Por Francisco Santana
Caminho sempre às margens do córrego da avenida sanitária. A água é poluída e exala um mau cheiro. Há dias um caminhão parou na encosta e dele desceram dois homens que tiraram vários sacos de lixo, os jogando no córrego. A cena me fez chamar a atenção deles ao dizer que, o que estavam fazendo era um ato irresponsável porque estavam contribuindo para o entupimento de bueiros e dificultando as águas de se escoarem. Um deles olhou para mim e sarcasticamente me disse:
– FODA-SE! O problema é do prefeito e da secretaria de obras e não meu. Sinta a fedentina dessa água! Isso é um perigo para nossa saúde e um péssimo cartão de visitas para os que vem conhecer nossa Barbacena.
E o homem muito irritado não parava de falar.
– O senhor é de Barbacena?
– Sim! Sou barbacenense.
– Então já sabe como a nossa cidade fica com a intensidade das chuvas. As regiões mais alagadas todos já conhecem e não é possível que o Executivo e Legislativo não conheçam. Transitar pelos locais é um perigo constante. A cena e os estragos são os mesmos há tempos. Dirigir é um ato perigoso. Nesta área temos hospital, clínicas médicas e odontológicas, farmácias, academias de ginástica, Corpo de Bombeiros, padarias, supermercado, escolas e muitos habitantes. O prefeito, secretariado e vereadores precisavam visitar o local nessas épocas para conhecerem os problemas. Nessas horas, Executivo e Legislativo deveriam esquecer suas ideologias partidárias e todos unidos salvar Barbacena. Indigna-me ver vocês caminharem nesse trajeto. Os pulmões de vocês devem reclamar ao inalarem esse mau cheiro oriundo dos esgotos. Tem tantos lugares bons para caminhar e vocês preferem esse aqui. Os otorrinolaringologistas agradecem. Desculpe-me o desabafo. Se chover durante uma semana, Barbacena será destruída. O senhor chamou a minha atenção por jogar lixos no córrego, concordo que errei. O senhor poderia convocar essa turma da caminhadas e fazer um protesto contra a administração do prefeito e dos vereadores que nada fazem para solucionar os problemas da cidade. Na rua que eu moro tem vários terrenos baldios com muitos lixos e matagal que chega a mais de dois metros de altura. Os moradores têm reclamado do aparecimento de caramujos, cobras, aranhas, sapos, gambás, baratas, carrapatos, formigas e até escorpião. A prefeitura está sabendo! Bom dia para o senhor e ótima caminhada. Agora vou enfrentar estradas rurais que necessitam de manutenções urgentes.
Continuei minha caminhada pensativo. O seu gesto de jogar lixo no córrego foi abominável, incorreto onde lhe faltou educação e cidadania. Muita coisa que ele falou merece reflexão. Nenhuma autoridade poderá dizer que desconhece os problemas da cidade em tempos de chuvas e seca. Nos idos anos 1513 o filósofo Maquiavel já dizia que um bom governante deve conhecer a natureza dos locais de sua jurisdição, como nascem os montes, como afundam os vales, como jazem as planícies e assim, conhecerá toda a região dando a ela os melhores cuidados e como defendê-la contra as intempéries. Pelo conhecimento e prática, reconhecerá qualquer outra, que lhe seja necessário especular com grande facilidade. Discutem-se tecnicamente no calor das lágrimas e tragédias, quando essas lágrimas secarem, tudo cai na mesmice. É de bom alvitre que os governantes passeiem por toda região listando a topografia ambiental e conversem com a população para conhecer suas dificuldades e atender suas necessidades. Agindo assim evitar-se-á o grande número de mortes anunciadas.
Ele falou sobre um tema importantíssimo: cobrança das autoridades. Sim! Cobranças pacíficas, diálogos entre as autoridades e clubes de serviços, sindicatos e instituições onde todos exercerão a vigia, colocando a sociedade a par do que eles fazem e do que podem fazer. Precisamos olhar com mais atenção e cobrar atitudes, mesmo sendo eles eleitos pelo povo que lhe passou uma procuração para agir em nome dele. Termino esse tema com um parecer de Mahatma Ghandi:
“Você nunca sabe que resultados virão da sua ação, mas se você não fizer nada, não existirão resultados”
(Fonte: Internet/Livro “O Príncipe”/“Sol de Primavera” Beto Guedes”).