Arraiá do Chico Santana

Por Francisco Santana

O coronavírus deu uma trégua e deixou o Brasil comemorar os festejos juninos com força e vigor. O ponto alto é a tradicional quadrilha, um estilo de dança folclórica coletiva muito popular no Brasil. Essa dança de teor caipira é típica das festas juninas que geralmente acontecem nos meses de junho e julho em todas as regiões do país. É um espetáculo de cores e coreografias. Os homens costumam vestir calça jeans e camisa xadrez, utilizando botas. Já as mulheres tem duas opções, ambas são perfeitas para esta comemoração, a primeira é composta de calça jeans e camisa xadrez, com botas cowboy ou montarias. A segunda opção é um vestido xadrez ou estampado de flores e botas. O que não falta é criatividade.

Nos meses de outubro e novembro de 2022 especificamente teremos mais quadrilhas. Nessa, as vestes são feitas de materiais mais refinados onde os homens usam ternos e as mulhers estilo clássico. Santana, vamos voltar ao assunto inicial sobre os festejos juninos? Desculpe-me, fui falar sobre quadrilha e quase me perdi. “Antônio ia se casar, mas Pedro fugiu com a noiva/na hora de ir pro altar/A fogueira está queimando,/o balão está subindo,/Antônio estava chorando/e Pedro estava fugindo./E no fim dessa história,/ao apagar-se a fogueira,/João consolava Antônio,/que caiu na bebedeira”.

Quando eu era criança, pertinho da minha casa tinha um terreno baldio que servia de campo de futebol. No mês de junho, ele se transformava em palco para os festejos tradicionais.  A rua era em toda a sua extensão, enfeitada com bandeiras multicoloridas confeccionadas pelos moradores. Elas bailavam pela ação do vento proporcionando efeitos maravilhosos. Os postes eram enfeitados com balões de todos os tamanhos e cores. O cenário era atraente, o visual era deslumbrante. No centro do terreno, quatro voluntários montavam a fogueira e mais de dez davam palpites. Quando acesa, as grandes labaredas subiam ao céu, fornecendo um grandioso espetáculo para se guardar na memória. A platéia as saudava com palmas e de viva São Pedro e São João.

As pessoas se amontoavam perto da fogueira para se aquecerem e para assarem pinhão, batata doce e milho verde. Era comum ver gente queimando os lábios, a língua e as mãos na ânsia dos produtos assados. Num canto, três voluntários faziam um buraco enorme no terreno para colocarem um mastro de madeira de aproximadamente cinco metros que ficava posicionado solidamente no chão. Em seu topo, colocava-se um triângulo de madeira com dinheiro preso nele. Esse mastro era untado com óleo queimado. Muitos aventureiros em busca do dinheiro não conseguiam subir um metro sequer. Era muito escorregadio. Eu gostava de incentivar os colegas, mas nunca tentei subir. Minha mãe dizia; “Vai à quadrilha? Pode ir, se voltar sujo ou com cheiro de sebo, vai levar uma surra!” Que mãe brava eu tive. Acredito que se ela corresse atrás de mim, eu seria capaz de galgar o mastro só de medo. 

Enquanto eu assava minha batata doce, ouvi aplausos e gritos: “Vai Miguelzinho, sobe! Você consegue! Falta pouco!” Miguelzinho era nosso amigo que já estava chegando ao topo do mastro para pegar o seu dinheiro. De repente ele parou a dois metros do prêmio. Silêncio total. Num esforço hercúleo ele chegou ao topo e teve mais dificuldades em tirar o envelope onde estava o dinheiro do que subir no pau de sebo. Para descer, foi fácil. Fomos lá cumprimentar o vencedor e saber o quanto de dinheiro tinha no envelope. Ao chegar ao chão, Miguelzinho saiu em disparada para sua casa talvez para contar o seu grande feito à sua mãe. Miguelzinho, o herói da noite.

À tarde, a quadrilha era das crianças. Elas eram treinadas exaustivamente pela minha finada irmã Sônia Santana que se orgulhava de ensinar e ver o belo show chegando às lágrimas. À noite a quadrilha era dos adultos. Todos caracterizados inventavam passos de dança e a grande maioria imitava o andar desengonçado do Mazzaropi. Era divertido assistir o desempenho dos dançarinos. Nas laterais se instalavam algumas barraquinhas que vendiam pinga, cerveja, quentão, pamonha, canjica, pé de moleque, pipoca e muitos outros típicos para toda a família aproveitar.  

Atenção, damas e cavalheiros! Prestem atenção ao meu comando! Vamos começar o nosso show! Balancê! Anavam! Retournê! Tour! Seguem os passos. Cumprimento às damas! Cumprimento aos cavalheiros! Damas e cavalheiros trocam de lado! Grande passeio! Trocar de damas! Troca de cavalheiros! O túnel! Anavam tour! Caminho da roça! Olha a cobra! É mentira! Olha a chuva! É mentira! Caracol! Desviar da grande roda! Coroar as damas! Coroar os cavalheiros! Duas rodas! Reforma a grande roda! Despedida! 

“Cai, cai, balão! Cai, cai, balão! Aqui na minha mão/Não cai, não! Não cai, não! Não cai, não!/Cai na rua do sabão”. “Pula a fogueira Iaiá/Pula a fogueira Ioiô/Cuidado para não se queimar/Olha que a fogueira já queimou o meu amor”.

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