Barbacena terá “Casa da Ciência e da Cultura”

A importância de se buscar abordagens diferentes para ligar as pessoas umas às outras e que possibilitem cidades mais humanísticas e “saudáveis”

Por Delton Mendes Francelino

Já faz um bom tempo que, após estudos na busca pelo conhecimento de maneiras como as pessoas interagem com o mundo e se constroem como sociedade, venho pensando em algum modelo de organização que pudesse representar um pouco do que acredito que precise ser uma tendência para o futuro. Sobretudo nos estudos no Doutorado, tive contato com perspectivas sociológicas como a Dádiva e também científicas a partir da Ecologia Urbana e Urbanidades. É interessante, e estimulante, notar que muito do que propomos hoje como princípios para a construção da sustentabilidade, por exemplo, já era perceptível em sociedades muito antigas, como as várias etnias indígenas brasileiras e povos asiáticos, africanos, dentre outros. Afinal, o que importa para a vida em sociedade? O que faz as pessoas sentirem-se felizes e conectadas ao meio no qual vivem?

Um ponto interessante de reflexão é o fato de que nós, humanos, somos seres necessariamente sociais e culturais. Nos adaptamos, ao longo de milhares de anos, ao ambiente, a partir também da nossa capacidade de interação em grupo. Criamos as primeiras cidades a partir da agricultura somente há cerca de 10.000 anos e, desde então, temos complexificado as relações sociais e culturais. Hoje, somos uma macro sociedade global, unida, de certa forma, pela era das redes, da internet, mas, por outro lado, extremamente carente de laços sociais que antes eram comuns à vida de qualquer pessoa. Será que pensar no futuro da humanidade e do planeta, de todos os outros seres vivos, tem relação direta com o resgate de formas de vida que tínhamos? Será que se trata de pensar e propor novas culturas também, dentro do espaço urbano, que sejam capazes de nos trazer o afeto, o contato, a felicidade?

Exatamente por isso a “Casa da Ciência e da Cultura de Barbacena” não possuirá uma sede única e fixa. São espaços vários que, notando a importância da Ciência e da Cultura, e desta necessidade de criar pontes, conexões entre as pessoas na busca por um mundo mais humano, mais sensível, conectar-se-ão em uma rede. A Casa da Ciência e da Cultura é, portanto, como a raiz de uma árvore numa floresta:  a base que a nutre é um conjunto de fatores, distribuídos, em rede e em conexão. Conectar para significar e construir; para relacionar pessoas e suas experiências. Pontes para retornar à essência do que nos caracteriza como espécie que sente, pensa e vive.

Na atualidade, movimentos que deslegitimam o fazer científico crescem no Brasil. Discursos que se apropriam das fragilidades das pessoas também, nas mais diversas plataformas, sem qualquer embasamento. Trata-se, portanto, de uma discussão também ética. Será que as pessoas sabem o que de fato é a Ciência? Será que as maravilhosas descobertas que a Ciência favorece, chegam até as pessoas, sobretudo populações do interior? Como a Ciência pode ser mais humanística? E a Cultura? Por que ainda é entendida como um aspecto elitista por tanta gente, inclusive gestores públicos, que não valorizam o fazer cultural local, as expressões sociais tidas e construídas no âmbito de comunidades, de identidades e memórias que, sob o prisma do desenvolvimento economicista e utilitarista, têm sido descartadas, desestimuladas há tempos?

É neste contexto que surge a “Casa da Ciência e da Cultura de Barbacena”, após um processo longo que chamo de “Mapeamento Ecocultural”: um lar rizomático para o debate Científico e para o Fazer Cultural; um lar que terá vários “quartos” espalhados pela cidade, verdadeiros espaços de esperança, carregados de vontade de estabelecer para Barbacena mais que ambientes de entretenimento, mas, em primazia, ambientes que serão trincheiras de resistência num mundo paradoxalmente desconectado do que nos torna humanos: os vínculos sociais e a criatividade.

Conheça um pouco mais, de forma por enquanto temporária, sobre a “Casa da Ciência e da Cultura de Barbacena” clicando neste link: https://linktr.ee/deltonmendes . Assim como tudo na natureza, não é um projeto definitivo e rígido: estará sempre em movimento e em construção, adaptando-se e reorganizando-se. Em breve mais informações serão oferecidas e agradeço sempre ao apoio do Barbacena Online, que há mais de 10 anos é parceiro direto de todas as minhas ações culturais, ambientais e científicas na cidade e no Brasil.

Contato: https://www.instagram.com/delton.mendes/ e deltonmusica@gmail.com

Acesse o Podcast “Falando de Ciência e Cultura com Delton Mendes” no Spotify: https://spoti.fi/3aW9DOv

NOTA DA REDAÇÃO – Delton Mendes Francelino é professor, cientista e produtor cultural. Diretor-criador do Instituto Curupira e Coordenador do Centro de Estudos em Ecologia Urbana do IF, Campus Barbacena. Comunicador científico em jornais, Podcasts, rádios no Brasil e exterior. Autor de dois livros.

 

Apoio divulgação científica: Samara Autopeças e Jornal Barbacena Online

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