Acontecimentos e heróis brasileiros (quase) esquecidos: O Desastre nos trilhos da Mantiqueira e o nascimento de um Herói Nacional – Caio Vianna Martins

Por Fabrício Robson de Oliveira, Especialista em Direito Internacional – Pesquisador em Segurança e Defesa. Brasil; janeiro de 2022

 

Nota do autor: Resolvi escrever uma espécie de série, intitulada: ACONTECIMENTOS E HERÓIS BRASILEIROS (QUASE) ESQUECIDOS; com o intuito de reavivar a mente da população sobre tais fatos e/ ou pessoas. Todo mês será publicado um texto desta série com tais acontecimentos, fatos e pessoas.

Não deixemos as histórias se perderem. Valorizemos nossos inúmeros heróis nacionais, muitas vezes caídos no esquecimento ou no anonimato; bem como acontecimentos diversos de relevância em nossa trajetória. Que nossa história nunca fique esquecida e que as gerações do presente e futuro, possam entender a importância e o reflexo dos acontecimentos passados em nossa sociedade atual, bem como, as ações do presente e seus impactos no futuro.

Procurei escrever de uma forma simples, sem uma abordagem muito técnica e formal. Tal história passada nos anos 30, com certeza irá te surpreender.

Neste terceiro texto vamos conhecer a impactante história do Desastre nos trilhos da Mantiqueira, um dos piores acidentes ferroviários do Brasil ocorrido próximo a cidade mineira de Barbacena e como tal tragédia fez-se nascer um jovem Herói Nacional – Caio Vianna Martins.

O texto possui passagens consideradas impactantes e fortes!

 

O ano era 1938; ocorria a 3ª Copa do Mundo; o cangaceiro Lampião era morto e degolado no sertão do estado de Sergipe com sua companheira Maria Bonita e mais nove companheiros de crime; a eleição presidencial brasileira não é realizada devido ao golpe de Estado de Getúlio Vargas, que já estava há 8 anos no poder; é assinado o decreto-lei que cria o Conselho Nacional do Petróleo, precursor da Petrobras e a Casa Civil; Adolf Hitler já havia anexado a Áustria e territórios da então Tchecoslováquia ao seu império e a Polônia era posteriormente, o próximo alvo; lembrando que um dos principais motivos da Segunda Guerra Mundial foi o desejo expansionista do Império Alemão; além de ter ocorrido a Noite dos Cristais na Alemanha Nazista. Dentre estes e outros fatos, ocorreu um dos piores desastres ferroviários do Brasil, próximo a cidade mineira de Barbacena; fato este; que causou choro, desespero, escombros, feridos, corpos espalhados, luto, comoção e demonstração de doação e ajuda ao próximo; nascendo um jovem Herói Nacional em meio a uma tragédia de história emocionante. Relembremos os fatos de O Desastre nos trilhos da Mantiqueira e o nascimento de um Herói Nacional – Caio Vianna Martins

Antes de relembramos os fatos do fatídico dia em meio as montanhas das Minas Gerais, voltemos um pouco mais no tempo, para conhecermos um pouco sobre nosso jovem herói.

Caio Vianna Martins, nasceu no dia 13 de julho de 1923 na cidade mineira de Matozinhos, distante cerca de 49km de Belo Horizonte. Filho do farmacêutico Raymundo da Silva Martins e de Branca Vianna Martins, que era do Lar. Caio detinha um irmão mais velho, cerca de 2 anos; Jorge Vianna Martins. Seus pais, humildes, buscavam sempre o melhor para os filhos, para que fossem pessoas de boa índole e honradas; e assim, Caio crescia nos moldes de uma pequena, típica e tradicional família do interior, que incentiva os filhos a serem dignos, bons e independentes em seus futuros.

Com o passar dos anos, Caio chamava a atenção pela sua naturalidade e amor ao próximo, crescendo como uma criança feliz e saudável. Aos 06 anos de idade iniciou sua vida escolar no Grupo Visconde do Rio das Velhas em sua cidade natal. Após ingresso na escola, tomou gosto por ajudar as pessoas necessitadas, atuando muitas vezes por conta própria nestas suas ações; surgindo assim, o desejo de ajudar o próximo de alguma forma.

Aos 08 anos, Caio mudou-se com sua família para a cidade de Belo Horizonte; matriculando-se no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, ficando ali, até o quarto ano e posteriormente, no Colégio Arnaldo, sendo este último, não possuía unidade escoteira, fazendo que ingressasse no Ginásio Afonso Arinos, onde possuía atividade escoteira formada, que levara o mesmo nome. Como havia muita atividade escoteira nas ruas de BH, Caio se interessou pelas atividades, que o fez pedir a seus pais que autorizasse sua transferência para que se tornasse um escoteiro; e desta forma, Caio ingressou na unidade Escoteira de seu colégio, aos 14 anos, realizando assim seu desejo em participar de atividades de escotismo.

Com seu ingresso no Grupo de Escoteiros Afonso Arinos, Caio aprendeu as práticas e doutrinas do escotismo; destacando-se em sua solidariedade; levando de modo afinco uma das leis escoteira: “O escoteiro está sempre alerta para ajudar o próximo e prática diariamente uma boa ação”. Ele sempre se destacava dos demais do grupo por seu comprometimento, pontualidade, atenção e integração, além, claro, de sua presteza em ajudar a todos.

Foto colorizada de Caio Vianna Martins. Reprodução: Site Caio Vianna Martins
Foto de Caio Vianna Martins. Reprodução: Site Caio Vianna Martins

 

Sua determinação e paixão pelo escotismo era visível não só por suas ações. Ele estava sempre vestido com seu uniforme de escoteiro, usando-as debaixo de suas roupas de escola e/ outra atividade. Em pouco tempo, o jovem escoteiro realizou inúmeros feitos junto à sua Patrulha Lobo, onde era monitor.

No final do ano de 1937, os chefes de Seção e Grupo informavam à todos os escotistas que era um dia histórico para eles, pois, o Governador (leia-se Interventor Federal) do Estado de São Paulo, Adhemar Pereira de Barros, havia os convidado para um acampamento conjunto com os demais grupos de escoteiros de São Paulo no último mês do ano seguinte.

Já no início de 1938 começaram as mobilizações para se organizarem para a viagem. A seleção para ser escolhido a ir na atividade escoteira em SP, deveria se destacar nas atividades do grupo. Entre os escolhidos, estava Caio Vianna Martins. Após a escolha dos participantes, trabalharam intensamente durante todo o ano para angariar fundos para compra de equipamentos para usarem no acampamento, para representarem muito bem o grupo em tal atividade, que era uma grande aventura e troca de experiências para estes jovens escoteiros.

É chegado o dia tão esperada por todos da Associação de Escoteiros Afonso Arinos, o dia da viagem para São Paulo. Era domingo, dia 18 de dezembro de 1938; reuniram no Colégio os 24 escolhidos: 3 voluntários adultos, 3 pioneiros, 12 escoteiros e 6 lobinhos, todos vestidos de seus impecáveis uniformes, portando suas mochilas, bastão e chapéu engomado, embarcaram em um ônibus fretado em direção à Praça da Estação, onde seguiriam de trem para São Paulo.

Caio Vianna Martins. Reprodução: escoteirosatalaia.org

 

Naquela época, o escotismo era acolhido e ovacionado em todo o globo. No Brasil, o Movimento Escoteiro era bem visto pela sociedade, onde a mesma, incentivava, reconhecia e admirava todas as atividades dos escoteiros de forma intensa, e naquele momento, não foi diferente. Ao desembarcarem do ônibus, os escoteiros foram marchando até chegarem a Praça da Estação, onde se depararam com local cheio de populares e familiares que ali estavam, para demonstrarem o orgulho daquele grupo e acompanhar o embarque.

Trem de passageiros na plataforma da Estação Ferroviária de Belo Horizonta/MG.
Reprodução: Memória histórica da EFCB.

 

O pré-embarque dos escoteiros contou com um cerimonial de despedida, contando com a presença da Banda de Música e do então Governador (leia-se Interventor Federal) de Minas Gerais, Benedito Valadares Ribeiro, onde o mesmo, determinou a troca do vagão de transporte dos escoteiros para o vagão de primeira classe que se situava basicamente no meio da composição, para maior conforto do grupo. Inicialmente os escoteiros iriam embarcar no primeiro vagão de transporte da composição, que era de segunda classe.

O trem, conhecido como o N-2 Noturno Mineiro (Belo Horizonte ao Rio de Janeiro), possuía em sua sequência de composição: as locomotivas (modelo 372), o carro-correio, um carro de bagagem, um carro de segunda classe, dois carros de primeira-classe, carro restaurante, um carro de dormitório comum, dois de cabine e um carro reservado.  A Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) possuía no Noturno Mineiro, seus formidáveis e antigos carros de madeira para passageiros, neste trecho BH-RJ. Saliento que o trajeto Belo Horizonte a São Paulo passara pelo Rio de Janeiro.

Naquela final de tarde do dia 19 de dezembro, seguia-se a rotina da Estação ferroviária de modo enlevado; com a movimentação eufórica da Estação Central na Capital mineira, naquele ano de 1939. A locomotiva soou um breve apito, autorizando o embarque no Noturno Mineiro; que de acordo com informações da Central do Brasil, havia cerca de 100 pessoas embarcadas em Belo Horizonte, sendo em sua maioria de retirante baianos, que iriam para o Rio de Janeiro e São Paulo a procura de uma nova vida; e posteriormente, cerca de mais 50 passageiros que embarcariam no Trajeto da Viagem até suas últimas paradas antes do infortúnio.

O N-2 ao final, estava distribuído com 96 passageiros de 1ª e 2ª classe; 44 em dormitórios e 10 funcionários que compunham a equipagem. O embarque era um mix de esperanças, despedidas, euforia e entusiasmo, em meio aquele ambiente saudoso do vapor da locomotiva; movimentação ágil da caldeira e pessoas nas plataformas se despedindo.

Após o embarque, todos se acomodaram em seus respectivos lugares; tickets de embarque conferidos pela administração da Estação. O Chefe da Tropa dos escoteiros solicitou que fosse realizada uma oração antes da partida; hábito das atividades escoteiras.

O trem soou mais uma vez um apito breve, informando que estava chegando a hora da partida; logo após, as 18 horas; a Locomotiva 372 soava um sinal de apito longo e outro curto, 30 segundos após o primeiro, informando passageiros e funcionários de sua partida. Pela janela, os escoteiros e demais passageiros puderam observar as centenas de pessoas que aplaudiam, acenavam; bandeiras tremulando e muita alegria e emoção; na despedida daquele grupo que os representaria em outro estado, sendo um marco na atividade escoteira local. A viagem duraria toda a noite até a chegada à São Paulo.

A viagem começara animada, com as janelas abertas, os escoteiros entoavam canções durante o trajeto, alegrando os demais passageiros. À meia noite, o chefe dos escoteiros tocou o “toque de silêncio” em sua gaita; fecharam-se as janelas e ficaram em silêncio para que todos no vagão pudessem descansar. As luzes do carro de passageiros então, foram apagadas e alguns dos escoteiros, mesmo sonolentos ainda cantavam baixinho e em seguida; todos adormeceram em meio ao balanço e barulho da composição.

O trem seguia em meio as montanhas das Minas Gerais, soltando suas fagulhas e fumaças pelo caminho, tendo seu grande farol, iluminando o caminho em direção ao RJ.

O tráfego ferroviário ocorria em apenas uma linha férrea, onde tinha que ser obedecido os controles de acessos realizados pelos Controladores de Tráfego e demais trabalhadores nas estações e em pontos da via. Então; para que uma composição pudesse passar, a outra composição de caminho contrário, deveria ir e aguardar em uma linha auxiliar a passagem da composição contrária; podendo, seguir viagem normalmente após autorização de passe livre. Tais autorizações eram retiradas em espécie de argola, que ficavam nas estações, onde, os chefes de estação, anexava uma papeleta para retirada de cada composição, onde informava se a ferrovia naquele trecho estaria livre ou ocupada.

Tal exercício era de grande valia para a segurança da ferrovia e devia ser realizado de forma consciente e profissional pelos operadores de solo e pelos operadores das locomotivas, pois, qualquer erro de comunicação poderia ocasionar uma tragédia. Nos anos 30, a comunicação era extremamente precária; requerendo maior atenção de todos os operadores ao longo da via.

Para nos localizarmos geograficamente, a sequência de estações na região de nosso interesse, sentido BH-RJ é composta pelas estações de: Barbacena; Estação Sanatório, também em Barbacena; Bias Fortes; Sítio (Atual Antônio Carlos), João Ayres, seguidas pelas estações principais de Santos Dumont e Juiz de Fora.

Mapa ampliada da Rede Ferroviária Federal – Sistema Regional Centro (1969)
Reprodução: Acervo Público Mineiro

 

Na viagem, o Noturno Mineiro cortava as montanhas, e com o passar dos quilômetros, o clima se tornara mais frio. Na composição; a maioria dos passageiros dormiam e do lado de fora, apesar de escuro, via-se o contorno das montanhas. O céu estava manchado por nuvens negras e a lua ocultada, percebendo-se algumas estrelas em meio a abertura de nuvens, mas com presença de uma chuva fina. Nesta altura, a composição aproximava de Barbacena, trecho mais elevado e frio da serra. Havia passageiros olhando o matagal que cercava os trilhos, acompanhado de seus cigarros. Crianças dormindo, veladas por seus responsáveis adormecidos embalados pelo balançar do trem.

Pontilhão em Barbacena (1920) – Reprodução: http://fotosantigasbarbacena.blogspot.com/

 

No sentido contrário, RJ a BH, deslocava-se 2 composições de carga. Quando o relógio marcava 1:32 minutos, já sendo dia 19 de dezembro; o trem CEC-81, passou pela Estação de João Ayres (estação que não possuía luz elétrica e era acometida pela escuridão); em alta velocidade sem que seu maquinista, Fernando de Freitas, apanhasse a licença de autorização. Logo atrás, vinha o trem Cargueiro C-65, onde seu maquinista, José Rabello Alves, apanhou a autorização na argola/ arco na Estação de João Ayres às 1:40 minutos; 8 minutos após a passagem do trem CEC-81; sem notar e verificar, que tal autorização de passagem, era na verdade, do trem a sua frente. Saliento que o maquinista do C-65 não possuía boa visão e a papeleta estava escrita em papel verde à lápis, juntando a pouca luz, tornou-se ilegível.

A sua licença na verdade, informava que ele deveria ficar retido na Estação João Ayres para aguardar a passagem do Noturno Mineiro – N-2, que corria em direção ao RJ. Pensando ser sua autorização, o C-65 seguiu caminho, sem imaginar que haveria um trem de passageiros, descendo em sua direção. A passagem da estação não deveria, também, estar desimpedida para passagem do cargueiro, pois esperava a chegada do trem de passageiros para seu embarque/ desembarque.

O conferente da Estação de João Ayres, Werneck Rodrigues, responsável por tais papeletas, quando viu que o C-65 seguiu caminho de João Ayres, correu ao telefone para comunicar com o encarregado da chave (guarda-chaves) situada a 300 metros da Estação, para que fosse fechado o sinal para tal composição; sem sucesso. O chaveiro ao ver o cargueiro passando sem autorização, correu com sua lanterna em mãos para sinalizar para o trem, porém, a lanterna era a querosene, vindo a se apagar, sem que o maquinista o visse.

Estação de João Ayres. O prédio à esquerda era na época um hotel, onde hoje só tem ruinas. (Cartão postal).
Reprodução: Site Estações Ferroviárias

 

Descendo a Serra da Mantiqueira; o N-2 aguardou o cruzamento pelo CEC-81 carregado de minério, que passou em alta velocidade. Após a passagem, o N-2 seguiu, possuindo autorização para continuar viagem na Estação de Sítio (atual Antônio Carlos), apanhada pelo maquinista Franklin Carlos da Silva; sem imaginar que em sua direção, havia um cargueiro se locomovendo sem autorização.

Estação de Sitio (1908) – Atual Antônio Carlos/MG. Ponto de entroncamento da E.F Oeste de Minas.
Reprodução: Livro “Memória Histórica da Estada de Ferro do Brazil” publicado pela Imprensa Nacional em 1908.

 

Ao passar pela Estação de Sítio, o Noturno Mineiro seguindo viagem por alguns poucos quilômetros, deparou-se a cerca de 500 metros com faróis em sua direção, julgando a princípio, ser de algum automóvel em alguma estrada lateral; mas logo veio a lembrança, que por ali, não existia estrada de rodagem. Imediatamente, apitou por duas vezes, quando percebera à sua frente uma composição, lançou mão de todos os freios ao mesmo tempo e gritava para seu graxeiro e foguista que pulassem da locomotiva: “Saltem! Minha Nossa Senhora!”

Ao mesmo tempo, dentro do cargueiro C-65, ao entrar na curva; o foguista José Moysés Alves, viu um forte clarão pela frente, avisou que vinha o N-2 e que a licença que estavam em mãos, não os destinava, saltando da máquina na sequência, caindo ao lado dos trilhos, escapando da morte certa com tal iniciativa e seu maquinista, teve seu braço e perna quebrados, pois, escapara pela janela, segundos antes do impacto.

Naquela noite chuvosa e fria, quando o relógio marcara um pouco mais de 2:00 horas, na madrugada do dia 19 de dezembro de 1938, entre as Estações de Sitio (atual Antônio Carlos) e João Ayres; no quilômetro 354 da linha do Centro da Estrada de Ferro Central do Brasil, próximo a localidade denominada Parada Araújo, região castigada por ventos, devido sua altitude; houve o choque entre o Noturno Mineiro – N-2 e o cargueiro C-65 que possuía a Locomotiva 805, onde era composta de 8 vagões, sendo 4 abertos carregados com carvão e 4 vastos fechados.

Com a violenta batida das composições, as locomotivas empinaram-se em cima da linha e os primeiros carros do N-2 (correio, chefe do trem, 2 de primeira classe e 1 de segunda classe), engavetaram-se, ficando intacto o vagão restaurante para trás e o do C-65, a locomotiva e os dois vagões abertos sofreram grandes avarias.

O foguista do N-2, tentando saltar pela janela, ficou preso pelos pés, com as chamas varrendo-lhe o rosto, sendo esmagado na sequência; não tendo a mesma sorte do guarda-freios, que no choque, foi projetado por um buraco aberto no teto do carro, caindo ileso, fugindo do Noturno da Morte. O maquinista, preso pelos pés, via as chamas das fornalhas chegando perto, quando os sobreviventes o retiraram.

Com a colisão nos trilhos da Serra da Mantiqueira, os passageiros foram atirados de encontro aos bancos e as paredes dos carros; alguns destes, em pedaços; o barulho infernal de ferros chocando-se com o madeiramento lascando, confundia-se com os gritos de dor e terror que tomavam conta do ambiente. Os passageiros estavam dormindo e acordaram com o impacto do sinistro, sem saber o que havia acontecido, deparando com pessoas esmagadas, muito sangue, escombros, vagões amontoados e retorcidos, além de inúmeros feridos e mortos. Era uma verdadeira cena de horror naquela madrugada. Os gritos ecoavam em meio a escuridão e a cada minuto passado, observava-se mais corpos misturados em meio aos destroços dos trens, ficando irreconhecíveis e tendo o rubro do sangue tingindo a linha férrea, acompanhados pela chuva fina que misturava em meio ao caos.

Os passageiros conscientes, após o pânico inicial, começaram a prestar socorro às vítimas, dentre estes, o chefe dos escoteiros, Clairmont Orlando Gomes, que buscava encontrar os componentes de seu grupo em meio aos destroços. Na medida que ia os encontrando, determinava para que os mesmos, ajudassem os sobreviventes com suas habilidades. Eles estavam presos em meio aos destroços do carro, tendo um dos escoteiros, ficado com a haste da bandeira encravada em seu rosto. Em meio àquele caos, alguns tripulantes se prestaram a gritar em pânico, temendo que as caldeiras das locomotivas explodissem e abandonaram o local do sinistro. O chefe, organizando o tratamento dos feridos e sobreviventes naquele momento do modo que seus conhecimentos os permitiam e os acalmando.

Foto do desastre. Reprodução: Site Estações Ferroviárias

 

O chefe Clairmont começou a contabilizar os escoteiros, e assim, foram encontrados dois mortos de seu grupo; Hélio Marcos de Almeida Santos de 9 anos e Gerson Hissa Satuf de 12 anos, morto por ferimento na base do crânio. 9 membros do grupo escoteiro possuíam contusões e fraturas em diversas partes do corpo.

Caio recebeu forte pancada na região lombar; foi retirado dos destroços e levado pelos seus companheiros para o vagão leito. Passado algum tempo, Caio Martins aparentava sinais de melhora, e junto a seus companheiros, ajudavam incessantemente os necessitados durante toda a madrugada.

Os escoteiros que podiam, acenderam fogueiras com as madeiras dos escombros em locais seguros para iluminar e aquecer o local; cuidavam de ferimentos leves, transladavam os feridos e confeccionavam macas improvisadas com os materiais dos carros dormitórios, utilizando lençóis, bem como, cobertores cedidos pelos passageiros dos últimos vagões, pois tais carros da composição não sofreram danos e a maioria dos passageiros alocados ali, nada ou quase nada sofreram. Os cobertores eram usados para aquecer os desamparados naquele frio do alto da serra. Foi pedido ao tripulante do carro restaurante para que servisse leite e/ou café para os sobreviventes, negando-se de imediato, cedendo posteriormente.

Mesmo com o pânico gerado pela tripulação, os escoteiros e alguns adultos se prestavam a permanecer em constante atividade para resgatar e cuidar dos sobreviventes. Em meio aquele clima sinistro nos trilhos; os escoteiros e demais pessoas que possuíam estômago forte, trabalhavam regidos ao coro de choro de perdas e dor; gritos de pessoas procurando seus entes queridos, e outros, pedindo socorro em meio a escuridão e escombros. Recolhiam os corpos e colocavam mais à frente do acontecido; já os feridos graves eram alocados de um lado e os feridos leves do outro lado da linha; e assim, tal balé foi sendo realizado durante toda a madrugada.

Em meio ao cheiro da morte, os jovens que tinham condições, realizavam os primeiros socorros, como fora ensinado, enquanto uma chuva fraca juntava-se com o vento incessante. Observa-se ao longo do desastre, passageiros desmaiados ao ver tais cenas; outros, sentados tampando os ouvidos, tentando abafar os sons da dor e outros, apenas observando, sem coragem de intervir.

Dentro do carro de 2ª classe, havia uma senhora, coberta de sangue, clamando que salvassem sua filha, de aproximadamente 5 ou 6 anos; que estava com o pé esquerdo preso à altura do tornozelo. A mulher estava muito ferida, notando que fora lhe arrancado uma de suas orelhas. Ela segurava e puxava a criança, para tirá-la, porém, sem sucesso. A menina, estava ainda, com seu crâneo aberto por uma brecha, próximo a seu supercílio direito. Um dos passageiros, vendo o desespero da mãe, armou-se com seu canivete para cortar a perna da menina, sendo impedido pela mãe que gritou e segurou seu braço. Chegaram mais pessoas para o socorro da pobre criança, tentando retirar as ferragens que a prendiam, sem sucesso, vindo a menina falecer nos braços de sua mãe, que desmaiara em seguida, sendo amparada e transportada para uma fazenda próxima.

Um passageiro, salvou-se do desastre por causa de um queijo. Quando o N-2 parou em Sítio, o passageiro descera para comprar um queijo, porém distanciou-se da composição e quando voltou, o trem já havia partido, rumo ao desastre.

A noite foi dando licença a luz do dia, onde era agora, possível ver o tamanho do desastre. Com a chegada da manhã, foi observado outras pessoas ajudando; eram os moradores e trabalhadores próximos, que tinham ouvido o barulho do estrondoso choque dos dois trens, que foi ecoada pela serra, como “a voz da própria morte”; e foram ajudar logo, levando lanternas e transportando muitos dos feridos para suas residências.

Passadas 5 horas do desastre, por volta das 7 horas da manhã, chegava o socorro de Barbacena, onde, alguns passageiros sobreviventes tinham ido caminhando pela linha; posteriormente chegava socorro de Juiz de Fora, Santos Dumont, Conselheiro Lafaiete e outras localidades vizinhas. Estava estampado no rosto, o cansaço daqueles que passaram a noite no trabalho humanitário, que mesmo com a chegada do socorro, alguns permaneceram no trabalho; entre eles, Caio Vianna.

Com o sol iluminando a serra, notara o maio desastre ferroviário, até então no país. Havia ainda, fumaça saindo das caldeiras, completando aquele ambiente sinistro. Naquele momento, o acidente já era considerado o mais mortífero e trágico verificado no Brasil, dado o número de vidas ceifadas. Segundo testemunhas, logo que o conferente de João Ayres, Sr. Werneck, teve conhecimento do desastre, foi acometida por uma violenta crise nervosa, ficando gritando e correndo para ambos os lados.

Chegado o socorro, começara o momento de transporte dos feridos graves e pouco graves, principalmente para a cidade de Barbacena, que sofrera um grande choque com tal desastre. Quando da notícia do acidente, o prefeito, Sr. Bias Fortes, juntamente com o delegado Altair Calvati, renderam-lhes ajuda à Central do Brasil, requisitando e cedendo todos os caminhões da Prefeitura e particulares, em número de 20; além de 30 praças da Polícia e 100 padiolas (espécie de macas móveis), do 9º batalhão de Polícia, além, do acionamento de todo o corpo de saúde da cidade.

O chefe Clairmont começou a contabilizar os escoteiros, e assim, foram encontrados dois mortos de seu grupo; Hélio Marcos de Almeida Santos de 9 anos e Gerson Hissa Satuf de 12 anos, morto por ferimento na base do crânio. 9 membros do grupo escoteiro possuíam contusões e fraturas em diversas partes do corpo.

Caio recebeu forte pancada na região lombar; foi retirado dos destroços e levado pelos seus companheiros para o vagão leito. Passado algum tempo, Caio Martins aparentava sinais de melhora, e junto a seus companheiros, ajudavam incessantemente os necessitados durante toda a madrugada.

Os escoteiros que podiam, acenderam fogueiras com as madeiras dos escombros em locais seguros para iluminar e aquecer o local; cuidavam de ferimentos leves, transladavam os feridos e confeccionavam macas improvisadas com os materiais dos carros dormitórios, utilizando lençóis, bem como, cobertores cedidos pelos passageiros dos últimos vagões, pois tais carros da composição não sofreram danos e a maioria dos passageiros alocados ali, nada ou quase nada sofreram. Os cobertores eram usados para aquecer os desamparados naquele frio do alto da serra. Foi pedido ao tripulante do carro restaurante para que servisse leite e/ou café para os sobreviventes, negando-se de imediato, cedendo posteriormente.

Mesmo com o pânico gerado pela tripulação, os escoteiros e alguns adultos se prestavam a permanecer em constante atividade para resgatar e cuidar dos sobreviventes. Em meio aquele clima sinistro nos trilhos; os escoteiros e demais pessoas que possuíam estômago forte, trabalhavam regidos ao coro de choro de perdas e dor; gritos de pessoas procurando seus entes queridos, e outros, pedindo socorro em meio a escuridão e escombros. Recolhiam os corpos e colocavam mais à frente do acontecido; já os feridos graves eram alocados de um lado e os feridos leves do outro lado da linha; e assim, tal balé foi sendo realizado durante toda a madrugada.

Em meio ao cheiro da morte, os jovens que tinham condições, realizavam os primeiros socorros, como fora ensinado, enquanto uma chuva fraca juntava-se com o vento incessante. Observa-se ao longo do desastre, passageiros desmaiados ao ver tais cenas; outros, sentados tampando os ouvidos, tentando abafar os sons da dor e outros, apenas observando, sem coragem de intervir.

Dentro do carro de 2ª classe, havia uma senhora, coberta de sangue, clamando que salvassem sua filha, de aproximadamente 5 ou 6 anos; que estava com o pé esquerdo preso à altura do tornozelo. A mulher estava muito ferida, notando que fora lhe arrancado uma de suas orelhas. Ela segurava e puxava a criança, para tirá-la, porém, sem sucesso. A menina, estava ainda, com seu crâneo aberto por uma brecha, próximo a seu supercílio direito. Um dos passageiros, vendo o desespero da mãe, armou-se com seu canivete para cortar a perna da menina, sendo impedido pela mãe que gritou e segurou seu braço. Chegaram mais pessoas para o socorro da pobre criança, tentando retirar as ferragens que a prendiam, sem sucesso, vindo a menina falecer nos braços de sua mãe, que desmaiara em seguida, sendo amparada e transportada para uma fazenda próxima.

Um passageiro, salvou-se do desastre por causa de um queijo. Quando o N-2 parou em Sítio, o passageiro descera para comprar um queijo, porém distanciou-se da composição e quando voltou, o trem já havia partido, rumo ao desastre.

A noite foi dando licença a luz do dia, onde era agora, possível ver o tamanho do desastre. Com a chegada da manhã, foi observado outras pessoas ajudando; eram os moradores e trabalhadores próximos, que tinham ouvido o barulho do estrondoso choque dos dois trens, que foi ecoada pela serra, como “a voz da própria morte”; e foram ajudar logo, levando lanternas e transportando muitos dos feridos para suas residências.

Passadas 5 horas do desastre, por volta das 7 horas da manhã, chegava o socorro de Barbacena, onde, alguns passageiros sobreviventes tinham ido caminhando pela linha; posteriormente chegava socorro de Juiz de Fora, Santos Dumont, Conselheiro Lafaiete e outras localidades vizinhas. Estava estampado no rosto, o cansaço daqueles que passaram a noite no trabalho humanitário, que mesmo com a chegada do socorro, alguns permaneceram no trabalho; entre eles, Caio Vianna.

Com o sol iluminando a serra, notara o maio desastre ferroviário, até então no país. Havia ainda, fumaça saindo das caldeiras, completando aquele ambiente sinistro. Naquele momento, o acidente já era considerado o mais mortífero e trágico verificado no Brasil, dado o número de vidas ceifadas. Segundo testemunhas, logo que o conferente de João Ayres, Sr. Werneck, teve conhecimento do desastre, foi acometida por uma violenta crise nervosa, ficando gritando e correndo para ambos os lados.

Chegado o socorro, começara o momento de transporte dos feridos graves e pouco graves, principalmente para a cidade de Barbacena, que sofrera um grande choque com tal desastre. Quando da notícia do acidente, o prefeito, Sr. Bias Fortes, juntamente com o delegado Altair Calvati, renderam-lhes ajuda à Central do Brasil, requisitando e cedendo todos os caminhões da Prefeitura e particulares, em número de 20; além de 30 praças da Polícia e 100 padiolas (espécie de macas móveis), do 9º batalhão de Polícia, além, do acionamento de todo o corpo de saúde da cidade.

 

“Uma visão impressionante do local do trágico desastre, vendo-se os destroços do Noturno e do Cargueiro, confundidos sobre os trilhos revolvidos”. Reprodução: Jornal “A Noite” de 20 de dezembro1939.

 

A cidade das Rosas, amanheceu com um ambiente sinistro; logo pela manhã chegava os carros da composição do N-2 que nada tiveram sofrido, rebocados por uma nova locomotiva. Neles, os sobreviventes que nada ou quase nada tiveram sofrido, contando sobre a catástrofe e junto com eles, chegavam os primeiros feridos transportados via terra e muitos outros por meio de trens de lastro. Os comboios chegavam à Estação de Barbacena, acompanhados pela angústia da população.

O deslocamento da Estação aos hospitais era acompanhado por gemidos de dor e pela angústia da população que observava tudo.

Notava-se inúmeros moradores de Barbacena que se ofereciam para prestar algum serviço que estivera a seu alcance. Muitos ajudavam no transporte, por exemplo. O movimento solidário na cidade foi intenso e comovedor; todos ali, sentiram o golpe de uma tragédia. Vários comércios fecharam suas portas, para que todos ajudassem de alguma maneira, além de auxiliarem os entes que sofreram com o acidente e começavam a chegar na cidade.

Estação Ferroviária de Barbacena (1938) – Reprodução: Arquivo Público Mineiro/ Ed. Casa Renascença.

 

Rapidamente, os leitos do Hospital Santa Casa estavam esgotados, passando a serem internados os feridos que chegavam no Hospital da Força Pública – Quartel da Polícia do Estado (Prédio da atual Escola Estadual Adelaide Bias Fortes); o qual, não possuía muitos leitos. O sistema de saúde de Barbacena estava se colapsando com a grande demanda.

Batalhão de Polícia (1938) – Atual Escola Estadual Adelaide Bias Fortes em Barbacena/MG.
Reprodução: Edição da Casa Renascença.

 

Os arredores do hospital Santa Casa de Misericórdia e do 9º Batalhão possuía uma multidão em peregrinação, que procurava saber o número de vítimas e seus nomes. Entre os primeiros médicos que se ofereceram para o atendimento, estavam os doutores Theobaldo Tollendal, Agostinho Paolucci, Jorge Teixeira, Antônio de Senna Figueiredo, Paulo Dobbelmann e José Gonçalves. Rapidamente, Barbacena encontrava-se cheia de carros de todas as cidades da região, onde pessoas buscavam seus parentes e amigos.

Era grande a dificuldade de informações do local do acidente, pois, estava longe da rodovia; os trilhos estavam interditados e as linhas telegráficas e do seletivo estavam interrompidas entre Sítio e João Ayres; aumentando a falta de comunicação e informações. No primeiro momento, após início das informações de números, estimava que haveria cerca de 20 mortos e 60 feridos, vindo esse número aumentar com o passar do tempo. Sabia-se agora que a maioria dos mortos eram do carro de 2ª classe, que lotado, transportava em sua maioria, trabalhadores baianos. O carro engavetou-se com o carro- correio e fora reduzido a escombros; totalizando 6 carros do N-2 reduzidos a pedaços; ceifando dezenas de vidas.

Fotos do acidente. Reprodução: Site: Caio Vianna Martins

 

No local do acidente, a movimentação para o transporte de feridos e recolhimento dos corpos para transporte ocorria de modo intenso, realizada por voluntários, médicos e enfermeiros, bem como, do exército e força policial, além dos passageiros que passaram a madrugada toda em tal apoio. Era uma movimentação horrível, sendo os restos mortais, muitas vezes recolhidos por meio de pás, juntando-se ao sangue, escombros, com a chuva misturando-se à cena.

Em meio ao resgate, um enfermeiro, vendo o escoteiro Carlos Vianna Martins ferido e com semblante exausto, observou a necessidade de seu resgate e ofereceu-lhe uma padiola (maca), para que ele pudesse ser transportado para o hospital e ser tratado. Caio olhou ao redor e viu que havia outros feridos mais necessitados e encarando o enfermeiro disse: “Não! Há muitos feridos aí. Deixe-me que irei só. O Escoteiro caminha com as próprias pernas.

Os escoteiros feridos foram imediatamente removidos para o quartel do 9º Batalhão de Polícia. Caio e seus amigos escoteiros, que podiam andar, foram caminhando até Barbacena, cerca de 20km. Chegando à cidade, foram para o Hotel, porém, seu esforço foi muito grande. Ao chegar, começou a expelir sangue pela boca; sendo encaminhado imediatamente para o Hospital Santa Casa. Ao chegar no hospital, preferiu se arrastar pelas escadas a ser carregado, causando viva esperança no gesto do menino. Lá, foi observado que possivelmente sofrera forte pancada na região lombar, que ocasionara uma hemorragia interna, causando sua exaustão, ficando ali internado para seus cuidados.

Escoteiros de Affonso Arinos, vítimas do desastre, já recolhidos a Santa Casa de Barbacena. Dois deles ficaram esmagados entre as ferragens do Noturno Mineiro” Na verdade estavam no 9º Batalhão de Polícia.
Reprodução: Jornal “A Noite” de 20 de dezembro de 1939.

 

Caio e os demais escoteiros, mesmo com seus ferimentos, seguiam uma de suas leis: “O escoteiro tem uma só palavra; sua honra vale mais que a própria vida. O escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades”. E assim, procuravam apresenta-se serenos e altruístas, em meio a dificuldade.

Os corpos começavam a chegar em Barbacena, muitos mutilados. A cada chegada das conduções de transporte, mais mortos e feridos chegavam para a Santa Casa e hospital da PM, enchendo de comoção a cidade. Com a chegada do número elevado de mortos, foram encomendados 32 caixões, crendo que tal número aumentaria, como de fato, ocorreu. Somente na Santa Casa, estimava-se 60 passageiros feridos.

Devido a quantidade de caixões que precisaria, houve a necessidade de mobilizar operários especiais para a confecção dos mesmos. Tal fabricação ocorria em plena rua, causando uma visão sinistra da confecção de vários caixões próximo ao centro da cidade.

“Confecção dos caixões nas ruas de Barbacena” Reprodução: Jornal “A Noite” de 20 de dezembro de 1939.

 

“FABRICANDO CAIXÕES EM PLENA RUA! – Aspecto impressionante colhido em Barbacena, logo após a chegada dos corpos das vítimas” – Reprodução: Jornal “A Noite” de 20 de dezembro de 1939.

 

O vigário de Barbacena, padre Raul Coutinho, mandou soar os sinos das igrejas locais, e o prefeito suspendia o expediente da prefeitura e determinou que as bandeiras estivessem a meio mastro, em sinal de pesar.

Um enfermo internado há vários dias na Santa Casa, devido a problemas cardíaco, ao ver chegando dezenas de homens, mulheres e crianças, gemendo e gritando agonizantes, além de cadáveres mutilados; foi a óbito, devido a choque cardíaco, por presenciar tais horríveis cenas. Entre os feridos graves, encontrava-se Caio, e entre os mortos, os dois escoteiros.

Nos leitos, crianças perguntavam por seus pais: “Cadê a minha mãe? O senhor viu minha mãe?” Exclamava uma. “Se você achar minha esposa, avise que estou vivo! Não a vejo desde o acidente”, falava um homem e assim, era regido os diálogos daqueles que não sabiam do paradeiro de seu próximo.

Cenas de tristeza e terror, eram ainda vistas no local do acidente, podendo ser notado os trilhos de sangue e na margem da linha, retirada dos escombros, o cadáver de uma mulher que sustentava em seus braços seu filho recém-nascido, como se estivera abraçada a ele no desejo de proteção. Estas e outras cenas, iriam permear por anos nas mentes daqueles que ali estavam.

Alguns sobreviventes foram transportados por outros trem para a capital do país (Rio de Janeiro) e outros, à Belo Horizonte, além de alguns feridos e corpos serem traslados para outras cidades da região, como para Santos Dumont, onde os maquinistas do N-2 e C-65, bem como outros funcionários e passageiros foram internados no Sanatório de Palmyra, devido falta de leitos em Barbacena. Tal embarque na estação dos feridos, era acompanhado pelos populares que permaneciam em um respeitoso silêncio.

Os telefones da Central do Brasil não paravam de tocar, devido a pessoas em busca de informações. As estações de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro estavam cheias de familiares, amigos e conhecidos dos passageiros, em busca de informações se seu ente estaria bem, ferido ou morto; porém, era de grande dificuldade a identificação dos corpos, devido a seu estado e/ou por não portarem documentação consigo. Aos poucos, os nomes eram divulgados por meio da mídia impressa.

De volta a Santa Casa, os pais de Caio chegavam para acompanhar seu tratamento. Ele quase não falava, devido à grande perda de sangue, porém, sentia-se tranquilo ao lado de seus pais. Os médicos observaram que o quadro clínico não iria se positivar, devido ao intenso e prolongado derrame interno. Desta forma, apesar de todos os esforços, às 02:30 horas da manhã do dia 20 de dezembro de 1938, 24 horas após o acidente; o jovem escoteiro de 15 anos, Caio Vianna Martins, faleceu ao lado de seus pais. A causa de sua morte foi registrada como: Traumatismo da cavidade abdominal, derrame interno. O óbito foi assinado pelo Dr. Osivaldo Fortini, tendo seu declarante, o chefe Clairmont.

Por não haver mais leitos em Barbacena, o prefeito determinou que a igreja da Boa Morte fosse aproveitada para recolhimento dos corpos do Noturno Mineiro. Foram ali colocadas 32 mesas preparadas, para recebimento dos corpos que estavam no necrotério da cidade e dos hospitais, funcionando como uma espécie de câmara ardente. Ali, na nave da Igreja da Boa Morte, estava uma exposição sinistra com os corpos perfilados, lado a lado, todos mutilados devido ao acidente. Um cortejo de lágrimas movimentava-se no interior da igreja diante os cadáveres.

Igreja da Boa Morte (1938). Reprodução: Arquivo Público Mineiro/ Ed. Casa Renascença

Câmara ardente na Igreja da Boa Morte, em Barbacena, vendo-se os corpos enfileirados ao longo da nave. Reprodução: Jornal “A Noite” de 20 de dezembro de 1939.

 

Os barbacenenses choravam a morte de desconhecidos. Alguns poucos cadáveres possuíam nomes. A maioria daqueles, eram de pessoas humildes. Era impossível a identificação de todos, sendo assim, as autoridades municipais providenciaram de imediato, sepulturas para as vítimas, no cemitério localizado atrás da igreja. Foi necessário a derrubada do muro limite do cemitério da Boa Morte, para que fossem feitas as covas.

Aos poucos eram retirados os corpos da Igreja da Boa Morte para o enterro, porém, permaneceram por mais tempo, 10, que não tinham sido identificados, sendo estes, cada um em seu caixão. Chamava a atenção as enormes manchas de sangue que estavam localizadas do adro à nave da igreja, horrorizando as pessoas, que pisavam nas marcas da tragédia.

“O sepultamento dos corpos em Barbacena”. Reprodução: Jornal “A Noite” de 20 de dezembro de1939.

 

Em Santos Dumont, dois funcionários dos trens que haviam sidos retirados dos escombros, na tarde do acidente; estavam completamente carbonizados e deformados. Devido ao mal cheiro dos corpos no necrotério do hospital, que tinha improvisados camas e colocando 2 pessoas em um mesmo leito; os médicos autorizaram o sepultamento durante a noite, e assim, foi realizado às 23 horas, com muitas pessoas acompanhando e com a chuva incessante caindo sobre todos.

A Central do Brasil, informava que havia conseguido liberar, com extrema dificuldade, a linha férrea para o tráfego, às 06:45 do dia 20, tendo sido realizado cerca de 24 horas de trabalho intenso e ininterruptos.

 

“Remoção dos destroços no local da catástrofe”.
Reprodução: Jornal “A Noite” de 20 de dezembro de 1939.

 

Em um dos momentos mais emocionantes na Estação de Barbacena, foi o embarque dos escoteiros no Trem N-1 (Rio de Janeiro-Belo Horizonte) retornando à Belo Horizonte; muitos se contorcendo nas macas e gemendo de dores, além do corpo jovem Caio Vianna Martins, juntamente com seus familiares; acompanhado pelos corpos de seus 2 amigos. A população barbacenense que ali estava, acompanhava com visível tristeza os jovens meninos. Muitos choravam pelo sofrimento daqueles que embarcavam, passando pelos portões da Estação de Barbacena.

 

Praça da Estação em Barbacena. Data desconhecida. – Reprodução: http://fotosantigasbarbacena.blogspot.com/

 

“Dois dos escoteiros feridos, depois de receberem socorro em Barbacena”
Reprodução: Jornal “A Noite de 20 de dezembro de 1939.

 

 

Chegava no dia 20, trens com alguns passageiros e feridos no N-2 na cidade do Rio de Janeiro, onde eram aguardados durante todo o dia por amigos e familiares, sem saber, no entanto, quem estaria no trem. Como as informações eram precárias, muitas vezes, eram recebidas informações erradas sobre as vítimas, aumentando ainda mais, o desespero daqueles que aguardavam notícias.

O Trem N-1 chegando em Belo Horizonte, foi recebido por uma multidão. Havia muita tristeza e choro, principalmente pelos familiares dos escoteiros caídos na tragédia. O escoteiro Caio Vianna Martins foi sepultado no mesmo dia de sua chegada, no cemitério de Bonfim, em Belo Horizonte, juntamente com seus amigos; escoteiro Gerson Hissa Satuf e do Lobinho Hélio Marcos de Almeida Santos.

As atitudes poderiam ter passado desapercebido se não fosse o testemunho dos sobreviventes e equipes de resgate, que observavam Caio, a todo instante prestando ajuda, mesmo sentindo dores, além de ter cedido seu lugar no transporte para outra pessoa, salvando possivelmente, outro ferido. As testemunhas impressionadas com tais ações dele e dos demais escoteiros no socorro aos feridos, foi levado e ressaltado nos jornais o que tinham presenciado. Tal notícia excitou os sentimentos nacionalistas que estavam enaltecidos à época. O Brasil estava próximo da Segunda Guerra Mundial e relatos de demonstrações de coragem acabara sendo um incentivo para o povo e para a mídia, principalmente, vindo por um menino.

Elegia-se, assim, Caio Vianna Martins como o escoteiro padrão, símbolo do Brasil.

O gesto altruísta de Caio se tornou icônico, tornando-se um exemplo a ser seguido por todos, independente de pertencerem ou não ao movimento escoteiro. Ele, independente de suas dificuldades e todo o terror do ambiente, colocou a vida do próximo à frente da sua.

Seus pais, apesar da dor da perda; ficaram orgulhosos dos feitos de seu filho. Muitos dos sobreviventes, foram pessoalmente agradecer as atitudes de Caio, diante ao acidente, ressaltando sua dedicação e cuidado para com todos naquele momento de dor, cedendo sua ajuda ao próximo, mesmo ferido.

Caio Martins recebeu várias homenagens ao longo dos anos, além de condecorações post mortem, por seu ato de bravura e por ser um exemplo a ser seguido. Podendo ressaltar alguns locais que levam seu nome em homenagem:

Em 1941, em Niterói/ RJ, o Governo do Estado inaugurou uma grande praça de esportes e um estádio, denominado, Estádio Caio Martins, em homenagem ao jovem. Hoje, tal estádio é apelidado de Caio Martins – Mestre Ziza, onde lá existe ainda, uma estátua; uma avenida em sua cidade natal (Matozinhos/MG); Uma praça em Belford Roxo/ RJ; Grupos Escoteiros do Brasil; uma Fundação mineira, denominada Fundação Educacional Caio Martins (FUCAM); além de logradouros espalhados pelo país.

Inauguração do Complexo Esportivo Caio Martins. Reprodução: Escoteiro do Mar – nº 24 – SET_OUT 1941.

 

Há ainda, monumentos em sua homenagem, como os localizados em Juiz de Fora/MG, erguido em 1944, no parque central (Parque Halfeld), doado pelo Grupo Escoteiro Caiuás com apoio do Instituto Granbery; uma estátua na praça dos Escoteiros em Belém/ PA; e Barbacena, cidade do falecimento de Caio, foi erguido em 1988, em homenagem aos 50 anos do acidente da Mantiqueira, um monumento com seu busto na Praça dos Andradas no centro da cidade.

Monumento em Juiz de Fora/MG – Reprodução: efemeridesescoteiras
Monumento em Barbacena/MG – Foto: Fabrício Robson de Oliveira – JAN 2022

 

O maior reconhecimento foi instituído solenemente no dia 17 de setembro de 2012, onde seu nome foi inserido no “Livro de Aço”, também chamado “Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria”, o qual lhe confere o status de herói nacional. Atualmente, estão escritos em tal livro 50 nomes. O livro fica localizado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, que é um memorial cívico destinado a homenagear heróis e heroínas nacionais que, de algum modo, serviram para o engrandecimento da nação brasileira.

O Painel da Inconfidência Mineira e o Livro de Aço ao centro do Salão Negro.
Foto: Centro Cultural Três Poderes.

 

Há ainda medalhas, hino, alguns livros em sua homenagem, destacando o livro com o poema “A morte do Escoteiro Caio” de 1951, escrito pelo conceituado Agripa Vasconcelos.

O livro “Caio Vianna Martins – O escoteiro caminho com as próprias pernas” de autoria de Ignácio Vilomar Castañón de Mattos, lançado em 2019, é uma obra composta por uma coletânea de dados e informações, que conta toda a curta trajetória de Caio, sendo recomendado sua leitura para conhecer ainda mais a sua história.

 

Capa do Livro “A morte do Escoteiro Caio”. Autoria de Agripa Vasconcelos de 1951.
Capa do livro: “Caio Vianna Martins – O escoteiro caminho com as próprias pernas”; autoria de Ignácio Vilomar Castañón de Mattos de 2019.

 

Um monumento que se faz destacar é o “Memorial Caio Vianna Martins”[1]. Em 1959 a Estrada de Ferro do Brasil, ergueu um pequeno monumento no local da tragédia, em homenagem a vítimas e familiares das vítimas do fatídico acidente, ficando marcado também, a lembrança do Escoteiro Padrão. Durante alguns anos, o monumento era constantemente visitado e divulgado na mídia, porém, com o passar dos anos, o local caiu no esquecimento, ficando sem visitação e manutenção, “desaparecendo” em meio ao mato que o cercara.

Em 2018, o Grupo de Escoteiro 160 MG Guardiões da Mantiqueira, de Barbacena/MG, representada pelo seu chefe Giovani Tarcísio de Souza, sua esposa e demais membros, aspiraram realizar as comemorações dos 80 anos da tragédia; resolveu-se reavivar a memória do acidente nos trilhos da Mantiqueira. Em conjunto com o Grupo de Escoteiro 072 MG de Juiz de Fora/MG, com apoio de pessoas que moravam próximas à Estação João Ayres e com a ajuda do então Secretário de Cultura de Antônio Carlos, Sr. Clóvis Ferreira de Andrade, foi localizado o local exato do acidente e realizado visitas próximas ao Memorial, observou-se que tal local estava abandonado, e assim, em 2019, os grupos de escoteiros da Região Escoteira de Minas Gerais, do Grupo Escoteiro 072/MG Liz do Amanhã e 160/MG Guardião da Mantiqueira conclui-se a obra no dia 25 de julho de 2019

Sua reinauguração foi realizada em 14 de dezembro de 2019; 81 anos após o acidente; com a presença de alguns parentes do Caio Martins, escoteiros de todo o país e autoridades diversas. Com tal restruturação, retomou-se a homenagem em memória daqueles que de alguma forma fizeram parte da tragédia nos trilhos da Mantiqueira. Já no dia 16 de dezembro do mesmo ano, por meio do Legislativo do Município de Antônio Carlos (Antiga Sítio); foi instituído o Dia Cultural do Escoteiro Carlos Vianna Martins, sendo assim, todo dia 19 de dezembro deverá acontecer uma atividade cultural no local do acidente, na localidade Parada Araújo, situada naquele município, para relembrar as atitudes de altruísmo e amor ao próximo realizadas por Caio.

Memorial no local do acidente (Fotos: https://www.facebook.com/escoteirocaioviannamartins/)

 

Infelizmente, este acontecimento e herói brasileiro é desconhecido por grande parte a população, mesmo àqueles que residem nas cidades no entorno do desastre. Caio muitas vezes é confundido como um ex-jogador de futebol, devido ao estádio em sua homenagem. Tal história é ao mesmo tempo impressionante, como impactante. O desastre emoldurado pelo frio da Serra da Mantiqueira deixou sua marca. Foram mais de 40 mortos (estima-se 45), além da estimativa de cerca de 70 feridos. Foi considerado à época, o maior acidente ferroviário da história, devido ao número de vidas perdidas. Mobilizou e emocionou toda uma cidade, Barbacena/MG, além das cidades entorno que apoiaram no socorro. Dezenas de pessoas em busca de informações sobre seus entes queridos, lembre-se, era 1938, onde a comunicação era extremamente precária. Em meio ao desastre, ressaltou o altruísmo de um jovem de 15 anos, que colocou a vida do próximo, à frente da sua. Equipes de saúde e socorro empenhadas em meio ao caos ocorrido em uma cidade que acordara com a notícia de um terrível acidente próximo. A cena de caixões sendo construídos em plena rua a luz do dia, cadáveres expostos na igreja devido a superlotação de local apropriado. Não nega-se que foi um dia de certa forma sombrio em nossa história; mas, com uma grande lição deixada pelo nosso jovem herói nacional.

Foi observado a precariedade que era conduzido a logística de tráfego ferroviário, bem como o risco do transporte em vagões de madeira, em caso de acidente (já estava começando o emprego de carros de aço nas composições). Tal desastre serviu de lição também, para a maior implementação de segurança no transporte ferroviário de passageiros. Este não foi o primeiro e nem o último desastre ocorrido na ferrovia, mas, com o passar dos anos, o transporte ferroviário foi se tornando mais seguro e moderno até chegar o que conhecemos hoje; lembrando que a melhoria contínua é constante para sempre ter aumento da segurança, não só nas ferrovias, mas nos diversos meios. Infelizmente, o transporte de passageiros por meio de trilhos no Brasil é escasso, trazendo ainda mais, o saudosismo de tal transporte, principalmente quando vemos as “Marias Fumaças” em algumas cidades turísticas.

Caio Vianna Martins é visto como um exemplo e ainda continua inspirando jovens escoteiros, mas tal exemplo, deveria ser repassado e aprendido por toda a população brasileira, especialmente, aos cidadãos das cidades que de certa forma foram afetas por tal tragédia, para que a história do Desastre nos trilhos da Mantiqueira e o nascimento de um Herói Nacional – Caio Vianna Martins não se esvaiam com o tempo.

Que nossa história nunca fique esquecida e que as gerações do presente e futuro, possam entender a importância e o reflexo dos acontecimentos passados em nossa sociedade atual, bem como, as ações do presente e seus impactos no futuro.

No próximo texto (texto 4) – (fevereiro de 2022), vamos relembrar a história do maior acidente radiológico do mundo, que ocorreu aqui, no Brasil.

 

Extra 01: Segue algumas fotos das primeiras páginas dos jornais que abordavam a tragédia nos trilhos da Serra da Mantiqueira. Tais edições divulgavam a fundo relatos e os nomes dos feridos e mortos a medida que as informações chegavam à redação.

Capa dos jornais: A Noite; Correio da Manhã e A Gazeta.
Fonte: Biblioteca Nacional Digital Brasil – Fundação Biblioteca Nacional – Hemeroteca Digital Brasileira

 

 

Extra 02: Houve diversos acidentes, descarrilamento, choques e vários infortúnios em toda a história ferroviária nacional, e não poderia ser diferente na região circunvizinha à Barbacena. Tomo por curiosidade e conhecimento, três acontecimentos; O primeiro acidente com vítimas do trem Vera Cruz; tombamento do Rápido Mineiro e a explosão de uma caldeira.

 

Carandaí/ MG – Estação de Ilídio: 21 de setembro de 1976. A 01:00, no Km 425 entre Barbacena e Carandaí, ocorreu o primeiro acidente com vítimas com o luxuoso trem de passageiros denominado “Vera Cruz”; que começou a circular em 1952, ficando paralisado por cerca de 1 ano entre os anos de 1974 e 1975, devido a remodelagem da ferrovia para maior segurança. (O Vera Cruz circulou de 1952 a 1990). O Trem Vera Cruz era composto por 2 carros dormitórios, 1 carro restaurante, 1 carro poltronas e 1 carro bagageiro; que fazia o percurso BH ao RJ, estava com 102 passageiros e 12 funcionários a bordo, veio a se chocar com o Trem de Cargas KEW-235, composta por 3 máquinas de tração e 65 vagões de minério vazios. No Desvio de Ilídio, 400 metros depois do Km 425, o cargueiro deveria aguardar a passagem do Vera Cruz na linha auxiliar, porém, avançou o sinal e ocorrera o choque. Com o choque, as máquinas dos 2 trens ficaram danificadas e no Vera Cruz, o carro poltronas e o carro restaurante foram arrancados dos trilhos, ficando sobre um barranco de 2 metros de altura, ao lado da linha. Os carros dormitórios nada sofreram. No cargueiro, engavetaram-se 16 vagões no meio da composição, empilhando-os, fazendo que as linhas de comunicação fossem rompidas. O resgate chegou às 03:00 e a maioria dos feridos foram conduzidas para o hospital Policlínica em Barbacena, onde já aguardava as vítimas, 10 médicos e 16 enfermeiros. Muitas das vítimas estavam com traumatismo craniano, tórax e pernas. O desastre matou 07 pessoas e feriu mais de 25. A linha foi liberada após 38 horas de trabalhos de remoção.[1] Apesar da comoção e gravidade, o fato foi muito pouco noticiado pela mídia naquele momento.

 

Alfredo Vasconcelos/ MG: Às 04:20 da madrugada do dia 25 e setembro de 1939, o Trem Noturno Mineiro, N-1, composto pela Locomotiva 376, 1 carro correio, 1 carro de bagagens, 1 carro de segunda classe, 2 de primeira classe, carro restaurante e 3 carros dormitórios; próximo à entrada da Estação de Alfredo Vasconcellos, no Km 390; a composição ao passar a chave após uma ponte (Arcos atuais próximo à entrada da cidade), a máquina e o carro bagagem seguiram percurso, enquanto as demais composições entraram no desvio da linha que terminava em uma pedreira. Devido o desvio ser em nível superior, tombaram a margem esquerda do rio o carro correio, o de segunda classe e 1 de primeira classe. Os passageiros em sua maioria composta de mulheres e crianças, ficaram em pânico, devido ao tombamento no rio e pelas luzes dos carros terem se apagado; tentaram-se salvar pelas portas e janelas do N-1. Feriram-se levemente, 10 pessoas e após cerca de 8 horas após o acidente, a linha foi liberada.

Já em 13 de fevereiro de 1940, O R-2, descarrilhou sua locomotiva e os carros do correio e chefe de trem, ferindo 03 dos funcionários do trem.[2]

 

Barbacena/ MG – Estação Sanatório: Na madrugada do dia 03 de janeiro de 1942, no Km 386, entre as Estações de Sanatório e a ponte Vasconcelos, a caldeira da Locomotiva 821, que rebocava um trem de minério explodiu, causando a morte dos 3 ocupantes da Locomotiva.[3]

A ferrovia possui inúmeras histórias alegres, tristes, comoventes, chocantes. Transporta/ transportou amores, riquezas, esperanças, heróis. Ela faz parte da construção, de nossa história, de nossa identidade. Ela faz parte de nossa história.

 

 

Agradecimento:

 

  • Ao Sr. Ignácio Vilomar Castañón de Mattos (Chefe dos escoteiros Ignácio); por ter gentilmente me enviado sua obra com dedicatória e assinada; para uso de base de pesquisa sobre a vida de Caio Vianna Martins.

 

Referências:

 * Os relatos narrados foram retirados dos jornais da época, disponíveis em: Biblioteca Nacional Digital Brasil/ Fundação Biblioteca Nacional – Hemeroteca Digital Brasileira.

 

** Os detalhes da trajetória de Caio Vianna Martins foram retirados do livro Caio Vianna Martins: O escoteiro caminha com as próprias pernas. (VILOMAR CASTAÑÓN DE MATTOS, Ignácio. Caio Vianna Martins: O escoteiro caminha com as próprias pernas. 01. ed. Juiz de Fora/MG – Brasil: [s. n.], 2019. 69 p. v. 1) e do site Memorial Caio Vianna Martins (http://www.caioviannamartins.com.br/).

 

 

19 de dezembro – DIA CULTURAL DO ESCOTEIRO CAIO VIANNA MARTINS. Canal Prefeitura Municipal de Antônio Carlos: https://www.youtube.com/watch?v=pvNo3HyXpFI

1938 – Plano Rebelo: http://vfco.brazilia.jor.br/Planos-Ferroviarios/1838-Plano-Rebelo.shtml

A história de um herói escoteiro: Carlos Vianna Marins: https://gehm69.wordpress.com/2009/11/19/a-historia-de-um-heroi-escoteiro-caio-viana-martins/

Acidente de trem em João Ayres em 1938-Editado – Canal Virtual Trens: https://www.youtube.com/watch?v=z40peuKY_to

ACIDENTES FERROVIÁRIOS EM SANTOS DUMONT.O DESASTRE DO N2: http://deianarede.blogspot.com/2012/06/acidentes-ferroviarios-em-santos.html

Acidentes Ferroviários: https://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente_ferrovi%C3%A1rio#cite_note-14

Biblioteca Nacional Digital Brasil – Fundação Biblioteca Nacional – Hemeroteca Digital Brasileira (Jornais da época utilizados na pesquisa): http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx

Caio Martins: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caio_Martins

Caio Vianna Martins. Canal João do Carmo: https://www.youtube.com/watch?v=ZBm61U5e9S4

Caio Vianna Martins: https://txukahamae.com.br/caio-vianna-martins/

Caio Vianna Martins: https://gearventosdosul.wordpress.com/page/4/

EFCB MG Linha Centro: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_mg_linhacentro/efcb_linhadocentro_mg.htm

Escoteiros de Barbacena: http://www.escoteirosdebarbacena.com.br/

História pouco conhecida: http://www.debatesemrede.com.br/materia/3048/historia-pouco-conhecida

Joao Aires: http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_mg_linhacentro/joaoaires.htm

Memória histórica da Estrada de Ferro Central do Brasil: https://bd.camara.leg.br/bd/handle/bdcamara/22640

Memorial Caio Vianna Martins: http://www.caioviannamartins.com.br/

Noturno Mineiro – Um Noturno para Belo Horizonte: http://centraldobrasilnasminasgerais.blogspot.com/2011/01/12-noturno-mineiro-um-noturno-para-belo.html

O escoteiro Caio Martins (Entrevista com o sobrevivente escoteiro Romero Oswaldo Loures Machado). Canal Maria Paula Vasconcelos: https://www.youtube.com/watch?v=2pbVNVUaP7Q

Sons de trens e locomotivas: http://vfco.brazilia.jor.br/sons-de-trens-e-locomotivas.shtml

Um apito para cada situação: http://vfco.brazilia.jor.br/vapor/Locomotivas.Apito.shtml

VILOMAR CASTAÑÓN DE MATTOS, Ignácio. Caio Vianna Martins: O escoteiro caminha com as próprias pernas. 01. ed. Juiz de Fora/MG – Brasil: [s. n.], 2019. 69 p. v. 1.

[1] http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_mg_linhacentro/ilidio.htm

[2] http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_mg_linhacentro/alfvasconcelos.htm

[3] http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_mg_linhacentro/sanatorio.htm

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