O clima era para ser festivo, mas mesmo assim havia um quê fúnebre. Assim como toda quermesse típica daquela religiosidade. E é esta religiosidade que marca o imaginário citadino da municipalidade desde o Império. O atavismo se fez pelo barroco e os templos, rococó, denotando já a decadência do ouro.
O calendário civil seguia à risca o litúrgico. O ano começava sim depois do carnaval. Era quaresma: época da mula-sem-cabeça, outrora moçoilas que tentaram a concupiscência dos capuchinhos ou seminaristas, e tantas outras coisas do folclore e lendas da região. Vinha a “Semana Santa” e o jubileu de S. José Operário, que começava em 21 de abril trazendo a imagem de Tiradentes, o herói do estado em retrato sacrossanto pintado pela República à moda de Cristo. Seguia tantos outros feriados santos que fazia o povo e o estudante indolente.
Estas festas eram marcadas pelo frio e as matracas, matriarcas e maritacas da vida alheia nas procissões festivas fúnebres cheirando a incensos fedorentos. Um pouco de alegria era visto só por ocasião das festas natalinas e no maior feriado do município: o dia de sua padroeira.
E por mais festivo estas festas comemorativas fossem, além do cheiro do incenso, trazia o odor fúnebre de velas derretendo a luz melancólica de seu fogo.
Era a pedagogia religiosa do medo lembrando o medievalismo.
Naquele distante ano de 1981 foi o último que se presenciou seguindo este ritual do quinze de setembro regido por este clima ameaçador. A década de 80 traria todo um questionamento mudando costumes e hábitos. A cidade foi tomada pelos evangélicos, coreanos, e toda sorte de mudança que alteraria a estrutura e superestrutura da coletividade. O fim da Guerra Fria levou o pós-moderno à antiga Província “Mui Nobre e Leal”. Ela não foi tão mais fiel assim ao Império e aos seus Padres responsáveis pelo conservadorismo. Até o Tiradentes republicano perdeu a barba nos brasões de sua polícia: agora é retratado como um rapaz imberbe e não como mais um hippie revolucionário.
E a Santa Padroeira não vai mais sendo arrastada no andor levada nas costas dos fiéis ao som de ladainhas e lamentos. Agora ela vai num utilitário enfeitado por balões azuis e brancos atravancando o trânsito de trabalhadores e estudantes que querem chegar aos seus destinos. As matracas cederam lugar aos buzinaços dos carros. As matriarcas beatas com seus véus cederam lugar às velhas senhoras com bíblias nas mãos. Só não mudou as línguas das maritacas que não cansam de bisbilhotar a vida alheia através das fotos das redes sociais e hipócritas e falsos comentários nas fotos que soa tão falso:
– Linda!
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 14/09/2018
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NOTA DA REDAÇÃO: Leonardo Lisbôa é professor da rede pública de ensino de Minas Gerais. Fez sua especialização em História na UFJF e seu mestrado em psicopedagogia na Universidade de Havana, Cuba. Publica textos também no sítio www.recantodasletras.com.br onde mantém duas escrivaninhas (Perfis): o primeiro utilizando o próprio nome ‘Leonardo Lisbôa’ e o segundo o de ‘Poesia na Adega’. Registro no CNPq: http://lattes.cnpq.br/0006521238764228