Contra-Ataque: Futebol é resolvido dentro de campo

Sérgio Monteiro

Futebol é resolvido dentro de campo

 

Não valeu título, nem tampouco o acesso à Série A do Brasileirão que é o desejo principal de qualquer cruzeirense. Mas a vitória diante de seu maior rival no último domingo, nas condições em que se deu o clássico, foi e ainda está sendo bastante festejada pela torcida do Cruzeiro. A China Azul inicia a semana de alma lavada. Ainda preocupada e apreensiva, é verdade. Mas com a sensação de dever cumprido.

Mérito total ao treinador Felipe Conceição, que soube armar o time taticamente de forma impecável. Reconhecidamente com um time inferior ao do rival, o Cruzeiro soube anular as principais armas atleticanas, sem abdicar do direito de atacar. Vitória merecida e com gostinho especial para quem passou os últimos dois anos ouvindo gozações e sendo humilhado por conta de diretores irresponsáveis que afundaram o clube na maior crise de sua história.

A vitória celeste teve ainda outros personagens que se destacaram. Os atacantes Rafael Sóbis e Aírton, autor do gol e o goleiro Fábio, que salvou o time no início do segundo tempo, em chance clara de gol do adversário. Mas o grande trunfo desse time cruzeirense, nesse trabalho de Felipe Conceição, é o conjunto. O treinador, aos poucos, vem mostrando a que veio. O time vem subindo de produção e começa a criar no torcedor a confiança de que 2021 pode ser diferente de 2020. Até porque outros jogadores chegarão para a disputa da Série B.

Com o triunfo diante do Atlético, o Cruzeiro chega ao quarto jogo seguido sem derrotas no Campeonato Mineiro, com três vitórias e um empate, e sem sofrer um gol sequer. E de quebra, com o tropeço do América diante da Tombense, a Raposa ainda assumiu a vice-liderança do estadual, quatro pontos atrás do Galo. Restam duas rodadas apenas e dificilmente chegará ao topo da tabela, mas pra quem esteve ameaçado de nem se classificar para as semifinais – algo que já aconteceu no ano passado – realmente saiu melhor do que a encomenda.

A vitória no clássico deve ser muito comemorada mesmo. É o alívio que técnico e jogadores precisavam para dar continuidade ao trabalho. Com relação ao torcedor, é a oportunidade de descontar nos rivais a gozação dos últimos anos. Se não devolve ao Cruzeiro a vaga na elite do futebol brasileiro, devolve ao seu torcedor o imenso orgulho de vestir essa camisa azul de tanta tradição e incontáveis conquistas. E, claro, de manter acesa a esperança do título estadual. Mas a comemoração não pode se estender. Na quarta-feira, o time já volta a campo, desta vez pela segunda fase da Copa do Brasil. A Raposa tenta, diante do América-RN, em Natal, a vaga na terceira fase da competição, o que garantirá aos cofres do clube um fôlego fundamental nesse momento de crise financeira.

Do lado atleticano, a derrota trouxe sérias consequências, como não poderia deixar de ser. Há uma semana da estreia na Libertadores, a torcida não soube digerir o revés para o Cruzeiro, ainda que a liderança na primeira fase do estadual não esteja muito ameaçada. Boa parte da Massa já pede a cabeça de Cuca, que soube fazer fora de campo o que não fez dentro dele. Em entrevista bastante lúcida após a derrota no clássico de domingo, o treinador chamou pra si a responsabilidade pelo fracasso do time e pediu dez dias para deixar o time afiado.

Além do treinador, outros jogadores badalados também estão sendo alvo da fúria do torcedor, como os atacantes Hulk e Vargas, que de fato ainda não justificaram em campo as suas contratações. Resta ao Galo agora erguer a crista e se preparar para os próximos jogos. No domingo, o time pode sacramentar a liderança do estadual e na outra quarta-feira, dia 21, tem a estreia na Libertadores diante do La Guaira, da Venezuela, fora de casa. O elenco deve satisfações ao seu torcedor sim, e a melhor forma de resolver isso é jogando a bola que todos esperam de um time que recebeu investimentos fora dos padrões em tempos de pandemia e pouca renda no futebol.

Como sempre acontece, o clássico não termina quando o juiz apita o fim do jogo. Ainda vai render muito, para alegria dos cruzeirenses e tristeza dos atleticanos. E esse clássico, em especial, trouxe a confirmação de que futebol é resolvido dentro de campo. Como diriam os mais antigos, jogo é jogado e lambari é pescado. Os investimentos milionários do Galo sucumbiram diante do modesto Cruzeiro. Quem respira com isso é o futebol!

 

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Crédito – Ramon Lisboa/EM/D.A Press