Carta para uma mãe

Por Francisco Santana

Mamãe, gratidão por abrigar, proteger e me permitir ficar morando no interior do seu corpo por nove meses envolto em águas límpidas, curativas e milagrosas. Gratidão por me amar e jamais pensar em práticas abortivas. A nossa ligação transcende a matéria e chega à alma numa reencarnação perfeita. Eu estava na sua fila e você tinha tudo para acabar com ela pelo que passou e está passando com a minha gestação. Por isso eu digo que entre nós, há uma reciprocidade de amor e lealdade. Entristeço ao pensar que você perdeu três filhos, todos em fase gestacional. A lembrança dói e maltrata o seu ser. Não vai adiantar nada eu dizer que você apenas emprestou o seu corpo para eles viverem o restante de suas vidas na terra. Aprendi com Alan Kardec “que os que partem antes de nós concluíram a sua tarefa e estão livres dos tormentos da vida terrena. Mas, como nos amam, continuam ligados a nós pelo pensamento, pelo sentimento, pelo amor que nos dedicam. Eles vivem e nos esperam para o reencontro”. Você se comportou com honradez. É fácil dizer para quem apenas assiste e muito difícil para quem passou pelos problemas. 

Você sempre teve o seu lado materno aguçado, não parando de tentar e hoje estou a caminho para nascer do seu âmago, nos conhecermos fisicamente e sermos felizes por uma vida longa e feliz.  Dói-me vê-la de resguardo total para salvar-me. Juro e prometo que o seu esforço não será em vão. Prometo amá-la e ser um filho que lhe trará carinho, amor, saúde e ser o seu exemplo. Sua barriga se estufa a cada dia e suas pernas incham de tanto eu sugar seus nutrientes para me tornar um ser saudável e feliz. Estou chegando não para substituir as que não tiveram o privilégio de se aconchegarem em seus braços, conhecerem seu belo sorriso e ouvir de seus lábios a expressão: “filhinho, eu amo você”. Eu quero ser eu na sua vida. Aquele que veio para encher a sua vida de orgulho e felicidade. Aquele que veio para transformar sua tristeza em alegria e ser a companhia para sua solidão. Eu quero ser aquele que vai tentar fazê-la esquecer pelas tristezas que passou. Eu disse tentar porque esquecer o que passou é impossível. 

Você, mamãe, sempre foi zelosa e comprometida com a sua felicidade e com as dos outros. Você se preparou muito para conceber e tornar mãe de um ser para  chamá-lo  de  filho. Só quem passou pela triste experiência e está passando com a minha concepção pode avaliar o valor de um filho para você. 

Passaram-se nove meses. Estava tão bom ficar naquela água quentinha, alimentação diária sem esforço e ouvindo declarações de amor da mamãe, papai, vovó, tio Xandinho e da prima Ana Luísa. Eu ouvia tudo e entendia tudo. A minha resposta eram chutes na sua barriga volumosa. Nove meses para mim e anos para você, era o que eu pensava. Entristecia-me assistir o seu repouso total numa cama esperando a minha vinda. A minha responsabilidade era grande diante de tantas expectativas. Chegou o grande dia de conhecer você, mamãe querida, e o mundo exterior. Cheguei chorando e só parei quando fui afagado pelas suas mãos e pelo seu colo aconchegante. Chegou o momento esperado, o de conhecer meus novos parentes com quem irei viver a partir das apresentações. 

A mamãe Ana Carolina foi a primeira a ser apresentada a mim. Ela é mais linda pessoalmente, dona de um sorriso marcante e de palavras doces. Conheci o meu pai Rodrigo, um galã hollywoodiano. Que pai gigante! Dois metros de simpatia e simplicidade. Olhei para a recepção do hospital e deparei-me com os sorrisos emocionados da vovó Catarina, tio Xandinho, tia Marina, vovó Edna, tia Carol, prima Ana Luísa e por fim, lá no berçário conheci o “babão” vovô Santana. Ele ficou comigo por muito tempo, fazendo juras de amor e contando casos. Eu cheguei a sorrir para ele. 

Nasci, desenvolvi e cresci. Pensei que não iria mais lhe dar trabalho, mamãe, mas a vida é uma constante mutação e cheia de surpresas. Com menos de três meses, operei de três hérnias e a deixei preocupada. Senti na pele o seu grande amor por mim e o meu por você. Com quase três anos, lhe dei outro susto, pois operei de adenóide e amígdalas. Foram fases de superação. Você sempre esteve ao meu lado me protegendo com perseverança e fé. Hoje já sou um homenzinho de cinco anos que visa o seu exemplo de honradez. 

É louvável o seu senso de respeito, paciência e amor para comigo. Juro e prometo honrá-la, respeitá-la, cuidar e obedecê-la nesse nosso sentimento sagrado. Nesse dia especial dedicado a você, quero lhe abraçar, beijar, agradecer e demonstrar todo o meu carinho, afeto, amor e gratidão que sinto por você. Ouvi o vovô Santana declinar um texto que  achei maravilhoso, propício e digno de ser lido e  dedicado a você, mamãe. Eu o dedico também com louvor à vovó Catarina, minha segunda mãe. Há na mãe um amor como nenhum outro, um sentimento tão forte que não há palavras para descrevê-lo. O filósofo, psicanalista e especialista em estudos da mente humana, Fabiano de Abreu, descreve-o como: “um sentimento único que somente é explicado quando transcrito por quem realmente o viveu que, de tão raro e único, só pode ser revelado por intervenção de quem cognitivamente viveu este sentimento alguma vez na sua vida, a mãe.”

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