A solidão em tempos de pandemia: a falsa sensação da conectividade entre as pessoas

Talvez nunca tenhamos nos sentido tão só quanto agora, neste período de pandemia e quarentena.

Mesmo com o boom da globalização, o sentimento de solidão tem acompanhado muitas pessoas e trazido emoções diferentes, sofridas e até mesmo perigosas. Tem trazido também a certeza de que, apesar de contato virtual com pessoas do mundo inteiro, somos nós, sozinhos, o tempo todo, o que pode nos tornar vulneráveis na Internet.

 

A  pandemia aumentou ou piorou a sensação de solidão nas pessoas

A pandemia trouxe à tona muitas emoções, sobretudo aquelas relacionadas à solidão, ansiedade e depressão. Como já estamos a cerca de 100 dias em isolamento social, o que é sério em se tratando de pessoas, uma vez que somos seres sociáveis e que necessitamos, grande parte do tempo, de interação com outras pessoas.

Como estamos com restrição de contato, muitas pessoas estão adoecendo por solidão, medo, angústia, pânico. Os especialistas em Saúde Mental (Médicos psiquiatras e psicólogos) estão atentos ao que vem acontecendo e têm dedicado tempo significativo aos cuidados necessários às pessoas que necessitam de atenção especializada.

E esse momento conturbado tem trazido prejuízos tanto para adultos e idosos, como para nossas crianças.

 

Estar sozinho e estar solitário

Estar sozinho significa que mesmo sem outras pessoas ao seu redor ou seu lado, você consegue exercer suas atividades sem sofrimento e prejuízos. Na solidão temos um sentimento de vazio que pode congelar e até mesmo impedir que a pessoa realize atividades do dia a dia, trazendo um sentimento de impotência e angústia muito grandes, podendo levar a quadros depressivos, inclusive.

Estar sozinho nos diz sobre um estado da pessoa: posso passar o dia, a semana ou a quarentena sozinha e não me sentir solitária.

Ao contrário, na solidão, eu posso estar rodeada de pessoas o tempo todo e mesmo assim me sentir sozinha, angustiada, desamparada.

A forma como entendemos uma e outra condição são determinantes para o devido enfrentamento, ou seja, se será ou não necessária intervenção especializada.

 

Estar conectado com muitas pessoas nas redes sociais nos dá uma falsa sensação de amizade

Temos confundido conhecidos com amigos e, além disso, temos confundido pessoas que nunca vimos antes com amigos, o que pode ser casual, oportuno ou perigoso.

Casual porque nem sempre esses contatos feitos na Internet perdurarão a vida toda. Oportuno porque pode acontecer de conhecermos pessoas legais que passarão a fazer sim do nosso núcleo de amigos.

E perigoso por causa dos motivos óbvios: golpes financeiros, assédios de todos os tipos, perseguições, dentre outros.

Estar conectado a muitas pessoas na Internet pode nos dar a falsa impressão de que somos todos amigos, de que estamos todos sintonizados. Contudo, muitas pessoas não conseguem perceber o quanto é superficial o contato pela Internet, cujo cenário mais otimista nos dá a impressão de que é tudo perfeito, lindo, sociável.

E isto não é verdade. Estar conectado não diminui a solidão daquelas pessoas que realmente precisam de ajuda profissional, não transforma nossas vidas desbotadas em cenários mágicos e coloridos.

Saber diferenciar o que é real do que é ilusório nas mídias é fundamental para nossa saúde mental.

 

De que forma podemos nos resguardar e manter nossa saúde física e mental enquanto durar a pandemia?

– Antes de mais nada, cuide mais de si e menos do que não lhe diz respeito. Evite trazer problemas dos outros ou questões que não são suas, para a sua vida.

– Tenha um critério de aceitação para convites virtuais.

– Aprenda a diferenciar o que é real do que é fictício ou ilusório. Ditados antigos já diziam que a felicidade se guarda a 7 chaves ao invés de jogá-la ao vento ou, mais contemporaneamente, na rede. Não confie em tudo o que vê e lê; pode ser que muitas pessoas estejam vivenciando a mesma tristeza e solidão que você, mas também se lança na rede de ilusões que é a Internet.

–  Crie um círculo real de amizade e fique menos exposto aos comentários de quem não conhece você. Evite ou exclua convites que excedam o limite do que você quer e permite.

– Leia um livro, ao invés de alimentar-se com notícias ruins e enganosas nas mídias.

– Passe mais tempo com quem de fato é importante para você, mesmo que estejam distantes neste momento.

– Encontre um passatempo, uma atividade, aprenda algo de novo, viva de verdade!

– Cuide da sua casa, do seu corpo e do seu pensamento. Aproveite este período para se livrar de pessoas tóxicas, oportunistas e que em nada acrescentam em sua vida.

– Crie um plano de vida: pense em você e no que quer ser e fazer quando sairmos deste período.

– Harmonize-se com você mesmo! Aprenda que a sua melhor companhia é você mesmo!

E caso sinta necessidade, sinta-se realmente solitário e verifique que isto lhe traz prejuízos, procure por ajuda especializada. A Psicologia pode fazer muito por você!

 

NOTA DA REDAÇÃO – Valeska Magierek. Formada em Psicologia, com Especialização em Neuropsicologia e Psicobiologia. Trabalha com atendimento infantil há mais de 20 anos. Atualmente é Neuropsicóloga no Centro AMA de Desenvolvimento em Barbacena, Professora Universitária e Palestrante.