Em meio a debates ferrenhos, opiniões contrárias, indecisões, falta de planejamento e logística e, até mesmo medo, a verdade é que muita coisa precisa ser levada em consideração para esta tomada de decisão.
1) É possível a volta às aulas durante esta pandemia?
Voltar às aulas é tudo aquilo que todo mundo deseja e que nossos estudantes precisam! Os danos são reais e incalculáveis. Contudo, toda situação possui prós e contras. Voltar é necessário. Mas voltar em quais condições? Os protocolos divulgados pelos órgãos de Saúde e Biossegurança procuram consonância entre o necessário, o possível e o permitido.
Necessário porque todo o sistema (seja educacional, de saúde, econômico e etc.) sofre com as sanções de fechamento e isolamento; possível porque medidas de segurança precisam ser estabelecidas e SEGUIDAS para que seja viável o retorno; e permitido porque nem tudo será permitido devido a todas as especificidades que temos e que não são facilmente compreendidas pela maioria.
Possível retornar é, mas precisamos avaliar muitas variáveis. Nem sempre quere é poder. A exemplo de outros países, mais organizados que o nosso, que decidiram pelo retorno às aulas e precisaram voltar para o regime remoto, precisamos compreender que o Brasil, grande e desigual como é, precisa ir com calma, com lógica, com bom senso.
Aqueles que puderem e quiserem voltar precisarão aumentar os cuidados por conta do círculo familiar e possíveis grupos de risco. Ainda muito pouco se sabe sobre a ação do Covid-19 sobre as crianças, mas certamente o saberemos daqui a pouco e desejo, sinceramente, que não seja de forma preocupante ou até mesmo trágica e catastrófica.
2) Todas as escolas poderão e conseguirão voltar às aulas presenciais?
De acordo com as normativas que vêm sendo estabelecidas, o retorno, quando acontecer, deverá ser cauteloso e crescente. Não voltaremos todos, ao mesmo tempo. Os protocolos vigentes e aqueles ainda em elaboração têm buscado encontrar uma ordem no meio deste caos. Não serão obrigatório a adesão e o retorno às escolas, neste momento. Mas precisaremos expandir os cuidados para além da escola, uma vez que as crianças transitarão.
São preocupantes as questões referentes ao distanciamento sabendo que existem escolas que ocupam casas e adaptações, que nem todas conseguem criar um sistema de higienização eficiente, que nem todas as crianças entendem a necessidade do uso de máscaras e do distanciamento social, que não poderão ter aproximações esperadas e também necessárias para seu desenvolvimento e uma infinidade de outros pontos.
Neste sentido, desejo que a fiscalização seja realmente rígida, em tudo e para todos! SE queremos voltar, que o façamos com segurança e sabendo que o processo pode ser interrompido caso a situação fique sem controle, tal como já acontece em alguns lugares do Brasil e do mundo.
3) Como devemos proceder neste momento de discussões acirradas quanto ao retorno das aulas presenciais?
Acredito que em primeiro lugar devamos manter o bom senso. O isolamento social mexeu tanto com todo mundo que as pessoas têm tido posturas e comportamentos agressivos, antiéticos, desprezíveis e também perigosos. Algumas pessoas decidem criticar com base em informações unilaterais, partidárias.
Algumas pessoas ignoram tudo aquilo que vivemos há um ano: neste 1 ano, MUITA gente tem trabalhado exaustivamente para o bem comum, embora haja aqueles que trabalhem contra a maioria. Os cientistas nunca trabalharam tanto. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e uma infinidade de profissionais da saúde permanecem esgotados na linha de frente.
Mas bom senso tem faltado em muitas instâncias.
Se considerarmos a extensão territorial brasileira veremos que existem lugares que as primeiras orientações mal foram estabelecidas! Se considerarmos a desigualdade social veremos que a mesma se manterá indefinidamente! Usar ou não máscara bate de frente com a necessidade de comida e remédios que grande parte da nossa população vive: todos os itens são de sobrevivência. Ou vamos continuar de olhos fechados para a miséria que se alastra no país, diante de nossos olhos? Para muitos, a escola é local de sobrevivência. Mas todos esses lugares conseguirão receber essas crianças? Sob quais condições?
E nossos professores? Como ficam nossos professores? Além de psicóloga, sou também professora e conheço bem a realidade de uma sala de aula, independentemente se for na Educação Infantil ou no Ensino Superior. Existem salas de aulas nos em todos os níveis de escolaridade que possuem condições nulas de comportar e receber seus alunos.
Para as situações precárias temos os professores de alma, que fazem de tudo para propiciar dignidade aos seus alunos, mesmo que isso signifique compartilhar seu já mísero salário. E para essas situações, o professor também precisará contribuir para além do que ele já faz, ou ainda acreditaremos que todos os brasileiros possuem os itens básicos e individuais de segurança para o COVID-19? A discussão deveria ser em prol do bem-estar de todos e não sobre partidarismos.
Os dois lados da moeda deveriam encontrar um consenso e respeitar a opinião e decisão do outro, ao invés de criar discussões inúteis e desnecessárias. Perdemos um precioso tempo no atendo a decisões que não nos cabem. Podemos opinar. Mas a decisão cabe àqueles que, com mais informações e formação do que nós, podem opinar em prol de todos.
Infelizmente nem sempre encontramos posturas sensatas nos dois lados. Mas não é possível que todos nós não tenhamos aprendido alguma coisa com esta pandemia. Nem que seja o respeito à opinião do outro e à necessidade de cuidar do outro a partir de nós mesmos.
Nunca sentimos tanta falta da empatia, aquela que não se encontra em prateleiras, mas que deve fazer parte da construção da pessoa, mesmo porque somos todos, aparentemente, iguais e sujeitos aparentemente, às mesmas leis.
Sendo assim, sugiro que ouçamos e examinemos mais a situação; que opinemos com seriedade, compromisso, propósito e respeito; que deixemos a solução desta complexa questão a quem de direito; e que acatemos a decisão que for tomada com responsabilidade sobre nós e sobre os outros.
NOTA DA REDAÇÃO: Valeska Magierek é Psicóloga e Neuropsicóloga; atua há mais de 20 anos na área de Psicologia Infantil e Neuropsicologia; trabalha no Centro AMA de Desenvolvimento em Barbacena.