A importância das mulheres na ciência e seus desafios no universo da pesquisa

Por Vitória Oliveira, membro do Centro de Estudos em Ecologia Urbana do IF Sudeste Barbacena e graduanda em Ciências Biológicas, sob orientação do professor Delton Mendes.

Em abril deste ano foi divulgada pela primeira vez na história a fotografia do horizonte de eventos de um buraco negro (da galáxia M87). Essa imagem é resultado do trabalho do Event Horizont Telescope e, em especial, do algoritmo criado pela cientista Katie Bouman. Tratando-se de uma sociedade patriarcal, em que mulheres não estão em equidade de direitos com os homens, conquistas como essa devem ser celebradas por todas as mulheres.

Obviamente, Katie não foi a primeira mulher das ciências a fazer descobertas importantes para a humanidade, tendo-se em vista que isso tem ocorrido desde civilizações antigas, como a egípcia e a grega. Entretanto, as contribuições femininas foram, por muitas vezes, ofuscadas ou apagadas da história, sobretudo em decorrência do preconceito enfrentado pelas mulheres cientistas. O próprio Charles Darwin, quando questionado por uma pesquisadora contemporânea à sua época sobre a capacidade intelectual de homens e mulheres, respondeu: “Eu certamente penso que, embora as mulheres sejam moralmente superiores aos homens, elas são inferiores intelectualmente”. Esse pensamento prevaleceu com o passar dos anos e fica evidente ao analisarmos diversos aspectos. O primeiro deles está relacionado ao estereótipo de pessoas que trabalham com ciência. Estudos mostraram que, ao pedir crianças para desenharem cientistas, foram representados, na maioria das vezes, homens, de cabelos brancos desgrenhados, óculos redondos e jaleco branco. Outros aspectos importantes a serem considerados, são os números.  Eles mostram que, de 900 premiados do Prêmio Nobel, apenas 50 foram mulheres, evidenciando que esse gênero ainda é sub-representado na ciência, principalmente em áreas mais complexas. Tudo isso também permite perceber que essa participação diminuta é apenas uma questão de escolha.

Cientistas surgem, principalmente, de processos educativos estimulantes e questionadores e, ao analisarmos o modelo no qual estamos mundialmente inseridos, fica evidente que meninos são sempre motivados a serem corajosos e autoconfiantes, enquanto as meninas, cautelosas e tímidas. Outro fator crucial com relação a esse processo é o fato de que grandes universidades do mundo só passaram a receber mulheres como alunas a partir do século XX. No Brasil, a situação é melhor: cerca de 50% de todo material científico nacional é produzido por mulheres. Isso não significa, todavia, que há uma representatividade feminina efetiva, já que mesmo inseridas na academia, ainda há enorme discrepância de oportunidades comparando-se com homens. Outro exemplo, relativo ao universo da ciência, é que pesquisadoras são submetidas a processos avaliativos criados por homens, sem levar em consideração suas peculiaridades (como a gravidez/maternidade); se pensarmos também em altos cargos em instituições científicas conceituadas, como a CNPQ, o número de mulheres presentes ainda é inexpressivo.

Por tudo isso, ainda que as mulheres tenham conquistado importante espaço na sociedade, ainda são lançadas às margens do ambiente científico.  Ciência e educação são bases elementares para qualquer sociedade e, sendo assim, ter ainda tamanha desigualdade de acesso por mulheres é um grave problema, que precisa ser discutido e combatido constantemente. Julgar que mulheres são intelectualmente menos capazes, além de falta de bom senso , não tem nenhum embasamento científico.

Apoio divulgação científica: Samara Autopeças

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