A copa do equilíbrio

A opinião de Francisco Ladeira

No último domingo (15/7), com o bicampeonato da seleção francesa, tivemos o encerramento da 21ª Copa do Mundo FIFA, realizada na Rússia. Apesar de não ter sido tão empolgante quanto a edição anterior (a chamada “Copa das Copas”, realizada no Brasil, em 2014); o mundial deste ano nos trouxe algumas reflexões sobre os acontecimentos extracampo, surpresas dentro das quatro linhas e novidades, como o árbitro de vídeo (VAR, na sigla em inglês), que minimizou (porém não eliminou) os erros de arbitragem. Pela primeira vez em sua história quase centenária, a Copa do Mundo não contou com nenhuma das principais seleções – Alemanha, Argentina, Brasil e Itália – entre as quatro primeiras colocadas. A tetracampeã Azzurra sequer foi à Rússia. Enquanto os alemães esbarraram no chamado “salto alto”; a Argentina, apesar de contar com Lionel Messi em seu elenco, se mostrou um time extremamente nervoso e sem padrão tático. Já para alguns jogadores da seleção brasileira, modificar o corte de cabelo, fazer propaganda de celular e fast food ou atualizar o perfil nas redes sociais foram questões mais importantes do que propriamente o desempenho dentro de campo.

Se o mundial da Rússia pudesse ser definido em uma palavra apenas, provavelmente essa palavra seria “equilíbrio”. Ao contrário do Brasil na Copa de 1970, da Argentina de Diego Maradona, em 1986, ou mesmo da Alemanha no último mundial, não houve uma seleção muito superior às demais. Seria precipitado falar em uma “nova ordem futebolística”, mas questões que em outras épocas eram decisivas – como tradição, peso da camisa ou contar com os melhores jogadores do planeta –, já não são mais suficientes para se conquistar a cobiçada taça de campeão mundial.

A Argentina sofreu para empatar com a estreante Islândia; a todo-poderosa seleção alemã perdeu para a fraca Coreia do Sul e a Espanha foi eliminada pela Rússia que, apesar de ser a anfitriã, está longe de ser uma potência do futebol. Não obstante, antes da partida entre Brasil e Bélgica, muitos comentaristas da imprensa brasileira e usuários das redes sociais subestimaram e questionaram o desempenho da chamada “geração belga”, afirmando se tratar de propaganda da mídia europeia ou que era um “time de videogame”. O resultado veio em campo com a classificação belga para as semifinais. Como diria um famoso truísmo esportivo: “não há mais bobo no futebol”.            Apesar das surpresas, algumas coisas parecem não mudar em copas: o México “jogou como nunca, perdeu como sempre”, a seleção japonesa (mesmo com o bom senso tático) ainda é muito inocente (a ponto de levar uma virada histórica da Bélgica nas oitavas de final) e a Colômbia continua fraquejando em momentos decisivos.

Com o fim da Copa do Mundo é bastante provável que o centro das atenções da agenda pública nacional agora se volte para as eleições presidenciais de outubro. E, ao que tudo indica, esta “disputa”, devido ao contexto político-econômico extremamente atribulado pelo qual atravessamos, deverá ser tão imprevisível e aberta como foi a Copa do Mundo da Rússia.

NOTA DA REDAÇÃO – Francisco Fernandes Ladeira é mestre em Geografia e autor (em parceria com Vicente de Paula Leão) do livro A influência dos discursos geopolíticos da mídia no ensino de Geografia: práticas pedagógicas e imaginários discentes, publicado pela editora CRV. E-mail: [email protected]

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