A terra queima…

Por Debora Ireno Dias

Tudo parecia crescer do jeito certo, no seu devido tempo. Raízes se aprofundando. Terra fértil, preparada por mãos conhecedoras do assunto e corações ávidos por ver a vida renascer, permitiu que as mudas se fortalecessem e pegassem, apegassem ao solo que as acolhia. Começaram a crescer, assumindo a missão para a qual foram plantadas: trazer vida, dar vida. Crescer, florescer, dar frutos e sombra. Proteger. 

Como toda vida, estas precisam de cuidados. E são cuidadas. Mas numa tarde bonita de outono, de céu azul e sol dourado, quando este já se retirava para dar lugar à lua, veio um clarão com seus estalos trazendo o medo, a tristeza, a dor.

A terra seca não suportou as ameaças e, muito rapidamente, recebeu o calor nada aprazível de um fogo mortal. Entre estalos e fumaça, clarões e galhos, a água amiga veio para refrescar e apagar o mal que ali matava mais do que árvores, apagava vidas e sonhos. O fogo acabou. Foi um susto que sustenta a ideia de que a vida é finita, rápida, curta. Que talvez não dê tempo de realizar nossos sonhos, nossa missão. Que talvez aconteça de um “fogo” devorar o que há de bom e bonito em nós, mesmo que esteja no início da Caminhada. Que talvez a “água” não chegue a tempo de nos salvar. 

Falo da reserva ambiental. Falo de mim. Falo de cada um de nós que ali esteve. Que ali estará para plantar, para replantar, para renascer. Para fazer a Vida ser bonita, de novo e de novo e de novo.

O incêndio trouxe uma dor a cada um que o viu, seja de perto, seja pelas mídias. Transbordou no coração um sentimento que já vem chegando há semanas, diante de tudo o que temos vivido e visto e experimentado: desalento, desamparo, angústia, falta de esperança. Ver a terra cinza e seca foi como ver os corações de tantos que sofrem pela pandemia, pelas injustiças sociais, pela expectativa do que virá após….se terá um após! 

Mas por a mão na terra cinza e olhar as mudas ainda de pé, e ver que ainda há muito verde e muitas mudas e muita vida ao redor, fez-me sorrir – por trás da máscara – e sentir a Vida que há aqui dentro, o coração que pulsa forte. Na Mãe Terra, em mim, em você e em tantos que acreditam, ainda – mesmo com tanta dor e desalento ao redor e dentro de si – que ainda temos chance! Ainda temos pelo que lutar e acreditar! Ainda temos! E podemos! 

Cuidar da terra seca, cuidar das mudas que fincaram raízes e não sucumbiram ao fogo. Cuidar das sementes que ali ficaram. Trazer água, trazer adubo. Plantar, cuidar, renascer para viver. 

Falo da Terra! Falo da reserva ambiental. Falo do meu coração, do seu coração! Terra mais sagrada não há!

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