A busca contínua pela “conquista” do espaço: algumas perspectivas reflexivas

Por Delton Mendes Francelino, coordenador do Centro de Estudos em Ecologia Urbana do IF Barbacena, Diretor do Instituto Curupira e doutorando na UFMG. Host/ Podcast Falando de Ciência e Cultura –  https://bit.ly/31mEZVR   

Quem nunca observou o céu noturno, as estrelas, constelações, a Lua, planetas, e outros astros, e ficou se perguntando sobre diversos aspectos, como a origem de tudo, possível existência de outras formas de vida fora da Terra, ou, ainda, será que houve alguma inteligência que criou o cosmos? Essas inquietações estão presentes na humanidade há muito tempo, há milhares de anos, mas, somente nas últimas décadas, nossas tecnologias nos permitiram ir para além da Terra, a partir de dispositivos como sondas e naves espaciais, satélites e telescópios, que, com o tempo, foram evoluindo cada vez mais e nos lançando a descobertas impressionantes.

Atualmente, muita discussão tem ocorrido acerca da participação mais evidente de empresas, como a Space X, nas conquistas espaciais. Orgãos estatais, como a Nasa, estão ficando dependentes de parcerias diretas com esse setor, sobretudo no oferecimento de tecnologias. Ter curiosidade sobre tudo é inerente à humanidade, assim como buscar respostas, como a ciência faz, mas será que há um limite ético para onde essa curiosidade pode nos conduzir?

2020: um ano de muitas novidades na busca pelo entendimento de Marte

Somente no Sistema Solar várias pesquisas têm sido feitas, seja em planetas rochosos, como Marte e Vênus, seja em planetas gasosos, como Júpiter e Saturno, mas também em luas e sobre o próprio Sol. Terraformar, ou seja, simular as condições para vida terrestre em outros locais além de nosso planeta também tem sido foco de estudos. Somente neste ano, 2020, importantes processos ocorreram: a Space X, pela primeira vez na história, conseguiu lançar uma sonda espacial sem perder seu foguete, conseguindo pousá-lo para depois o reutilizar; além disso, tem inovado muito em várias outras áreas, como o lançamento dos satélites Starlink, que muitas novidades trarão nos próximos anos. Além disso, três missões não tripuladas foram enviadas para Marte apenas este ano, sendo a ultima realizada no dia 30 de julho, com o lançamento do Rover Perseverance, da Nasa, com o objetivo de entender se houve vida mais basal em Marte, em alguma era de sua história.

A tendência é que cada vez mais projetos ocorram com objetivos similares. Também já identificamos cerca de 5.000 exoplanetas, ou seja, planetas que estão em torno de outras estrelas de nossa galáxia, alguns dos quais com a aparente condição de abrigar a vida. Será que somos os únicos seres vivos presentes em nosso sistema solar, ou nossa galáxia, ou em nosso universo? Dificil saber. Todavia, é bem possível que nas próximas décadas muitas descobertas sejam feitas e nos lancem a uma antropoética diferente de compreensão de quem somos no cosmos. Esse é um ponto extremamente positivo da ciência: a capacidade de permitir a crítica, mudar modelos e assim se renovar sempre.

É preciso nos preocuparmos com a maneira como estamos começando a “praticar” a busca espacial?

Por fim, acredito que seja importante que os países discutam com maior senso de coletividade as questões relativas à exploração espacial, para que, num futuro não tão distante, não vejamos verdadeiras disputas e acirramentos de interesses pela região além da atmosfera terrestre, na qual há os satélites, ou mesmo pelo uso da Lua, dentre diversas outras possibilidades. Se cada vez mais empresas particulares se interessarem pelo turismo espacial, por exemplo, ou por outros modelos de geração de renda, como isso tudo será regulado? Quem terá direito de buscar entender e pesquisar o sistema solar? E se o capitalismo se apropriar de tudo isso de forma intensa e extensiva, como tem ocorrido com as regiões naturais da Terra?

Entender o nosso local no cosmos, os planetas e luas do nosso sistema solar é fundamental e mudou (e muda) as perspectivas que temos sobre nós mesmos. Mas, é preciso termos cuidado para que a ciência não seja deslocada de seu valor fundamental; e para que as grandes empresas não se apropriem de recursos naturais cósmicos que são patrimônio não apenas de nós, humanos, mas de toda a pátria cósmica na qual estamos e sobre a qual ainda tão pouco conhecemos.

Apoio divulgação científica: Samara Autopeças e Portal Barbacena Online