.