Atravessar

Débora Ireno Dias

Chegamos! Chegou o final do ano, ou será o final da fase de um jogo? Sim, parece que 2020 foi um jogo – “a vida é um jogo”, já cantavam – cheio de regras e desafios a serem transpostos. Como em todo jogo com regras, alguns as seguem e outros as ignoram. Independente de quem as seguiu ou não, chegamos até aqui, e vamos passar de fase. Vamos atravessar para o outro lado carregando o que conseguimos ser, fazer, viver, sentir, experimentar ao longo do caminho percorrido: dor, alegria, angústia, tristeza, medo, incapacidade, intolerância, tolerância, empatia, compaixão, falta de confiança, confiança e tudo o mais que se traz na “mochila da alma”.

Outro dia, li algo a respeito do cacto: planta que é resistente, que precisa de pouco para sobreviver, resiste à aridez do solo, mas que precisa de muito sol para continuar firme. Como não nos comparar com ele?! Como cactos, aprendemos a sobreviver sobre um “solo árido”, duro, seco de sentimentos e comportamentos felizes e amigáveis. Aprendemos a viver com menos material e a ver que o essencial é aquilo que vivenciamos com quem amamos – mesmo que as vivências tenham sido virtuais. Aprendemos que o sol é essencial, principalmente naqueles dias mais sombrios, em que a angústia apertava o peito; mas que o Sol da nossa vida – Deus – estava ali a nos aquecer e não deixar que caíssemos nas areias do nosso deserto pessoal.

Sempre que corro, passo por umas “pinguelas” na Rua Noé Lima. Olhei para uma delas hoje e me lembrei da travessia da vida na qual estamos. Hoje é uma travessia de tempo. Uma nova década irá começar. Precisamos atravessar sabendo o que levar na mochila: o que aprendemos em 2020, o que será necessário e o que não é essencial.

Estou aqui na sala, vendo TV, escrevendo, analisando o que fui, o que vivi, o que pude ser e aprender em 2020. Na verdade, não consigo chegar a uma conclusão. Ainda estou em análise! Há muito que celebrar, certamente: meus pais, eu e Marido, minha família, amigos, o quanto me senti protegida e amada em meio ao caos, as oportunidades que tive para também proteger o Outro. E as pequenas conquistas diárias da vida “quarentenada”. Há muito que se pedir: pelos que lutam pela Vida, pelos que sofrem as sequelas da pandemia, seja no físico, seja no material, seja na alma.

Olho o cacto que tenho aqui, olho a “pinguela” que me chama à travessia. Resistência, coragem, com doses cavalares de empatia, compaixão, respeito. Amor em ação! O aprendizado de 2020 esteja na mochila da alma em 2021. Mãos estendidas para nos acolher e passarmos juntos. Mas com máscaras e proteção, sem aglomeração. Cuidados! Ainda há uma pandemia e a vacina, pelo jeito, não chegará aqui tão cedo. Então, saibamos nos comportar nesta travessia. Responsabilidade coletiva e social! Cuidemos uns dos outros. Deus cuida de nós!

E para quem está sem esperança – e muitos estamos “…para quem tem fé, a vida não tem fim…”

Saúde! Fé! Esperança! Vacina para todos! E bênçãos de Deus!