18 de outubro – Dia do médico

Francisco Santana e sua crônica semanal

Gosto de homenagear os profissionais da medicina e saudá-los nessa data tão significativa e expressiva – 18 de outubro. O médico é aquele ser compreendido, incompreendido, amado e odiado dependendo do seu diagnóstico. Essas avaliações se multiplicam rapidamente e um bom conceito emitido pela manhã pode se transformar no pior à noite. Importante é cerrar nossos ouvidos e não prejulgar, pois estamos vivendo uma fase perigosíssima das falsas noticias.  A minha cronologia me credencia a lembrar de muitas visitas médicas onde algumas me alegraram ,outras me entristeceram e muitas me fizeram rir, o que faço sempre quando me lembro. Foram contatos cômicos que eu como contador de casos, não posso deixar de retratar para homenageá-los nessa data.

 

Era comum na minha rua nos meus tempos de criança brincarmos de qual seria a nossa pretensa profissão quando nos tornássemos adultos. Uns queriam ser Motorista de caminhão ou de ônibus, Funcionário do Banco do Brasil, Aviador, Funcionário da Caixa Econômica Federal, Engenheiro, Trocador de ônibus, Jogador de futebol e eu sempre dizia que gostaria de ser Médico. Os colegas riam de mim, me chamavam de metido, esnobe, que só pensava em ficar rico. Eu tinha em mente que o Médico era eterno, não morreria jamais por saber lidar com as doenças e remédios. Para todo mal físico e espiritual ele tinha a solução eficaz e o segredo da eternidade. Os colegas me perguntavam: “Médico de quê?”. Evidente que perguntavam sobre a especialidade. Eu queria ser Médico de criança por vê-la sofrer, chorar e sem saber como se comunicar senão, pelo choro e pela dor. Outra área de atuação seria a psiquiatria porque me doía por dentro ver na rua em que eu morava doentes mentais sendo explorados, trabalhando como mão de obra sem valor e custos. Na época eu me perguntava: quem são os doentes mentais? Nós ou eles? A pergunta não tinha resposta, embora eu achasse que eram os tidos como normais. Mal sabiam os coleguinhas de brincadeira que eu desmaiava diante do sangue, da injeção e não era chegado a ver cadáver. Passar perto de funerária, nem pensar.   

 

Em 2003 eu me sentia incomodado por estar acima do peso. Colegas indicaram-me um profissional médico, tido como sensacional e maravilhoso. Ironicamente diziam que num simples aperto de mãos você já emagrecia dois quilos (exagero, claro!). Marquei uma consulta e às 12h lá estava eu cheio de esperanças e expectativas, todas positivas. Uma secretária muito simpática me atendeu e pôs-se a anotar meus dados numa ficha. Ao seu lado estava um jovem todo de branco e no seu bolso escrito: Dr. The Flash”.  Pensei: este é “o cara!”. A minha ficha foi entregue a ele que me disse sorridente: “ Vamos lá senhor Francisco!”. Para chegar à sua sala tivemos que andar num corredor de aproximadamente trinta metros. No percurso ele quis saber a minha idade, peso, se sou diabético, hipertenso, se como muito doce, chocolate, se tomo muito refrigerante, bebidas alcoólicas, se pratico esporte com regularidade e no final se eu queria perder 5, 10 ou 15 quilos. Eu optei por perder 10. Ele me disse: “Vou lhe receitar um remédio novo no mercado, não é barato, mas compensa comprar pelos resultados  obtidos. Você vai tomar um comprimido por dia em jejum”. Chegamos à sala. Ainda de pé ele abriu uma pasta, tirou de dentro dela uma receita impressa, carimbou, assinou e pediu-me que voltasse dentro de 30 dias”. Pasmem! Eu ainda estava na porta, de pé quando tudo isso aconteceu. Isto é ou não é um recorde? Na despedida ele me falou: “Por favor, chame Solange Costa que é a próxima paciente a ser atendida”. Da porta mesmo eu gritei: Solange Costa! Ela veio toda sorridente. A consulta não demorou cinco minutos. De tanta decepção comecei a rir. Abri minha pasta para colocar a receita e ouvi alguém dizer: “Tchau! Boa tarde!” Era a senhora Solange Costa, com uma receita nas mãos.  

 

Marcante, intrigante e decepcionante foi aquela consulta com o Dr. Maquiavel. Mostrei a ele meus exames laboratoriais, raios-X, um histórico das doenças comuns na família e falei do motivo da minha visita. Ele me ouvia com um semblante irônico batendo o tempo todo com a ponta da caneta na mesa. Cena irritante. Depois me fuzilou com estas palavras:

– Senhor Santana, o seu nome é bastante sugestivo, famoso carro da Volkswagen. Saiba que o motor de um carro se assemelha muito ao coração humano. Ambos necessitam de cuidados especiais senão o corpo morre e o carro funde. O senhor conhece aquele ditado: “depois da porta arrombada não precisa fechadura?”. Pois é Sr. Santana, se tivesse me procurado antes do ocorrido teria evitado tantos transtornos vividos pelo senhor. Infelizmente só procura o médico depois do mal instalado. Vamos supor que o Santana carro esteja vazando óleo. O senhor não vai levá-lo a qualquer mecânico, vai? O senhor tem que levá-lo numa retífica de qualidade senão o motor funde de vez. Um carro quando está com o motor danificado apresenta muitos problemas. Pelos exames que o senhor está me apresentando é como se o carro estivesse bastante danificado.  

  • Pela sua comparação doutor, não vejo muita diferença entre um mecânico e médico! Um mecânico pode operar assim como um médico pode retificar um motor?
  • Médico mecânico eu não conheço, mas temos médicos cantores, músicos, poetas, escritores, fazendeiros e muito mais. Senhor Santana infelizmente você é um carro que está bebendo muito álcool ou gasolina. Cuidado com o vazamento do óleo? ((sorrindo)
  • É doutor tem tudo a ver a sua comparação.
  • Então o senhor entendeu?
  • Claro que entendi! Só me esqueci de lhe dizer que conheço muitos médicos movidos a álcool.

Ele sorriu, fiquei carrancudo e ali acabou a minha consulta.  

Fui à barbearia. O barbeiro me perguntou como estava a minha saúde porque me vira entrando numa clínica e queria saber o que eu estava fazendo lá. Como eu sabia o que ele queria saber fui lhe dando corda. Depois de muitos questionamentos ele me perguntou qual a especialidade médica que eu fui consultar. Quando falei PSIQUATRIA. Ele parou de cortar o meu cabelo, arregalou os olhos e me disse: “Meu amigo Santana, você está doido? Enlouqueceu? Você é uma pessoa distinta, equilibrada, inteligente, se comunica muito bem, tem um papo agradável e agora vem me dizer que foi a um Psiquiatra?” Eu fui a uma Psiquiatra e não a um Psiquiatra. “Qual é o nome dela?”. Ela se chama A. L.. “Já sei quem é: baixinha, loira e magrinha?”. Não! Ela é alta, corpo escultural, competente, cabelos compridos, muita bonita e simpaticíssima! “Não posso imaginar você numa Psiquiatra, Santana! Logo você que me parece uma pessoa normal e equilibrada. Algum problema com a patroa? Com os filhos? Gostou do atendimento dela ou você vai lá só porque ela é bonita?”. Eu me consultei com ela porque foi a médica escolhida para me ajudar a resolver alguns problemas que eu sozinho não tenho competência para resolvê-los. “Santana tome cuidado com os remédios que ela vai receitar a você. Eles são muito fortes e mexem com o físico e com a nossa mente. Tenho um vizinho que foi consultar com um Psiquiatra e nunca mais ele foi o mesmo por causa de um remédio que ele receitou. O pobre coitado está jogado numa cama, dorme o dia todo e vive como um objeto”. Se isso me acontecer me faça uma visita porque o seu papo é agradabilíssimo, levanta qualquer astral, além de cortar o meu cabelo o que você faz com perfeição. “Pode deixar amigo Santana, estarei sempre ao seu lado para o que der e vier”.

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